Bolsonaro sinaliza quebrar o país para se reeleger
Foto: Reprodução
Vai ser a eleição mais cara ao bolso dos brasileiros. Isso em meio a uma pandemia com mais de 617 mil mortos e uma crise econômica que já deixou 46 milhões sem renda do trabalho, segundo a contagem oficial de setembro feita pelo IPEA.
Ontem, um acordo entre partidos que sustentam Jair Bolsonaro e a oposição definiu a extração de R$ 21 bilhões do Orçamento do próximo ano.
Aproximadamente R$ 15,3 bilhões serão destinados ao pagamento de “emendas de relator”, relevantes aos interesses de parlamentares em batalha pela reeleição.
Outros R$ 5,7 bilhões seguirão para o caixa dos partidos, onde serão administrados no custeio de campanhas eleitorais.
São casos simbólicos de uma situação de descontrole somado à inexistência de prioridades ou critérios de eficiência no uso do dinheiro público.
Transparência nas prestações de contas é quimera, como se observa na resistência do Congresso em abrir a caixa de segredos do orçamento paralelo e dos partidos em relação à sua contabilidade.
Embora bilionários, esses gastos representam apenas uma fração do que está sendo desenhado para o primeiro trimestre: vem aí o “pacote eleitoral” de Bolsonaro.
Depois de dar um calote em parte da dívida pública interna garantida por sentenças judiciais, o governo garantiu no Congresso um adicional de R$ 106 bilhões — metade para pagar necessário auxílio de R$ 400 às famílias pobres.
Agora, planeja nova série de gastos. Parte é para reforçar a imagem de Bolsonaro em segmentos de eleitores nos quais se apoiou na campanha de 2018 e onde se constata forte erosão. Pesquisas como as do Datafolha indicam perdas de até 40% entre quem lhe deu voto no segundo turno de 2018.
Bolsonaro escolheu começar sinalizando a uma fatia da antiga base no setor público, o aparato de segurança.
Três dias atrás, mandou o ministro da Economia, Paulo Guedes, pedir R$ 2 bilhões extras ao Congresso para “reestruturação de carreiras”, eufemismo adotado no Palácio do Planalto para dissimular aumento salarial aos agentes federais.
Outro lado do pacote tem foco nos extratos sociais onde, hoje, Bolsonaro alcança recordes de rejeição eleitoral — 60% entre os que ganham até um salário mínimo e 57% na faixa até dois salários mínimos, segundo o Ipec, antigo Ibope.
São segmentos majoritários no eleitorado e, atualmente, sustentam o adversário de Bolsonaro na liderança em intenção de voto: Lula tem 57% da preferência entre os que sobrevivem com até um salário mínimo por mês e 51% na faixa até dois salários mínimos.
A expectativa de novos e maiores gastos agora é proporcional ao derretimento da candidatura de Bolsonaro. No governo, no Centrão e no Partido Liberal, onde se abrigou, a perspectiva é de que até março ele consiga recuperar uma fatia do eleitorado perdido.
Caso contrário, corre o risco de assistir a um movimento sutil e gradual abandono dos aliados, que não pensam em retirar o apoio do partido e muito menos deixar o governo.
Há precedentes. O clássico é de 1950, quando o advogado mineiro se candidatou à presidência pelo PSD. O partido manteve apoio formal, mas os líderes se engajaram na campanha do adversário Getulio Vargas, do PTB, que venceu a eleição. A “cristianização” tem sido recorrente na política brasileira.
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