Bolso do eleitor fala mais alto neste ano
Foto: JULIEN DE ROSA / AFP e EVARISTO SA / AFP
Quando James Carville, marqueteiro do então candidato à Casa Branca Bill Clinton, cunhou a expressão “é a economia, estúpido”, em 1992, sabia que o eleitor está mais preocupado com as questões que se relacionam ao seu bem-estar — emprego, dinheiro no bolso, capacidade de consumo — do que qualquer outra coisa. E ele tinha razão.
O então governador do estado sulista do Arkansas começou a enfatizar os temas econômicos na campanha eleitoral e, assim, obteve sucesso ao reduzir o impacto do discurso triunfalista do então presidente George Bush, que desfrutava de altos índices de popularidade com a invasão do Iraque e o avanço da Guerra do Golfo Pérsico, iniciada em 1991.
Portanto, conforme os analistas, temas com pouca relação com o dia a dia costumam cair para segundo plano na avaliação do eleitor. “Podemos citar como exemplos o sucesso do Plano Real, que projetou Fernando Henrique Cardoso para a Presidência da República, em 1994. Tem também o bem-sucedido primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a melhoria da condição econômica de grande parte da população. Isso possibilitou sua reeleição em 2006”, ressalta Ricardo Caichiolo, doutor em Ciência Política e professor do Ibmec Brasília.
Momento positivo Cristiano Noronha, cientista político e vice-presidente da Arko Advice, acrescenta que FHC foi reeleito por conta da questão
econômica.“Em 1998, os eleitores viam o ex-presidente como a pessoa capaz de conduzir o país num momento de forte turbulência na economia internacional, pois demonstrara grande capacidade no enfrentamento da inflação, quatro anos antes”, lembra.
Em relação ao presidente Jair Bolsonaro, Caichiolo acredita que ele tentará tirar partido da implementação do programa Auxílio Brasil — que substituiu o Bolsa Família. “Além disso, tentará capitalizar outras ações adotadas ao longo de seu governo para o combate à pandemia, ainda que boa parte delas tenha sido decidida exclusivamente no âmbito do Parlamento, como a PEC do Orçamento de Guerra, de maio de 2020, e a
PEC Emergencial, de março de 2021”, salienta. Para o professor de economia Fábio Terra, Bolsonaro terá dificuldades
para adotar um discurso econômico convincente.
“O discurso que o elegeu em 2018, odo combate à corrupção e à velha política, não tinha nada de economia no fundo, e ao longo do governo não teve nada realizado daquilo que se propôs lá atrás. Quem permanecer com Bolsonaro em 2022, não o fará por razões economicas”, analisa. Terra observa que quem pode falar de economia na próxima corrida eleitoral é o ex -presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, aliás, está na liderança de todas as pesquisas de opinião exatamente por conta do bom momento vivido pelo país, no segundo governo do petista. “Não há soluções fáceis para uma melhora da economia brasileira no curto prazo”, alerta Ricardo Caichiolo.
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