Sob Bolsonaro, poupança renderá menos quando juros subirem
Foto: Reprodução
Até 2012 a regra do rendimento da poupança era uma só. A caderneta rendia 0,5% ao mês mais a variação da TR (Taxa Referencial, um indicador do mercado financeiro). Como a TR está valendo zero, a poupança rendia 0,5% ao mês, ou 6,17% ao ano.
Mas a partir de 2012, a regra mudou. Ficou estabelecido que a poupança só renderia 0,5% ao mês se a taxa básica de juros (Selic) estivesse acima de 8,5% ao ano.
Enquanto a Selic estiver valendo até 8,5%, a poupança rende 70% da Selic.
E era essa conta que está valendo hoje. A Selic está em 7,75% ao ano. Como a poupança rende 70% da Selic, isso quer dizer que a caderneta está rendendo 5,43% ao ano (para fazer a conta, basta multiplicar a Selic por 0,7).
Selic sobe e muda cálculo da poupança
Tudo aponta, porém, para uma mudança nesta semana. O Banco Central reúne nesta terça e quarta (7 e 8) o Comitê de Política Monetária (Copom), órgão do governo responsável pelo sistema financeiro.
E a grande maioria do mercado aposta que a taxa básica de juros Selic vai subir dos atuais 7,75% para 9,25%. O próprio Banco Central sinalizou isso em nota divulgada depois da última reunião, em 27 de outubro.
O Banco Central está subindo os juros para tentar controlar a inflação, que está atingindo os maiores patamares desde 2015, como explicamos aqui.
Mas o que importa para o poupador é que a Selic deve superar os 8,5%. Assim, a fórmula de cálculo do rendimento da poupança vai mudar. Passará agora a ser de 0,5% ao mês, o que dará 6,17% ao ano.
O rendimento no ano dá 6,17%, e não 6% porque a conta não é simplesmente multiplicar 0,5% x 12. A cada mês, os juros são contados em cima do rendimento do mês anterior, o que dá um pouquinho a mais (são os chamados juros compostos). No fim do ano, a rentabilidade fica maior que os 6%.
Rendimento deixa de acompanhar juros
A poupança vai sair perdendo com essa mudança na forma de calcular o rendimento, dizem profissionais de finanças pessoais consultados pelo UOL.
A poupança sai perdendo porque vai deixar de acompanhar o aumento da Selic. E, quanto mais a Selic subir, maior será essa diferença.
Valter Police Jr., planejador financeiro e sócio da Fiduc
Police fez algumas simulações. Veja abaixo quanto renderiam R$ 1.000 na poupança, se aplicados por um ano, considerando a regra que vai valer quando a Selic superar os 8,5% ao ano, e quanto renderiam se a regra não fosse alterada.
Quanto mais a Selic sobe, pior fica o rendimento da poupança no novo cálculo em comparação à regra que vale hoje. Veja abaixo.
Selic a 8,75%
Novo cálculo: Poupança rende 6,17% ao ano
R$ 1.000,00 rendem R$ 61,70
Cálculo anterior: Poupança renderia 6,125% ao ano
R$ 1.000,00 renderiam R$ 61,25
Selic a 9,25%
Novo cálculo: Poupança rende 6,17% ao ano
R$ 1.000,00 rendem R$ 61,70
Cálculo anterior: Poupança renderia 6,475% ao ano
R$ 1.000,00 renderiam R$ 64,75
Selic a 11,25%
Novo cálculo: Poupança rende 6,17% ao ano
R$ 1.000,00 rendem R$ 61,70
Cálculo anterior: Poupança renderia 7,875% ao ano
R$ 1.000,00 renderiam R$ 78,75
Pode parecer pouca coisa, mas vamos lembrar que a poupança já paga muito pouco.
Valter Police Jr.
Desvantagem em relação a outras aplicações
Com a mudança no cálculo da poupança que ocorre quando a Selic passa de 8,5% ao ano, a caderneta também vai ficando em desvantagem em relação a outras aplicações de renda fixa.
O mercado aposta que a taxa básica de juros pode subir até 11,25% no ano que vem, conforme estima o Boletim Focus, uma pesquisa semanal do Banco Central com mais de cem instituições financeiras e consultorias.
Quanto mais a Selic sobe, maior o ganho do investidor em aplicações de renda fixa (como Tesouro Selic). Mas, como o cálculo de rendimento da poupança vai ficar congelado em 0,5% ao mês, a caderneta vai deixar de aproveitar essa alta da taxa básica de juros.
Quando a Selic passa de 8,5%, o rendimento da poupança fica travado em 0,5% ao mês. Então, mesmo que a Selic suba para 10% ou 11%, a poupança vai continuar rendendo 0,5% ao mês. Já outras opções de renda fixa, como o Tesouro Selic, vão continuar acompanhando a alta da Selic.
