Lula prefere Alckmin no PSD
Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (sem partido) encontraram-se ontem de maneira pública no jantar do grupo Prerrogativas, um coletivo de advogados que se organizou em reação à Lava-Jato, em 2016. O ato foi o mais amplo encontro em que Lula compareceu desde que recuperou seus direitos políticos, em março deste ano.
Lula pediu paciência para a formação da chapa presidencial do PT à Presidência da República em 2022 e minimizou seu encontro com Alckmin. “A imprensa ficou eufórica com a minha foto com o Alckmin. Eu fui presidente, o Alckmin governador, e nunca pediam foto nossa”, brincou.
Lula reforçou que a candidatura do partido ainda não está definida – embora a tendência seja essa. Além de lembrar de que Alckmin, que se desfiliou do PSDB na última semana, ainda também não definiu sua legenda. O antigo tucano conversa com PSB, Solidariedade e PSD.
“Quem vai definir isso [candidatura] será o meu partido. E também respeitar o Alckmin, eu não sei partido para que ele vai, mas os dois partidos vão definir se a gente vai se juntar ou não. Tem que ter paciência”, prosseguiu.
Mas, em ato falho, disse que sabe que o Brasil que “vai pegar” em 2023, será pior do que encontrou em 2003. O petista lidera todos os cenários de intenção de voto nas mais recentes pesquisas Datafolha e Ipec.
O evento reuniu todo o arco possível de aliados de uma eventual chapa de Alckmin como vice de Lula em 2022. Estavam lá as cúpulas do PT e do PSB, e parlamentares do PCdoB, além do presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força, que também ofereceu filiação a Alckmin.
Mas o encontro foi além disso: marcaram presença também dirigentes que articulam a terceira via, como o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e o deputado federal Rodrigo Maia (sem partido-RJ). Eles são operadores políticos dos presidenciáveis Simone Tebet (MDB), Rodrigo Pacheco (PSD) e João Doria (PSDB). Também estavam os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Omar Aziz (PSD-AM), que tiveram protagonismo este ano no comando da CPI da Covid no Senado.
Em uma sala reservada, segundo um dos presentes, Lula confirmou que quer mesmo Alckmin como vice-presidente em sua chapa, mas preferencialmente pelo PSD, que por ora sustenta a pré-candidatura do presidente do Senado e havia convidado o ex-governador para tentar retornar ao cargo em São Paulo.
As negociações com o PSB, que estão mais avançadas, esbarram no fato da sigla não aceitar apoiar em São Paulo o ex-prefeito Fernando Haddad, do PT. A ideia de Lula, ao articular a filiação de Alckmin no PSD, é negociar em posição de força para convencer o PSB a abrir mão da candidatura do ex-governador Márcio França ao governo paulista.
Segundo Paulinho, a decisão do ex-tucano em compor ou não a chapa de Lula e por qual partido poderá fazê-lo deve demorar. “É muito cedo definir um vice-presidente faltando quase um ano para a eleição”, disse, na entrada do jantar no restaurante Figueira Rubayat, no bairro dos Jardins.
O meio jurídico compareceu com um exército de advogados críticos da Lava-Jato, como Augusto Arruda Botelho, Pierpaolo Bottini e Antonio Claudio Mariz de Oliveira. Chamou a atenção ainda a presença do ministro do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas.
Na porta do restaurante, alguns manifestantes do PCO, agremiação de extrema-esquerda conseguiram interromper entrevistas de lideranças que defendem uma aliança mais ampla em torno de Lula, como foi o caso do deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), pré-candidato a governador do Rio e do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Ambos foram chamados de “golpistas”.
Lula e Alckmin negociam a aproximação há meses. Um dos fundadores do grupo Prerrogativas, o advogado Marco Aurélio Carvalho participou das primeiras conversas com o PSB sobre a construção da chapa.
O ex-governador Márcio França, que lidera o PSB em São Paulo, reuniu-se com Marco Aurélio Carvalho e com João Paulo Rodrigues, dirigente do MST, para apresentar a proposta dessa dobradinha, antes mesmo de ter conversado com Alckmin. Tanto o advogado do Prerrogativas como o dirigente do MST são próximos de Lula.
Cerca de um mês depois, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) entrou no circuito e passou a negociar com França a possibilidade de viabilizar a chapa. No cenário defendido por França, Alckmin se filiaria ao PSB para ser vice do ex-presidente petista. O passo seguinte foi dado por Lula e Alckmin, que conversaram pessoalmente em julho sobre um eventual acordo. Houve ao menos mais um encontro presencial entre o ex-presidente e o ex-governador.
França já tinha sido aventado para compor a chapa petista como vice, mas enfrentou resistências no PT e no PSB. Antes, o ex-governador do Maranhão, Flávio Dino, que se filiou ao PSB neste ano, também tinha sido cotado, mas as conversas não evoluíram. Ao apresentar o nome de Alckmin, França ganhou a simpatia de Haddad e de Lula.
Haddad já tinha procurado Alckmin para negociar um eventual acordo no segundo turno da eleição presidencial e em São Paulo. Na época das primeiras conversas, o ex-governador, ainda filiado ao PSDB, era cotado para disputar o governo paulista em 2022. Pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Haddad articulou com Alckmin um pacto de não agressão e o apoio no segundo turno, caso um dos dois ficasse de fora da disputa no Estado. O petista buscou também o apoio do ex-governador para Lula no segundo turno da eleição presidencial.
Alckmin negociava com o PSB e com o PSD sua filiação para disputar o governo de São Paulo desde que o vice-governador Rodrigo Garcia trocou o DEM pelo PSDB, em maio. Com a entrada de Garcia no partido, a candidatura de Alckmin pelo PSDB ficou inviabilizada. Diante da evolução das conversas com Lula, o ex-governador deixou em segundo plano a disputa estadual.
Antes de negociar a composição da chapa presidencial com Alckmin, Lula buscou lideranças históricas do PSDB, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Tasso Jereissati (CE), e outros dirigentes fora do campo da esquerda, como Gilberto Kassab, para manter o diálogo aberto, com vistas sobretudo a uma união no segundo turno. FHC, inclusive, disse que poderá votar em Lula no segundo turno, se o PSDB for derrotado no primeiro.
Lula e Haddad, em conjunto com outras lideranças do PT, têm antecipado a construção de uma ampla aliança já para o primeiro turno. Os aliados do ex-presidente querem evitar a desarticulação que houve em 2018, quando o PT enfrentou dificuldades para obter apoio para Haddad no segundo turno da disputa presidencial.
Na semana passada, o PT formalizou o início das conversas com PSB, PCdoB, Psol e PV para compor uma federação, formando uma espécie de frente ampla de esquerda para fortalecer a candidatura de Lula.
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