Vice de Bolsonaro será do Centrão
Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
Jair Bolsonaro vivia em regime de união estável com o Centrão desde meados do ano passado, quando abriu as portas dos ministérios, das estatais e do Orçamento da União para os partidos que, durante a campanha de 2018, dizia repudiar e prometia combater. O relacionamento deu alguma estabilidade ao governo e lhe garantiu uma base de apoio no Congresso, o que aumentou as chances de aprovação de projetos de interesse do Palácio do Planalto e, de quebra, afastou o risco de impeachment do presidente da República. A parceria rendeu tantos frutos para ambos os lados que resultou, na terça-feira 30, num casamento de papel passado, com a filiação de Bolsonaro ao PL. O mandatário estava sem partido há dois anos, desde que saiu do PSL após perder uma disputa interna pelo controle do caixa da sigla. Nesse período, ele tentou fundar uma legenda, a Aliança pelo Brasil, mas fracassou por não conseguir o apoio popular exigido por lei. Ao aderir ao novo partido, o nono em sua carreira política, o ex-capitão deu mais um passo para formar uma aliança eleitoral que reúna os três principais expoentes do Centrão — além do PL, o PP e o Republicanos.
Com o trio em sua coligação, Bolsonaro deverá ter em 2022 tempo de propaganda na TV e recursos dos fundos partidário e eleitoral comparáveis aos do PT do ex-presidente Lula, que desponta hoje como seu grande rival. Esses ativos ajudam a explicar por que Bolsonaro trocou a ideia de se filiar a uma legenda nanica por uma de médio a grande porte. Outro motivo de sua escolha foi a ameaça do PL de debandar do consórcio governista caso fosse preterido. Na solenidade de filiação, o presidente disse que se sentia em casa, numa manifestação coerente com seus 28 anos de mandato como deputado federal de baixo clero, e deixou claro que PP e Republicanos, com os quais também negociou uma filiação, continuarão a ser tratados como parceiros estratégicos. Os dois partidos já controlam ministérios de ponta, como a Casa Civil e a pasta da Cidadania, respectivamente. “Pode ter a certeza de que nenhum partido será esquecido por nós”, prometeu o presidente. Hoje, o PP aparece como favorito para ser lembrado na hora da definição do companheiro de chapa de Bolsonaro em 2022. O partido quer um de seus quadros no posto de vice. Bolsonaro, aparentemente, concorda com a ideia, desde que a palavra final seja dele.
O roteiro atual prevê que o vice será um político eleito pela Região Nordeste, a que mais rejeita Bolsonaro. Um dos nomes cogitados é o ministro das Comunicações, Fábio Faria, que deve trocar em breve o PSD pelo PP. Essa opção resolveria até um problema interno do governo, já que tanto Faria quanto o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que também se filiou ao PL, querem disputar o Senado pelo Rio Grande do Norte. Jovem, conciliador e com bom trânsito entre empresários, Faria enfrenta desde já uma série de ressalvas. Há dúvida, por exemplo, se ele será visto pelo eleitor como um representante legítimo do Nordeste porque, segundo alguns de seus colegas de governo, ele tem perfil de “paulista”. Genro do apresentador e empresário Silvio Santos, dono do SBT, o ministro passa boa parte do tempo em rodas paulistanas e brasilienses. Outra alternativa para vice é o presidente do PP e chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PI), que mantém o discurso de que pretende concorrer ao governo do Piauí. Nogueira, no entanto, não morre de amores pelas funções executivas, gosta mesmo é de articular nos bastidores e, por isso, o posto de vice se encaixaria à perfeição aos seus projetos pessoais. Um convite seria uma espécie de coroação ao trabalho dele, que negociou pessoalmente a adesão do Centrão ao governo.
