Parlamentares bolsonaristas voltam a espalhar fake news sobre vacinas

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Foto: Pedro Ladeira – 30.nov.21/Folhapress

Os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Bia Kicis (PSL-DF) e Carla Zambelli (PSL-SP) usaram conteúdos falsos para atacar a vacinação infantil contra a Covid-19 em suas redes sociais e sites oficiais.

Na quinta-feira passada (16), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou uso do imunizante da Pfizer na faixa etária que vai de 5 a 11 anos. Desde o início da pandemia, 1.449 crianças de até 11 anos morreram da doença no Brasil —301 se considerado apenas o grupo liberado pela Anvisa.

Até o momento, todos os estudos indicam que a imunização de menores é segura e eficaz. A prática é recomendada por autoridades internacionais nos Estados Unidos e na Europa.

Entre os boatos que circulam sobre o assunto, destacam-se publicações que afirmam que a vacina da Pfizer é capaz de produzir substâncias tóxicas. A desinformação diz que a proteína spike seria responsável por danos permanentes no corpo, como câncer, problemas de fertilidade e outros.

Essa suposição aparece em um vídeo publicado pela deputada federal Bia Kicis em seu Facebook, que foi compartilhado por mais de 11 mil vezes e teve 91 mil visualizações. Na gravação, a parlamentar está ao lado do médico José Nasser, que afirma que os efeitos colaterais graves dos imunizantes foram relatados pelo professor Robert Malone, suposto criador das vacinas de RNA mensageiro.

Malone é um dos pesquisadores que contribuíram para o desenvolvimento da tecnologia de RNA mensageiro, mas não o seu inventor. Ele realmente gravou um vídeo com acusações sérias sobre a vacina, porém não há registros de que a produção da proteína spike seja danosa para o corpo.

Segundo Alexandre Naime Barbosa, chefe da Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), os raros eventos potencialmente graves registrados nas vacinas da Pfizer e da Moderna não estão relacionados à toxicidade da proteína spike. As afirmações feitas no vídeo por Malone já foram desmentidas pela Lupa.

Outras publicações em redes sociais afirmam que as vacinas da Pfizer não foram testadas de forma adequada em crianças. Isso é dito, por exemplo, em um texto divulgado no Instagram pela médica Mayra Pinheiro, também conhecida como Capitã Cloroquina, e repostado pelo deputado Eduardo Bolsonaro.

“Estudos da vacina em crianças são escassos, não têm boa qualidade metodológica e não demonstram a eficiência da mesma em reduzir doença e morte nessa população”, afirma o post divulgado pelo parlamentar, que teve mais de 140 retuítes e foi compartilhado 4.500 vezes no seu perfil no Facebook.

Os estudos que já foram publicados contam com uma metodologia de qualidade, sendo reconhecidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde). A farmacêutica Pfizer vem conduzindo ensaios clínicos com crianças nos Estados Unidos, na Finlândia, na Polônia e na Espanha.

Em outubro, os resultados desses testes indicaram que a vacina tinha 90,7% de eficácia na prevenção de Covid em crianças de 5 a 11 anos. Como metodologia, o ensaio dividiu as crianças em dois grupos —placebo (1.538) e vacina (3.100)— para poder analisar os dados da segurança, averiguando possíveis efeitos colaterais.

Já a deputada Carla Zambelli, para evitar ter sua conta bloqueada nas redes sociais, optou por compartilhar um vídeo gravado pelo cientista social e advogado Fernando Conrado em seu site pessoal. A página havia recebido cerca de 12 mil visitantes até esta quarta-feira.

A gravação ainda foi hospedada no Rumble, uma plataforma de vídeos utilizada pela direita para fugir das políticas de remoção de conteúdo falso de redes como YouTube, Facebook e Twitter.

No vídeo, Conrado acessa o site do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), órgão de saúde dos Estados Unidos, e mostra alguns dados sobre supostos eventos adversos causados pelas vacinas da Covid. Ele afirma não concordar com a vacinação de crianças de 5 a 11 anos.

De acordo com Conrado, 74% de todas as mortes ligadas às vacinas desde 1900 nos Estados Unidos teriam sido provocadas pelos imunizantes contra a Covid. “Esses são os eventos vinculados à vacina e comprovados. Fora os que não foram comprovados”, diz.

Porém, Conrado omite a informação de que o sistema mostrado, o Vaers (Vaccine Adverse Event Reporting System), recebe contribuições de qualquer pessoa por meio de um formulário online. O próprio site mostrado alerta que os relatórios podem conter informações “incompletas, imprecisas, com coincidências ou não verificáveis” e que os dados “não podem ser usados para determinar se uma vacina causou ou contribuiu para um evento adverso ou doenças”.

Em nota, a assessoria de imprensa de Zambelli disse que a existência de um formulário online “não configura que o conteúdo do vídeo seja falso”, mas admite que “podem sim conter informações ‘incompletas’ ou ‘imprecisas’”.

Ela informou que, por essa razão, incluiria a reportagem em seu site “para que as pessoas possam fazer o melhor escrutínio acerca do tema”.

A nota ainda questiona a classificação de que o conteúdo seria falso, dizendo que a Lupa não teria acesso ao resultado da análise de todos os óbitos supostamente causados pelo efeito adverso da vacina nos EUA. Porém, como mostra o próprio site do CDC, os dados utilizados no vídeo “não podem ser usados para determinar se uma vacina causou ou contribuiu um eventos adversos”.

A Lupa também procurou Eduardo Bolsonaro, Bia Kicis, Mayra Pinheiro, José Nasser e Fernando Conrado, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

VACINAÇÃO
A Anvisa e a CTAI-Covid (Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19) já se posicionaram favoravelmente à vacinação de crianças. Nos Estados Unidos, já foram administradas mais de 7,1 milhões de doses da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos. Houve apenas oito casos relatados ao Vaers de miocardite, inflamação da camada média do músculo cardíaco, e todos eles foram considerados leves.

Folha de S. Paulo

 

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