Ciro Nogueira agora manda em Guedes
Foto: Adriano Machado/Reuters – 30/11/2021
A nomeação de Ciro Nogueira para a Casa Civil foi apontada, no ano passado, como o casamento definitivo entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o Centrão. Agora, o chefe do Executivo conferiu ainda mais poder ao ministro, delegando a ele a responsabilidade de dar aval a mudanças feitas no Orçamento, tarefa que antes era exclusiva do titular da Economia, Paulo Guedes.
O movimento é visto como uma forma de garantir o cumprimento de acordos envolvendo a liberação de emendas para o bloco político do ministro. Como revelou o Estadão, o governo Bolsonaro passou a apostar na liberação de recursos para parlamentares alinhados à pauta governista, sobretudo integrantes do Centrão, para preservar sustentação e evitar o avanço de eventuais processos de impeachment. O pagamento das emendas tipo RP9, as emendas de relator, se tornaram a base do esquema, o chamado orçamento secreto.
A mudança ocorre às vésperas da sanção do Orçamento de 2022, que ainda não foi feita. Pela legislação, o presidente tem até o dia 21 para sancionar o texto. A inclusão da Casa Civil, chefiada pelo ministro do Centrão, vem em um momento em que há grande disputa por recursos, com Guedes tentando manter o “cofre fechado” de um lado e a ala política defendendo mais gastos.
Ciro é um dos principais alvos no mundo político da Operação Lava Jato, mas tem se beneficiado do enfraquecimento sofrido pelas investigações. Em março do ano passado, o Supremo decidiu arquivar uma denúncia por organização criminosa apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra Nogueira e mais três deputados no caso conhecido como “quadrilhão do PP”, que apurava um esquema de desvio de recursos na Petrobras.
De acordo com a acusação da PGR, o esquema também teria atingido a Caixa Econômica Federal e o extinto Ministério das Cidades, hoje parte Ministério do Desenvolvimento Regional, com objetivo de obter propina de forma estável e “profissionalizada”.
O político é ainda alvo de inquéritos que investigam propina recebida da Odebrecht e da JBS, mas nega irregularidades. “O senador Ciro Nogueira foi colocado sob foco de investigação num momento no qual havia, claramente, uma tendência de criminalização da política. Uma estratégia vulgar adotada pela tal Operação Lava Jato e que já foi condenada pelo Supremo Tribunal”, disse à época o advogado do parlamentar, Antônio Almeida de Castro, o Kakay.
Até 2018, Nogueira era ligado aos principais adversários de Bolsonaro, mas, em alguns anos, o ministro passou de alguém que chamava o chefe do Executivo de “fascista” para, agora, ocupar uma sala ao lado dele dentro do Palácio do Planalto.
Nas eleições presidenciais de 2018, Nogueira apoiou Fernando Haddad (PT) desde o primeiro turno, inclusive com a participação de comícios do petista no Piauí. A decisão de apoiar o PT contrariou a própria legenda dirigida pelo parlamentar. Isso porque o Progressistas fez parte da coligação do então candidato Geraldo Alckmin (à época, no PSDB).
Durante a eleição de 2018, após a candidatura de Lula ter sido barrada pela Justiça Eleitoral, o ministro chegou a declarar que ficaria com o ex-presidente “até o fim”.
Críticas a Bolsonaro não faltaram. “O Bolsonaro, eu tenho muita restrição, porque é fascista, ele tem um caráter fascista, preconceituoso, é muito fácil ir para a televisão e dizer que vai matar bandido”, afirmou Nogueira em 2017, em entrevista à TV Meio Norte, emissora do Piauí, sobre o então presidenciável pelo PSL.
Antes de ser filiado ao Progressistas, o parlamentar do Piauí foi do PFL (hoje DEM) e do PTB, tendo iniciado sua carreira política em 1994, ao ser eleito para uma vaga na Câmara dos Deputados. Em 2009, tentou ser presidente da Casa e ficou em segundo lugar, com 129 votos, atrás de Michel Temer (MDB), que foi eleito com 304 votos. Exerceu o cargo de deputado até 2010, quando foi eleito senador. Ao se afastar do Senado para virar ministro, sua mãe, Eliane Nogueira, assumiu o posto.
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