De certo, até o momento, há apenas o fato de que o atual vice está descartado para 2022. Bolsonaro já avisou ao general Hamilton Mourão (PRTB) que não pretende reeditar a vitoriosa dobradinha de 2018. O sonho do presidente era escolher como próximo companheiro de chapa alguém de sua estrita confiança, que não fosse político e não tivesse nenhum tipo de relacionamento com o Congresso. Em resumo: alguém que não pudesse conspirar no futuro para tirá-lo do poder. Sensível a todo tipo de teoria da conspiração, Bolsonaro chegou no início do mandato a ser convencido por seu filho Carlos, o Zero Dois, de que Mourão trabalhava para derrubá-lo. Nunca foi revelada uma prova nesse sentido, mas o general acabou escanteado, e a semente da desconfiança foi devidamente cultivada.
Na maturação do processo de descoberta do perfil ideal para um novo vice, a importância do Centrão para o governo e para o projeto de reeleição fez o presidente abandonar o plano de uma chapa bolsonarista puro-sangue e aderir ao pragmatismo. Daí, o favoritismo do Centrão para preencher a vaga. Em eleições presidenciais passadas, legendas desse grupo estiveram ao lado dos candidatos do PT. O PP de Ciro Nogueira apoiou Dilma Rousseff em 2014. Vice-presidente da República nos dois mandatos de Lula, José Alencar era filiado ao PL.
O dilema do vice ideal para 2022 também movimenta a campanha do PT. Inspirados na experiência de sucesso com Alencar, alguns membros do partido defendem que Lula escolha como companheiro de chapa alguém que sirva para quebrar eventuais resistências ao partido entre setores importantes do PIB. Os empresários Josué Gomes, filho de Alencar, e Luiza Trajano chegaram a ser cogitados, mas descartaram a possibilidade de participar da empreitada. O balão de ensaio da vez no PT é o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que foi derrotado por Lula em 2006 e por Bolsonaro em 2018. Ele está prestes a deixar o PSDB, e a recente vitória nas prévias presidenciais de João Doria (leia a reportagem na pág. 28), com quem rompeu depois de ver frustrada a tentativa de concorrer mais uma vez ao governo paulista pelos tucanos, deve selar de vez esse processo. Alckmin é cortejado por vários partidos. Os petistas torcem para que ele se filie ao PSB, o que ampliaria as chances de ser o vice de Lula, que assim teria a companhia de um político reconhecidamente moderado. Se consolidada, a parceria representará um importante aceno aos eleitores de centro. Em manifestações públicas, Lula e Alckmin, que já trocaram acusações pesadas no passado, dizem apenas que estão conversando. “Não há nada que aconteceu entre eu e Alckmin que não possa ser reconciliado”, disse Lula. Alckmin também tem feito acenos na mesma direção, embora muito mais sutis e condizentes com seu estilo enigmático. As tropas de cada lado tratam de insuflar os ânimos. “Em eleição, não pode fazer sanduíche de pão com pão. Tem de fazer sanduíche de pão com alguma coisa diferente. Então, eu acho que Alckmin é complementar à figura do Lula, porque dialoga com outro público, quebra o preconceito com outro público”, diz o senador Jaques Wagner (PT-BA).
A dez meses da votação, parece cedo ainda para se tratar de vices, mas não é. Vitorioso nas prévias do PSDB, Doria disse que pretende ter uma mulher como vice e elogiou a senadora Simone Tebet (MS), que será lançada como pré-candidata à Presidência pelo MDB. Outros dois postulantes ao Planalto, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), e o ex-ministro Sergio Moro (Podemos) também cogitam convidar Simone para o mesmo posto. Até aqui, a senadora não demonstra muito apreço pela ideia de não encabeçar a chapa. Se não concorrer contra Lula e Bolsonaro, ela quer disputar o governo de Mato Grosso do Sul. Apesar de despertar pouca curiosidade nos eleitores, a escolha de um vice é estratégica para o rumo de uma campanha. A vaga pode ser usada, entre outras coisas, para facilitar a costura de uma aliança entre partidos, agradar a um grupo específico do eleitorado e suavizar a imagem do cabeça da chapa. Em qualquer lugar do mundo, o vice tem de agregar valor. Por aqui, ele também precisa estar pronto para lidar com todo e qualquer desafio. Desde a redemocratização, dois vices — num total de cinco eleitos — assumiram o comando do país após o impeachment. Ou seja, no Brasil, de decorativo, eles não têm nada.
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