Bolsonaro evita entrar em disputa entre aliados
Foto: Arte / Agência O Globo
Com ministros e aliados dispostos a concorrer ao mesmo cargo nas eleições de 2022, o presidente Jair Bolsonaro tem sinalizado que não vai interferir em eventuais conflitos no seu quintal político. Quando procurado, ele vem aconselhando os pré-candidatos a resolverem suas questões entre si. Apesar disso, alguns ainda esperam que o presidente encontre uma solução para os impasses que se anunciam no Rio Grande do Norte, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Distrito Federal até o fim de março. O prazo para a descompatibilização para quem ocupa cargo no governo é o início de abril.
Os ministros Fábio Faria, das Comunicações, e Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, querem disputar o cargo de senador pelo Rio Grande do Norte. Nenhum dá sinais de desistência. Interlocutores do Planalto relatam que Bolsonaro já advertiu que os dois conversem entre si. Faria, que está licenciado do cargo de deputado federal, trocará o PSD pelo PP. Já Marinho ingressou no PL junto com o presidente em novembro.
De um lado, aliados de Faria dizem esperar que uma conversa final com Marinho em março possa definir a questão baseada em pesquisas de intenção de votos no estado. Já pessoas ligadas ao ministro do Desenvolvimento Regional avaliam que o fato de estar no mesmo partido que o presidente possa ajudar a pender a balança favoravelmente a ele.
Marinho, que também é ex-deputado federal, comanda a pasta responsável por executar obras de segurança hídrica, como barragens, cisternas, açudes e poços, principalmente no Nordeste, onde Bolsonaro precisa crescer nas eleições. Já Faria, filho do ex-governador Robinson Faria, tem como vitrine o leilão da tecnologia 5G. O nome dele é ventilado como uma opção de vice de Bolsonaro, o que resolveria a questão local.
A vaga do Rio Grande do Norte que estará em disputa atualmente é ocupada pelo senador Jean Paul Prates, do PT, que tentará a reeleição. O ex-presidente do Senado, Garibaldi Alves, do MDB, também tentará retornar à Casa.
No Distrito Federal, as conversas passam pelo futuro político dos ministros da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, e da Justiça, Anderson Torres. Deputada federal licenciada, Flávia, filiada ao PL, quer disputar o Senado, alvo do interesse também de Torres, que pode se filar ao União Brasil. Os dois são próximos e, segundo interlocutores, tendem a resolver a questão sem embates duros. O desfecho, porém, passará para uma composição com o governador Ibaneis Rocha (MDB), que tentará a reeleição. E um dos cenários discutidos é que um dos ministros saia como vice do governador.
Integrantes do governo federal observam que o ministro da Justiça, que foi secretário de Segurança Pública do governo Ibaneis até ser convidado por Bolsonaro, teria mais chances de eleição como deputado federal. Por outro lado, apontam que Torres também pode abrir mão de uma candidatura, a pedido do presidente, e seguir à frente da pasta.
Já no Rio Grande do Sul, o ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni, que trocará o DEM pelo PL, e o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS), da tropa de choque bolsonarista na CPI da Covid, são pré-candidatos ao governo. Nenhum dos dois está disposto a abrir mão da candidatura.
No Nordeste, outro estado onde há um impasse é no Pernambuco. O ministro do Turismo, Gilson Machado, filiado ao PSC, tem interesse em disputar o Senado ou ao governo. Ocorre que a filiação de Bolsonaro ao PL, partido de Valdemar Costa Neto, acabou atrapalhado os planos. A legenda é comandada no estado pelo ex-deputado federal e atual prefeito de Jaboatão, Anderson Ferreira, que também tem interesse em concorrer a senador ou ao governo.
Em novembro, quando Bolsonaro confirmou a ida para o PL, rumores de que o presidente iria impor Gilson Machado como candidato ao governo ou ao Senado irritaram Ferreira, que exigiu de Valdemar uma garantia de sua autonomia no estado. Antes da entrada de Bolsonaro no PL, o presidente do diretório pernambucano mantinha conversas adiantadas com Raquel Lyra, prefeita de Caruaru, filiada ao PSDB, para junto com PSC e Cidadania montarem um palanque. As pesquisas definiriam entre os dois prefeitos quem concorreria ao governo e ao Senado.
O presidente da República, em meio ao impasse, orientou que Gilson Machado buscasse o entendimento com o PL local. Bolsonaro precisa construir um palanque forte no estado, onde PT e PSB negociam uma aliança. Em entrevista a uma rádio em Pernambuco na quinta-feira, Bolsonaro sinalizou que ainda não fez um acordo e reforçou que não aceitará alianças com partido de esquerda, nem que o candidato seja independente.
— Eu fui colega do Anderson por um tempo como deputado federal, eu o acho excepcional, é um excelente nome aí para Pernambuco. Logicamente, a gente conversa com o Anderson, o Gilson e com o presidente do partido para ver se eles se entendem (sobre) qual é o melhor nome para o Pernambuco. Agora, muitas vezes, o colega quer vir candidato ao cargo majoritário do estado, do governador, e ser independente, não ter qualquer vinculação com o presidente da República, daí fica difícil de fazer acordo nessa linha — disse Bolsonaro.
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