Vídeo falso mostra Lula falando em ‘tomar cerveja’ com ladrões
Foto: Reprodução
Uma entrevista antiga com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi editada por opositores nas redes sociais para parecer que o petista teria defendido roubar celulares “para tomar uma cervejinha”. A peça traz essa legenda com um vídeo em que Lula diz uma série de frases recortadas e desconexas uma das outras. O Estadão Verifica encontrou o conteúdo original e constatou que o sentido da fala foi propositalmente manipulado.
A conversa foi transmitida ao vivo, em 25 de agosto de 2017, na página oficial do político no Facebook e tem pouco mais de 1h de duração. Na ocasião, o líder petista e a presidente nacional do partido, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), conversaram com uma rádio universitária de Pernambuco. Os trechos que foram utilizados aparecem em dois momentos distintos, a partir da faixa dos 13 minutos (veja a entrevista completa abaixo).
Primeiro, Lula responde a uma pergunta sobre as causas da violência. Ele atribui a incidência de homicídios no Estado ao nível de pobreza: “É uma coisa que está intimamente ligada. Ou seja, o cidadão teve acesso a um bem material, a uma casinha, a um emprego, e de repente o cara perde tudo. Então, vira uma indústria de roubar celular. Para que ele rouba celular? Para vender, para ganhar um dinheirinho. Eu penso que essa violência que está em Pernambuco é causada pela desesperança.”
Mais tarde, quando o raciocínio já era outro, o ex-presidente comenta sobre o ódio na sociedade, usando como exemplo alguns clubes de futebol locais: “É preciso distensionar para a sociedade perceber que a torcida do Santa Cruz e do Sport não são inimigas. São adversárias durante o jogo, depois vão para o bar tomar cerveja juntos. E ainda deixam o pessoal do Náutico batendo palma do lado.”
Em nenhum momento da gravação o petista defende “tomar cerveja” com uma pessoa que cometeu um crime, nem que esse seria o objetivo de alguém que roubou um aparelho celular, como entendem alguns usuários.
Segundo uma checagem anterior da Agência Lupa, uma versão estendida desse mesmo vídeo analisado agora pelo Estadão circulou ainda no ano passado na internet. A peça de desinformação vinha acompanhada de um outro trecho distorcido da fala de Gleisi Hoffmann, sobre a programação nacional da TV Globo. O conteúdo aqui verificado acumulou, sozinho, 76 mil visualizações no Facebook.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
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