Bolsonaristas inundam redes sociais com fake news sobre vacinas
Foto: Reprodução
Na onda de desinformação lançada pelo presidente Jair Bolsonaro e parlamentares aliados contra a vacinação infantil, apoiadores inundaram grupos no WhatsApp e no Telegram com fake news sobre imunizantes. Nos dias que precederam a autorização da imunização de crianças pelo Ministério da Saúde e nas horas seguintes à coletiva da pasta que selou a decisão, bolsonaristas pintaram um cenário apocalíptico e reforçaram apelos para que pais não vacinem seus filhos.
A narrativa da liberdade de escolha sobre imunizar ou não menores de idade pouco a pouco deu lugar a disparos de mensagens com forte teor antivacina e sem qualquer credibilidade. O que, claro, não impediu que fossem reproduzidas exponencialmente. Como na maior parte das teorias da conspiração, bolsonaristas trataram teses estapafúrdias como um conhecimento privilegiado e sigiloso, que vai contra grandes interesses de poderosos.
“O povo padece por falta de conhecimento”, lamentou um apoiador do presidente no WhatsApp. “Há um sistema agindo contra os não vacinados, e contra os que não aceitam essa porcaria de vacina que não protege nada”, completou.
Nos grupos monitorados pela equipe da coluna, imperam relatos anedóticos e sem fontes oficiais sobre mortes de jovens relacionadas à vacina. A suposta “epidemia de mal súbitos” é um dos pilares da mobilização contra a vacinação infantil, embora haja fartas evidências científicas de que os imunizantes são seguros – contando, inclusive, com o aval técnico da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Apoiadores também disseminaram convocações para protestos contra a proteção de crianças.
“Em Luis Eduardo Magalhães (município da Bahia), morreu uma jovem de infarto. Mais um caso entre a juventude. Essa jovem havia tomado as duas doses da vacina. Imagina quando vier a quarta, quinta e sexta doses”, disse um militante bolsonarista. “Muitos jovens estão sofrendo infartos e morrendo após essas vacinas. Isso é fato. Os casos de mortes súbitas aumentou (sic) bastante”, completou, sem apresentar evidências.
Conteúdos pouco orgânicos e recheados de termos supostamente técnicos, respaldados por argumentos de negacionistas estrangeiros como Robert Malone, parecem até aferir certo grau de autoridade aos alertas. Uma das postagens menciona, por exemplo, um estudo inexistente atribuído à Universidade Harvard (EUA) que teria concluído que as vacinas contra a Covid-19 não funcionam.
Sites bolsonaristas também alardearam que o imunizante da Pfizer aumenta em 300% o risco de contágio pelo coronavírus, o que não tem nenhum respaldo científico. Portais de extrema-direita também associaram a origem da pandemia à multinacional americana com o apoio do bilionário húngaro George Soros e da Microsoft, gigante da computação.
Outras mensagens apelaram para cenários ainda mais sombrios.
“A maioria das pessoas que tomaram a ‘vacina’ contra a Covid estarão mortas no ano de 2025. A prova está agora disponível para todos verem. A Agência de Inteligência mais secreta da América, Deagel, prevê o despovoamento do mundo a partir da crise de Covid-19. É o Great Reset”, afirma outra mensagem disparada em grupos, fazendo referência a uma conspiração conhecida no submundo da internet sobre a redução forjada da população global.
Se a liberação da vacinação infantil foi suficiente para plantar a revolta entre bolsonaristas, o anúncio da primeira morte no Brasil causada pela variante Ômicron, em Goiás, jogou gasolina no fluxo incendiário de mensagens dos grupos favoráveis ao presidente.
“E agora a mídia podre e falida está alardeando a primeira morte pela Ômicron, só que está omitindo que a vítima tomou três doses desse experimento! Mais medo, mais alarme e mais vacinas. E tome dose no lombo. E o gado muge pedindo vacinas!”, escreveu um bolsonarista, embora a própria imprensa tenha divulgado largamente que a vítima estava imunizada. “Sempre adequam o discurso ao que convém”, completou outro apoiador.
Sobrou até para as Forças Armadas. Na última quinta-feira, o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, determinou a obrigatoriedade da imunização contra a Covid-19 entre os integrantes da Força. A medida causou torpor entre bolsonaristas – os mesmos que saudaram a nomeação de Paulo Sérgio em substituição ao seu antecessor, Edson Pujol, rejeitado pela sua adesão aos protocolos contra a Covid.
“As gloriosas Frouxas Armadas brasileira (sic) a serviço das farmacêuticas e do globalismo. O presidente e os brasileiros todo dia recebem uma facada pelas costas daqueles que deveriam protegê-los. Lembrando que a Venezuela só se tornou uma ditadura comunista porque aparelhou a Suprema Corte e o Exército. Seguimos na mesma trilha”, denunciou um militante que parecia descrever o aparelhamento militar e bolsonarista nas instituições brasileiras.
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