Bolsonaro tira férias de não fazer nada

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Foto: Dieter Gross/Ishoot/Estadão Conteúdo/Gustavo Pereira

Enquanto os brasileiros se unem em solidariedade às vítimas das enchentes do sul da Bahia, o presidente Jair Bolsonaro (PL) mantém suas férias no litoral de Santa Catarina.

Os vídeos do passeio do presidente de moto aquática parecem zombar daquelas famílias que enfrentam dias de horror provocados justamente pelo excesso de água.

A escolha pela diversão na praia é mais do que inadequada neste momento em que o Brasil vive um clima tenso com as cheias de rios que inclusive ameaçam outras cidades do Norte, Nordeste e do Sudeste.

Férias de quê?

Não se trata de um período de descanso de alguém que se dedicou ao exercício do cargo, que tem entre outras responsabilidades garantir o bem-estar e a vida plena dos cidadãos do pais. Longe disso.

As férias de Bolsonaro, quando o Brasil ainda tenta enfrentar a pandemia de covid-19 e a sobreviver em meio à fome, à miséria e às tragédias naturais como as causadas pelas chuvas, só reafirmam a indiferença e a insensibilidade do presidente e o descaso com o próprio cargo que ocupa.

Se o mandatário não trabalha quando o país mais precisa, faz muito sentido a hastag que domina as redes sociais, associada àquela que já marca as críticas ao governo: #BolsonaroVagabundo e #BolsonaroGenocida.

Bolsonaro já dançou funk em uma escuna na semana antes do Natal, na praia do Guarujá (SP). Agora faz manobras em um jet ski, com a filha e esposa na garupa, em São Francisco do Sul (SC).

Durante esse período, equipes de resgate formadas por agentes públicos e voluntários tentam socorrer as vítimas da força das águas, que já levou à situação de emergência em 132 municípios da Bahia.

As chuvas no sul da Bahia e norte de Minas Gerais desde o início de dezembro aumentaram o nível dos rios, invadiram cidades, destruindo estradas e pontes, derrubando residências e imóveis comerciais e arrastando tudo que encontra pela frente.

A tragédia nas cidades baianas já foi responsável por 24 mortes, além de atingir mais de 460 mil pessoas e deixar mais de 77 mil desabrigadas.

As imagens compartilhadas nas redes sociais mostram resgates angustiantes e a tristeza dos moradores com as perdas, muitas vezes dos únicos bens adquiridos ao longo da vida.

São cenas que sensibilizam todos que possuem o mínimo de empatia e preocupação com a humanidade. Mas não conseguem abalar os sentimentos do presidente do Brasil, logo aquele mais poderia agir para amenizar a dor das famílias.

Aos apoiadores que o cercaram na praia catarinense, Bolsonaro disse que espera não ter que retornar antes do previsto (4 de janeiro), mantendo-se em lazer e diversão e indiferente às ações humanitárias que mobilizam correntes de apoio por todo o país.

Quando esteve na região atingida pelas chuvas, no dia 12 de dezembro, a presença do presidente se transformou em um ato de campanha, com passeio em carro aberto, aglomeração de políticos aliados sem nenhuma proteção contra a covid, além de discurso de crítica às ações dos governadores durante a pandemia.

Ainda teve agressão a equipes de profissionais de imprensa em atividade.

Ou seja, a presença do presidente mais atrapalhou do que ajudou na situação de emergência.

O que se espera agora é que o mandatário garanta ao menos os recursos federais necessários para o atendimento das vítimas e para a reconstrução das cidades afetadas.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), já afirmou que espera mais do que os valores até agora anunciados pelo governo federal.

Se não pode demonstrar sensibilidade em meio à tragédia, que pelo menos possa agir com a responsabilidade que o cargo exige. Mas para isso ele precisará trabalhar e a favor dos que mais precisam. Não foi o que ocorreu em outros momentos, como durante toda a pandemia.

Além de fazer pouco caso com as mortes causadas pela covid, utilizando por vezes de tom de deboche diante das vidas perdidas, Bolsonaro foi um dos principais motivadores das estratégias negacionistas que agravaram a situação. Ainda neste momento, atua para impedir a vacinação de crianças, quando as autoridades de saúde recomendam a necessidade desta imunização.

Também não deixou de demonstrar, por várias vezes, que preferia a diversão de um passeio de moto ou de jet ski no Lago Paranoá do que se preocupar com o expressivo aumento dos óbitos causados pelo coronavírus. Tudo registrado em vídeos amplamente difundidos, que revoltam muitos brasileiros, especialmente as famílias que perderam seus entes durante a pandemia.

Como sempre ocorre, a tragédia causada pelas chuvas no sul da Bahia atinge com mais força as famílias mais pobres, que vivem em situações de risco constante em suas moradias improvisadas.

Em sua maioria, são cidadãos não alcançados pelas políticas públicas e que não possuem outra alternativa a não ser viver às margens de rios e córregos, em construções frágeis e em perigo contínuo.

No Brasil governado por Jair Bolsonaro e marcado pelo desemprego, fome, miséria e desmonte dos programas de assistência social, as águas parecem alertar para a emergência dessas vidas esquecidas.

Oferecem ao presidente uma última chance de demonstrar que se importa com as condições de existência dos brasileiros.

Mas os estragos causados pela força das correntezas, e todo barulho gerado por essa destruição, não são suficientes para comover aquele que é indiferente à vida humana.

Uol

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