Bolsonaro prioriza projetos ligados a evangélicos
Foto: Gabriela Biló/Estadão
A aprovação de André Mendonça como novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) é, como ele mesmo definiu, um “salto” para o projeto de ocupação dos poderes da República pelos evangélicos conservadores. Alçados à política ainda nos anos 1980, os evangélicos galgaram posições de relevo no Legislativo, onde chegaram ao comando da Câmara com o ex-deputado Eduardo Cunha, e no Executivo.
Embora o presidente Jair Bolsonaro seja católico, mergulhou literalmente na onda evangélica ao se batizar no Rio Jordão, em 2016. Nomeou ministros por filiação religiosa, fez pactos políticos com igrejas e garantiu ainda mais apoio dos líderes protestantes agora ao conseguir entregar a promessa de levar um nome “terrivelmente evangélico” à Corte. O segmento religioso é o mais resiliente no apoio a Bolsonaro, e pode lhe render mais dividendos eleitorais, apesar dos percalços do governo e da queda de popularidade.
Na véspera da aprovação pelo Senado, Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, cristã da Igreja Batista Atitude, abriram as portas do Palácio da Alvorada, residência oficial, para uma recepção. Era Dia do Evangélico. Mendonça discursou, pediu apoio e circulou entre pastores e rostos famosos no meio gospel, parlamentares e ministros.
Ele também chamou à mesa o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que protelou a sabatina de Mendonça ao máximo. O senador desejava outro perfil, mais garantista do que Mendonça, por blindagem da política. Alcolumbre, que precisa renovar seu mandato no ano que vem, colecionou mais um rival no STF, e entrou na mira dos líderes neopentecostais e pentecostais que militaram por Mendonça. Eles ameaçam retaliação nas urnas em 2022 — embora o voto secreto não permita identificar quem votou contra ou a favor. “Alcolumbre é mentiroso. Aguarde a resposta do povo cristão nas próximas eleições”, disse o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
Reverendo da Igreja Presbiteriana Esperança, em Brasília, Mendonça fez questão de mostrar que não é um protestante fundamenalista e fez concessões e acenos à oposição, medindo as palavras, em causas como o casamento gay e homofobia. A estratégia poderia lhe render apoios na esquerda, cujos núcleos cristãos pediam sua rejeição.
Cães de guarda da bancada da Bíblia, os deputados Marco Feliciano (PL-SP) e Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), acompanharam da sabatina à votação no plenário. Se conseguiram cravar a aprovação na CCJ, onde esperavam 18 votos a favor (o placar foi 18 a 9), os evangélicos se assustaram com o resultado no plenário, já temido pelo Palácio do Planalto. Esperavam 55 votos. Mas o placar foi de risco: 47 a 32, só seis votos acima do mínimo necessário. Para os pastores, um indicativo de que a oposição não colaborou. Mendonça foi o resultado mais baixo dos últimos anos, o único abaixo de 50 votos. Até então, a aprovação mais apertada havia sido a de Edson Fachin, indicado por Dilma Rousseff (PT) em 2015, por 52 votos a 27.
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