Aumento da passagem de ônibus pode afundar Bolsonaro de vez

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Foto: Pollyane Lima e Silva/VEJA

Faltam 25 dias para 2021 acabar. Nada foi feito, até agora, e Jair Bolsonaro não pode dizer que não sabia do problema, que afeta diretamente o bolso, a vida e o humor de cerca de 170 milhões de pessoas dependentes dos serviços de ônibus.

Prefeitos, deputados e senadores alertaram o Palácio do Planalto, nos últimos dois meses, sobre um aumento de 10% a 13% nos preços das passagens de ônibus urbanos a partir da primeira quinzena de janeiro.

É reajuste de 60 centavos, na média das capitais. Não é pouco em cidades onde o custo do transporte consome cerca de 20% da renda média individual, que mal alcança R$ 1 mil por mês.

Em São Paulo, por exemplo, o preço saltaria de R$ 4,40 para R$ 5,00, se aplicado o reajuste previsto de 13%.

O último aumento foi de 2,3%. Aconteceu em janeiro do ano passado, antes da pandemia, quando a passagem passou de R$ 4,30 para R$ 4,40.

Os preços são extorsivos não somente pelo poder de compra deteriorado da clientela urbana, mas também pela sofrível qualidade do serviço de ônibus nas maiores cidades.

Transporte coletivo urbano se tornou um problema “insolúvel” na confluência dos interesses empresariais com os político-partidários. Uma boa síntese desse padrão de relacionamentos encontra-se nos autos dos processos judiciais do ex-governador do Rio, Sergio Cabral.

Desta vez, porém, há um fato relevante, fora do controle das empresas de ônibus e das prefeituras: o preço do diesel subiu 65,3% nas refinarias, entre janeiro e outubro.

Pelas planilhas apresentadas em Brasília, o óleo representa 20% do custo operacional de uma empresa de ônibus.

Prefeitos têm sugerido uma intervenção emergencial do governo federal com alguma forma de subsídio, nas tarifas ou nas compras de combustível.

Bolsonaro se preocupou com o impacto da alta diesel nos custos das empresas transportadoras e dos caminhoneiros autônomos, que apoiaram sua eleição em 2018, mas tem se esquivado do problema das prefeituras com os ônibus urbanos. Repete o bordão da inexistência de “espaço fiscal”.

Despesa desse tipo equivaleria a 20% do volume de dinheiro que foi gasto no orçamento paralelo nos últimos 22 meses, sem transparência, apenas para garantir apoio aos projetos do governo no Congresso.

Custo de transporte tem peso específico na rotina da população urbana e. também, na inflação, que avança de forma persistente e disseminada por toda a economia.

Em 2013, o descaso com transporte coletivo urbano levou a uma implosão política cujas consequências, aparentemente, ainda não terminaram e sequer foram integralmente compreendidas no governo, no Congresso e no Judiciário. Não há indício de que algo similar possa acontece, mas em 2013 também não havia.

O problema está na mesa do presidente-candidato, recordista em taxa de rejeição nas pesquisas. Tem potencial de atrapalhar a vida de 170 milhões, a maior parte sem dinheiro mas com título de eleitor no bolso. E faltam apenas 25 dias para o início de um novo ano eleitoral.

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