Distribuidoras de gás aproveitam auxílio para cobrar ágio
Foto: Matheus Veloso/Especial Metrópoles
Moradores da Estrutural relataram ao Metrópoles práticas abusivas na comercialização de botijões para beneficiários do Cartão Gás, sancionado pelo Governo do Distrito Federal (GDF) em agosto. Conforme as denúncias, com o incentivo do GDF, donos de comércios cobram uma espécie de ágio pela venda do produto. Em alguns locais, ainda de acordo com os relatos, o valor chega a R$ 10, ou seja, 10% do que é encaminhado pelo Buriti às famílias.
“Tem três meses que a gente recebeu o cartão, e há três eles fazem isso”, diz uma das moradoras, sob condição de anonimato. “A gente compra o botijão e eles cobram R$ 10 a mais. Se não tem, falam que ‘pode deixar no fiado, depois a gente vê’, mas alguns nem falam quanto vai custar depois. Aqui R$ 10 é muita coisa, influencia no mês inteiro”, relata.
Outro caso é o de um catador, que também pediu para não ter a identidade divulgada, cujas compras no mercado foram reduzidas mesmo com o benefício do governo. “Pesa porque eu vivo principalmente do Bolsa Família. Meu filho é doente, precisa comprar remédio, dá muito gasto. A comida dele é diferenciada, por isso eu preciso cozinhar algo separado para ele e outra comida para o resto da família. Qualquer R$ 10 é muito dinheiro”, lamenta o senhor.
O Metrópoles esteve em dois estabelecimentos que, segundo as fontes, cobravam um sobrepreço quando a compra era realizada por meio do Cartão Gás. Na Estrutural, a Secretaria de Economia tem quatro lojas cadastradas. Apesar da obrigatoriedade do Procon e da Seec, apenas a distribuidora Romário Gás apresenta os valores em tabela na entrada do comércio. “O Procon já veio aqui algumas vezes, porque não foi bem repassado à população”, diz Jociel Silva, responsável pelo local.
“Nós temos um preço nosso, mas cobramos por entrega também. Aí fica R$ 110, mas muitas vezes eu nem cobro, porque levo um botijão para um pessoa que está com fome e eu sei que não tem dinheiro, porque o pessoal é humilde”, completa o empresário, que apresentou à reportagem documentos de visitas do Procon, da Secretaria de Saúde e até do Corpo de Bombeiros. “Mas tem gente na Estrutural que está escondendo o preço, sim”, admitiu.
Na GV Marinho Comércio de Gás, o dono – segundo a Receita Federal (RFB) –, Gilvan Pereira Marinho, recebeu a reportagem por trás da grade de segurança. Questionado sobre o valor do botijão de 13 kg, ele rodeou. “O Cartão Gás é R$ 100, mas o valor do botijão aqui é R$ 105. O governo dá R$ 100. A tabela já tem alteração. O nosso preço na tabela é R$ 105, mas a gente negocia se a pessoa vier buscar”, explica. Questionado sobre a “negociação”, ele disse que baixa a margem de lucro para não perder clientes.
De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), que regula os derivados do combustível fóssil no país, o preço mais caro praticado no DF é R$ 114, com R$ 85 como o menor valor. Não há previsão de aumento, segundo a autarquia, mas Marinho garante que os distribuidores receberam avisos. “Vai aumentar mês que vem e a gente vai ter que aumentar também. Não tem que reclamar”, argumenta.
Acionada pela reportagem, a Secretaria de Economia encaminhou nota na qual informa que há 211 lojas cadastradas para atender quem tem o Cartão Gás. “A Secretaria esclarece ainda que instituiu uma Comissão Técnica, que é responsável por verificar o cumprimento das obrigações acordadas pelas empresas parceiras. Havendo quaisquer denúncias, as ilegalidades serão apuradas. Se for o caso, empresas podem ser descadastradas do programa.”
Administradora regional da Cidade do Automóvel (Scia) e da Cidade Estrutural, Vânia Gurgel diz não conhecer denúncias, ao menos na administração. “Para mim não chegou nada oficial. Uma pessoa me abordou e falou algo sobre isso e eu recomendei que registrasse ocorrência, mas nada foi feito. A administração regional pode ajudar por meio da ouvidoria, ou em contato comigo mesmo”, comenta a gestora.
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