Theo Linero, planejador financeiro pela Planejar
Linero destaca que a poupança é isenta de Imposto de Renda, mas mesmo assim vai ficar cada vez mais em desvantagem em relação a outras aplicações de renda fixa que são tributadas.
Veja abaixo uma comparação de quanto vai render a poupança quando a Selic passar de 8,5% e quanto rende um título Tesouro Selic, que acompanha a taxa básica de juros e paga IR.
Essa comparação considera R$ 1.000 aplicados por um ano e um dia, com alíquota de 17,5% de Imposto de Renda já descontada.
Com Selic a 8,5%:
Tesouro Selic rende R$ 70,13
Poupança rende R$ 59,50
Com Selic a 8,75%
Tesouro Selic rende R$ 72,19
Poupança rende 61,25
Com Selic a 9,25%
Tesouro Selic rende R$ 76,31
Poupança rende 64,75
Com Selic a 11,25%
Tesouro Selic rende 92,81
Poupança rende 78,75
As pessoas que não fazem conta para ver se há outros investimentos com melhor rendimento que a poupança podem achar que ela é mais vantajosa que outras opções que pagam imposto.
Luciane Almeida, especialista em investimentos e educação financeira do PagBank
Ainda tem a inflação
Os planejadores financeiros lembram ainda que existe a inflação, que corrói o ganho da poupança e de todas as aplicações de renda fixa. Quando os preços sobem mais rapidamente que a taxa de rendimento dos investimentos, o aplicador perde poder de compra.
Só para comparar, com uma inflação anual de 10,67% pelo IPCA, R$ 1.000 perdem R$ 106,70 após um ano.
Ou seja, todos os exemplos acima estão perdendo da inflação. O aplicador tem um rendimento nominal (aquele que aparece no extrato da conta) positivo, mas em termos reais perdeu dinheiro.
Planejadores financeiros dizem que a poupança continua servindo como alternativa de reserva de emergência, ou seja, aquela aplicação sem risco e que pode ser sacada para cobrir gastos imprevistos.
Esses profissionais lembram que as aplicações que pagam imposto são taxadas em uma alíquota maior se o resgate for feito em menos de um ano. Por isso, é importante colocar na conta esse risco.
Além disso, a poupança funciona como um primeiro passo para os novos investidores.
Para quem está se iniciando nos investimentos e não conhece a imensidão do mercado financeiro, então a poupança é um caminho para começar a guardar dinheiro. É uma alternativa para o pequeno investidor, não por causa da rentabilidade, mas por ser mais conhecida e mais simples.
Theo Linero, planejador financeiro pela Planejar
Quando muda o rendimento
A referência do rendimento da poupança é a taxa Selic vigente na data de aniversário do depósito. Se a data de aniversário da aplicação for o dia 7 de dezembro, por exemplo, vai valer o cálculo de rendimento de 70% da Selic, ou seja, a fórmula de remuneração atual.
Só no dia 7 de janeiro, próximo aniversário desse depósito, é que começa a valer o rendimento de 0,5%.
O investidor precisa lembrar que a poupança só completa o rendimento na data de aniversário do depósito. Então, é uma aplicação que tem menor liquidez que opções como Tesouro Selic ou CDB de liquidez diária.
Luciane Almeida, PagBank
Quando mudou a regra da poupança, em 2012, as contas de caderneta que existiam naquele momento continuaram rendendo, mas não podiam mais receber novos depósitos.
Ou seja, o aplicador dessas contas pode sacar mas não pode fazer novos depósitos. Agora, com a Selic superando os 8,5%, todas as contas de poupança vão passar a seguir a mesma regra de cálculo.
Assinatura
CARTA AO LEITOR
O Blog da Cidadania é um dos mais antigos blogs políticos do país. Fundado em março de 2005, este espaço acolheu grandes lutas contra os grupos de mídia e chegou a ser alvo dos golpistas de 2016, ou do braço armado deles, o juiz Sergio Moro e a Operação Lava jato.
No alvorecer de 2017, o blogueiro Eduardo Guimarães foi alvo de operação da Polícia Federal não por ter cometido qualquer tipo de crime, mas por ter feito jornalismo publicando neste Blog matéria sobre a 24a fase da Operação Lava Jato, que focava no ex-presidente Lula.
O Blog da Cidadania representou contra grandes grupos de mídia na Justiça e no Ministério Público por práticas abusivas contra o consumidor, representou contra autoridades do judiciário e do Legislativo, como o ministro Gilmar Mendes, o juiz Sergio Moro e o ex-deputado Eduardo Cunha.
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