Bolsonaro foi parando de se reunir com Mourão ao longo do mandato

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Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

O presidente Jair Bolsonaro (PL) já disse que não quer repetir a chapa presidencial de 2018 nas eleições do próximo ano. O descontentamento com o atual vice, Hamilton Mourão (PRTB), ficou evidente não apenas nas declarações do chefe do Executivo federal, mas também na agenda pública do presidente.

Segundo levantamento do Metrópoles, os encontros entre Bolsonaro e Mourão diminuíram 85% desde o início do mandato, em 2019. Naquele ano, o presidente e o vice tiveram o maior número de reuniões durante o governo: foram oito agendas privadas e outras 27 conjuntas, com a presença de diferentes autoridades.

Em 2020, ano em que o presidente da República mais criticou seu vice e fez declarações no sentido contrário a Mourão, houve registro de três agendas particulares entre os dois — número menor do que a metade dos encontros registrados no ano anterior. Mourão participou de outras 18 agendas conjuntas, como reuniões ministeriais convocadas por Bolsonaro.

Neste ano, a quantidade de reuniões entre Bolsonaro e Mourão foi menor ainda: os dois se encontraram em apenas cinco oportunidades, sendo duas agendas privadas e três conjuntas. Neste ano também Jair Bolsonaro deixou claro que deve escolher outro nome para disputar uma eventual reeleição à Presidência em 2022.

Em 19 de dezembro deste ano, sinalizando um recuo, o presidente Jair Bolsonaro disse que Hamilton Mourão poderá ser escolhido em uma eventual chapa de reeleição em 2022. A afirmação, no entanto, é bem diferente das declarações feitas ao longo dos anos, quando o capitão reformado do Exército e o general tiveram várias posições diferentes — o que, segundo interlocutores, não agradou o chefe do Executivo.

Ainda em abril deste ano, quando Bolsonaro já dava os primeiros recados de que não daria continuidade à chapa em 2022, Mourão afirmou que o chefe do Executivo deveria escolher outro nome, mas que Bolsonaro ainda não havia o procurado para tratar do assunto.

“Bolsonaro vai escolher outra pessoa para acompanhá-lo para a reeleição. O que tenho visto [nas] declarações de Bolsonaro é que ele precisaria de outra pessoa no meu lugar, mas ele nunca disse isso para mim”, disse à época.

Na mais recente declaração sobre o assunto, Bolsonaro defendeu que o novo vice não pode “atrapalhar”. Em outra oportunidade, o chefe do Executivo federal disse que “vice bom é aquele que não aparece”.

“A gente não está pensando em ter uma chapa para ganhar a eleição e depois não poder governar. Isso é horrível, isso é péssimo. Ter um vice que te atrapalhe. Isso é horrível”, afirmou o presidente no início do mês.

Mourão foi a terceira opção do ex-capitão para ser seu companheiro de chapa. Inicialmente, Bolsonaro pensava em Janaína Paschoal — que acabaria sendo a deputada estadual mais votada do país, pelo PSL, em São Paulo — e o “príncipe” Luiz Philippe de Orleans Bragança — eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro.

A chapa foi eleita em 2018, mas a harmonia acabou rapidamente. A crise entre Bolsonaro e Mourão se arrasta desde o fim de janeiro de 2019, antes mesmo de terminar o primeiro mês do governo então recém-eleito.

Às 6h da manhã do dia 5 de agosto de 2018, o então candidato à presidência pelo Partido Social Liberal (PSL), Jair Bolsonaro, ligou para o general da reserva Hamilton Martins Mourão para oferecer a vaga de candidato a vice-presidente da República. Mourão já estava filiado ao Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB). A campanha foi feita sem estresse aparente entre os dois.

Empossados, tudo começou a mudar rapidamente. Em 22 de janeiro de 2019, o presidente foi às redes sociais alfinetar a imprensa, como tem feito com certa frequência desde então. Trinta e dois minutos depois, o vice-presidente fez questão de agradecer o empenho dos profissionais que diariamente o encontram no Palácio do Planalto, em Brasília. A postagem foi interpretada como clara forma de Mourão se distanciar da conduta de Bolsonaro.

Desentendimentos com Mourão
Em março do ano passado, no início da pandemia de coronavírus, Mourão disse que o isolamento social seria importante para o combate da crise sanitária, contrariando as crenças de Bolsonaro. No dia seguinte, o presidente afirmou, ainda em tom ameno:

“O presidente sou eu, pô. Os ministros seguem as minhas determinações. E o Mourão tem ajudado bastante, colaborado, dado opiniões, é uma pessoa que está do meu lado ali. É o reserva de vocês. Se eu empacotar aí, vocês vão ter que engolir o Mourão. É uma boa pessoa, podem ter certeza”.

Na mesma semana, durante uma entrevista, Bolsonaro subiu o tom e chamou Mourão de “tosco”.

“Com todo o respeito ao Mourão, [mas] ele é muito mais tosco do que eu. Não é porque é gaúcho, não. Alguns falam que eu sou até muito cordial perto do Mourão. Ele é o único que não é demissível no governo, então, pode ficar à vontade”, disse o presidente.

Em outra oportunidade, dessa vez em outubro de 2020, após Bolsonaro dizer que o Brasil não compraria a vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac, Mourão foi na contramão.

“Lógico que vai [comprar]”, respondeu o vice, afirmando que a polêmica sobre qual vacina adquirir se tratava apenas de uma “briga política” entre Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Também em 2020, em novembro, após o vazamento de um estudo do Conselho Nacional da Amazônia Legal, do qual Mourão é presidente, Bolsonaro ameaçou demitir quem apresentasse a ideia, “a não ser que essa pessoa seja indemissível”.

Ainda em novembro daquele ano, logo após o democrata Joe Biden vencer a disputa pela Casa Branca, Mourão comentou a demora de Bolsonaro em parabenizar o novo presidente dos Estados Unidos.

O vice disse que o presidente brasileiro estava aguardando terminar a discussão sobre “se tem voto falso ou não tem voto falso”. O chefe do Executivo não gostou e, mais uma vez, desautorizou o general.

“O que ele [Mourão] falou sobre os Estados Unidos é opinião dele. Eu nunca conversei com o Mourão sobre assuntos dos Estados Unidos, como não tenho falado sobre qualquer outro assunto com ele”, disparou Bolsonaro.

Em dezembro de 2020, o vice-presidente afirmou que vê influência de “intrigas palacianas” no relacionamento com o presidente Jair Bolsonaro. De acordo com Mourão, há assessores na Presidência que “distorcem os fatos”.

“Muitas vezes há incompreensão de parte dos assessores do próprio presidente. Que procuram distorcer fatos e levar uma outra realidade em relação às ações que eu tenho procurado realizar”, declarou o vice.

Para Mourão, nunca foi simples
Em agosto, o vice-presidente Hamilton Mourão conversou com o Metrópoles e disse que a relação entre ele e Bolsonaro “nunca foi simples”.

“Não é uma relação simples, né? Nunca foi, entre presidente e vice. Nós não somos os primeiros a vivermos esse tipo de problema, mas a gente sabe muito bem que ele conta com a minha lealdade acima de tudo, porque não abro mão dos valores que aprendi ao longo da minha vida — da lealdade, da honestidade, da integridade, da probidade. Então, ele pode ficar tranquilo sempre a meu respeito”, afirmou Mourão.

Metrópoles

 

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