Lula diz que passado de divergências com Alckmin não importa
Foto: Ricardo Stuckert / Divulgação
Cotados para formar uma chapa para a eleição presidencial do ano que vem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador Geraldo Alckmin se encontraram publicamente pela primeira vez neste domingo. Os dois participaram de um jantar organizado pelo grupo de advogados Prerrogativas em um restaurante dos Jardins, Zona Sul de São Paulo.
No evento, Alckmin deu mais indicativos de sua aproximação ao petista ao dizer que “é hora da união”, como mostrou o colunista Bernardo Mello Franco.
— O processo ainda está começando. É hora de grandeza política. É hora de união — disse o ex-tucano.
Lula afirmou, durante um discurso de cerca de 40 minutos, que a situação do Brasil exige a união de antigos adversários:
— O grave momento do Brasil não dá a nenhum de nós o direito de desistir. Não é tarefa para uma pessoa só. Não importa se fomos adversários, se trocamos algumas botinadas, se dissemos o que não deveriamos. O tamanho do desafio que temos pela frente faz de cada um de nós um aliado de primeira hora. Estamos unidos pela fé na democracia e perseverança de construir um Brasil melhor.
O petista citou Alckmin uma vez, ao agradecer sua presença no evento. Disse que uma eventual chapa entre os dois depende de negociações partidárias e afirmou que aprendeu a respeitar alguns adversários:
— Tenho que respeitar o Alckmin, ele deixou o PSDB, ainda não tem partido filiado. Quem vai dizer se a gente pode se a gente pode se juntar ou não é o meu partido e o partido dele. Temos que ter paciência — afirmou Lula.
Além de ser um sinal de aproximação entre dois antigos adversários, o encontro público entre Lula e Alckmin também é visto como mais um passo na direção da formação de uma chapa presidencial para o ano que vem. A presença no evento de dirigentes de outros partidos que podem apoiar a candidatura do petista, como PSOL, PSD e Solidariedade, reforçou o caráter simbólico do evento.
Alckmin e Lula já haviam se encontrado reservadamente. Segundo interlocutores, o petista nunca convidou o ex-governador a integrar a chapa. Apesar disso, ambos deram declarações públicas que convergiam para uma aproximação. Alckmin afirmou não ter “diferenças intransponíveis” em relação ao petista. Lula, por sua vez, disse que não há nada que aconteceu entre eles que não possa ser “reconciliado”.
Deputado estadual e coordenador da campanha de Fernando Haddad, em 2018, Emídio de Souza disse que o encontro é “um bom começo”:
— Foi um encontro democrático com muitas lideranças, de vários partidos, várias orientações, gente que esteve em posições diferentes e que agora começam a convergir pro nosso projeto, mas é uma coisa ainda muito inicial, mas muito positiva fechar o ano com encontro dessa natureza.
O jantar teve mais de 500 convidados. A lista inclui presidentes do PT, Gleisi Hoffmann, do PSD, Gilberto Kassab, do PSB, Carlos Siqueira e do MDB, Baleia Rossi. Também colocarm nome na lista parlamentares, como a senadora Simone Tebet (MDB) e o senador Renan Calheiros (MDB), e governadores, como os petistas Camilo Santana, do Ceará, e Wellington Dias, do Piauí. O ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que hoje é secretário do governo de São Paulo, comandado por João Doria (PSDB), também foi.
Ao comentar a participação de políticos de grupos diversos, o coordenador do Prerrogativas, o advogado Marco Aurélio de Carvalho, disse que é possível “reconciliar” o país:
— Essa noite nós vamos dar um recado poderoso pra sociedade, de que é possível deixar de lado divergências políticas e pessoais para olhar pro que é fundamental e reconstruir e reconciliar nosso país — disse Marco Aurélio.
Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha, a entrada de Alckmin na chapa pode aumentar a possibilidade de voto no petista para 16% dos eleitores. Para 70% dos entrevistados, no entanto, a chegada do ex-governador não muda sua intenção de voto. Outros 11% dizem que adesão do ex-governador pode diminuir vontade de votar em Lula.
De acordo com o Datafolha, Lula já tem a preferência de 48% dos eleitores. Levando-se em conta a margem de erro e os votos válidos, o petista poderia vencer no primeiro turno, segundo o levantamento. Como o ex-presidente já tem um número alto de intenção de voto, a entrada de Alckmin é vista como mais importante para atrair grupos específicos, como os mais ricos, e passar uma sinalização para setores da elite de que, caso eleito, Lula não tomaria medidas radicais.
O ex-governador paulista deixou o PSDB na quarta-feira da semana passada e negocia a filiação a um novo partido. Uma das hipóteses é que ele entre no PSB. Neste domingo, antes do jantar, ele se encontrou com o presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira, e com o deputado federal Marcelo Freixo, que deve ser candidato ao governo do Rio. Além disso, um dos principais articuladores de Alckmin é o seu antigo vice, Márcio França (PSB), que quer concorrer ao governo paulista com apoio do PT.
O governo paulista é um dos entraves da negociação, já que o PT não pretende abrir mão da candidatura de Haddad. Os petistas se animaram com a pesquisa Datafolha de sábado que mostrou que Haddad lidera num cenário sem Alckmin, ficando à frente de França. O candidato do PSB, por sua vez, fica em primeiro na hipótese de que nem Alckmin nem Haddad concorrem.
Alckmin discute, ainda, com PSD e Solidariedade. Também presente ao jantar deste domingo, o presidente do Solidariedade, Paulinho da Força, reforçou que pretende apoiar Lula à Presidência e que gostaria de ter Alckmin na chapa:
— Estamos conversando, mas acho que vice-presidente não se escolhe faltando um ano. São conversas preliminares, colocamos o partido à disposição do Alckmin, se quiser ser candidato por aqui, será bem-vindo. Ele está conversando com todo mundo. Comigo, PSB, Kassab.
Ao lado de suas companheiras, Lu Alckmin e Rosângela Silva, a Janja, o ex-governador e o ex-presidente sentaram-se juntos em uma mesa do restaurante Figueira Rubaiyat — mas não ficaram lado-a-lado. Eles foram acompanhados do governador do Maranhão, Flavio Dino, que recentemente trocou o PCdoB pelo PSB, pelo deputado estadual Emídio de Souza e pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT).
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