Três terreiros de umbanda sofrem ataques em SP

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Foto: Reprodução

Nos últimos 90 dias, ao menos três terreiros de umbanda de Sumaré, a 120 km de São Paulo, foram alvos de intolerância religiosa. Criminosos invadiram os locais, destruíram imagens e outros acessórios sagrados.

Os religiosos afirmam que se sentem desamparados. Eles procuraram os políticos locais e uma representação foi protocolada no Ministério Público.

O primeiro desses ataques aconteceu na madrugada de 11 de setembro, no Terreiro Oxalá e Iemanjá, no Jardim Bela Vista. O portão foi estourado e os criminosos vandalizaram todo o local, quebraram os objetos utilizados nos rituais religiosos, rasgaram as roupas de santo e ainda tiraram o relógio medidor de energia do poste. Tudo ficou espalhado pela casa.

O segundo ataque ocorreu em 7 de outubro, na casa espiritual Pai João da Guiné, no Jardim Picerno, no período da manhã. Várias imagens de santos foram quebradas e os atabaques, rasgados.

A terceira tentativa de invasão ocorreu neste mês, no terreiro de uma mãe de santo que registrou o boletim de ocorrência, mas, por medo de represálias, ela não revela o local nem a data. Os criminosos não conseguiram invadir a casa, mas vandalizaram a fachada e arrancaram o toldo.

“É dever do Estado proteger o cidadão e a casa de oração, seja ela católica, evangélica, budista, kardecista, seja de matriz africana. Sentir esse racismo religioso, essa intolerância religiosa comendo a gente vivo, deixa a gente bastante chateado”, diz Fabiana Cavalcanti, 39, dirigente da Casa de Caridade Pai João de Oyó, que representa a maioria dos pais e mães de santo de Sumaré.

Vários terreiros em funcionamento informaram que perceberam um carro Chevrolet Corsa rondando suas imediações. A placa foi anotada, mas na consulta constou um Chevrolet Meriva. “Vários pais e mães reclamaram sobre isso. Disseram que ele passa bem devagar, tira várias fotografias e sai cantando pneu. Estamos bem apreensivos”, relata.

A cada dia de realização da gira (culto), o medo é o companheiro constante dos religiosos. “Cada casa coloca um dos filhos para vigiar a entrada. É perigoso, mas orientamos para apenas tentar tirar fotos e filmar”, conta Fabiana.

“Sou mãe de santo há muito tempo e eu não posso deixar que outro irmão meu de fé venha me ligar chorando mais uma noite porque perdeu tudo nesses ataques”, afirma. “Sumaré está esperando um corpo de um pai ou uma mãe de santo estendido no meio do terreiro, com um tiro no peito, para selar a intolerância religiosa e o racismo religioso.”

A líder religiosa reclama que desde o primeiro ataque houve reuniões entre eles e contatos com assessores de políticos, mas nada foi feito.

Edna Lourenço, presidente da Armac (Associação de Religiosos das Comunidades Tradicionais de Matriz Africana de Campinas e Região) diz que onde há desrespeito a fiéis, rituais, sacerdotes e casas religiosas, agressões e violências de qualquer tipo, há intolerância religiosa.

“Cabe ao poder público coibir atos e posturas de intolerância religiosa, em suas diversas manifestações, em qualquer espaço da sociedade brasileira. A intolerância manifesta-se pela violência simbólica, física e psicológica. As agressões começam com palavras e ofensas aos fiéis e aos deuses africanos, passam pela destruição de casas e símbolos religiosos e chegam ao extremo com o assassinato dos seus membros”, comenta Edna.

No último dia 21 de outubro, ela fez uma representação no Ministério Público expondo as situações recentes enfrentadas em Sumaré, além de outras cidades da região.

A Promotoria informou que um inquérito civil está em fase de instrução e que aguarda resposta de ofício encaminhado ao Deinter 2 (Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo) para que informem quantos boletins de ocorrência sobre intolerância religiosa foram registrados em 2020 e 2021.

Na semana passada (25), o vereador William Souza (PT), presidente do Legislativo local, encaminhou ofícios para a Secretaria Municipal de Segurança Pública, para o Comandante do 48º Batalhão de Polícia Militar do Interior e para o delegado do município apontando os problemas e pedindo providências para o reforço da segurança dos templos.

A SSP (Secretaria de Segurança Pública) informa que o caso ocorrido em 7 de outubro é investigado pelo 2º DP de Sumaré. O segundo caso teve o boletim registrado pela internet indeferido, mas foi efetuado pessoalmente. “A unidade também investiga um furto de fios em um centro espírita ocorrido em 11 de setembro. Diligências prosseguem visando à identificação dos autores de ambos os delitos. Quanto ao BO registrado pela Delegacia Eletrônica, o mesmo foi indeferido por divergências nos dados”, diz.

Folha de S. Paulo

 

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