Ciro Nogueira elogiava Lula e chamava Bolsonaro de “fascista”
Foto: Isac Nóbrega/PR
O senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP e chefe da Casa Civil do governo, parece indignado com a história de que existiria um Centrão do bem, o que se dispõe a apoiar Lula para presidente, e o Centrão do mal, o que apoiará a reeleição de Jair Bolsonaro.
Não se sabe de onde ele tirou isso. Lula nunca fez tal distinção. Procura entender-se com os que possam ajudá-lo a derrotar Bolsonaro e sua milícia. No passado, Nogueira aliou-se a Lula e a Dilma, e chamou Bolsonaro de fascista. Quem mudou?
Não existe Centrão do bem e Centrão do mal, só existe Centrão, o grupo fisiológico de partidos que, em troca de favores, sinecuras e de muito dinheiro, está sempre disposto a apoiar o governo, seja ele de direita ou de esquerda. Nada de pessoal, negócios são negócios!
Nogueira, Arthur Lira (AL), presidente da Câmara, e outros líderes do PP fizeram as contas e concluíram que desta vez seria mais lucrativo juntarem-se a Bolsonaro. Hoje, mandam em uma gigantesca parcela do Orçamento sem dar satisfações a ninguém.
Amanhã, se Bolsonaro não se reeleger, não tem problema. No Congresso, a princípio, estarão à disposição do novo presidente para aprovar tudo que seja do interesse do país. No momento seguinte, se o presidente julgar necessário, entrarão no governo.
Nogueira não gosta de brigar com ninguém, nem mesmo com sua mulher. Se partiu para dar estocadas em Lula foi porque Bolsonaro não sabe fazer política, nunca soube, e sairá do governo sem saber. Alguém terá que fazer isso por ele, e Nogueira se ofereceu.
Lula é o candidato da conversa, Bolsonaro da controvérsia. Lula é o candidato da conciliação, Bolsonaro do desacordo. Enquanto Lula tem um partido que fundou e lidera, Bolsonaro aluga um para chamar de seu, depois de ter passado por meia dúzia de outros.
No mesmo dia em que Ciro sugeriu que Lula, se eleito, significará a volta ao poder de gente como Gleisi Hoffmann, presidente do PT, José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil, e João Vaccari, ex-tesoureiro do PT, Lula prometeu o oposto:
“Nós não vamos trabalhar para remontar o governo de 2003, 2004, 2005. O tempo passou, tem muita gente nova no pedaço e eu pretendo montar um governo com muita gente nova, com gente importante e com muita gente com muita experiência.”
Nem para a ex-presidente Dilma, Lula abre exceção:
“Dilma é uma pessoa pela qual eu tenho o mais profundo respeito e carinho. Ela tecnicamente é uma pessoa inatacável, tem uma competência extraordinária. Onde ela erra, em minha opinião, é na política [por falta de traquejo e paciência].”
“Sou daqueles políticos que, se o cara estiver contando uma piada que eu já sei, não vou dizer que sei, que conte outra. Tudo bem, se for necessário rir… Nisso eu acho efetivamente que cometemos um equívoco pela pressão em cima da Dilma [em 2016].”
O que Lula não pode admitir é que errou em 2010 quando escolheu Dilma para sucedê-lo, e em 2014 quando lhe faltou coragem para dizer a ela que o candidato à sua sucessão seria ele, com o apoio da direita que agora procura para governar de novo.
A deste ano será a nona eleição presidencial do país a ser travada à sombra de um mesmo político. Não há precedente. Lula perdeu as três primeiras na condição de segundo candidato mais votado; venceu a quarta e a quinta e elegeu Dilma na sexta e na sétima.
Em 2018, condenado e preso, de dentro da cela liderou todas as pesquisas de intenção de voto até que a Justiça Eleitoral o impediu de concorrer quando faltavam pouco mais de 30 dias para o primeiro turno. Bolsonaro é o candidato favorito a perder para ele.
Nogueira presta um relevante serviço a Lula ao se esforçar para manter Bolsonaro no páreo. Lula ficará eternamente grato por isso. Seja qual for o resultado, os dois, mais tarde, trocarão confidências a respeito e rirão muito, tomando uma cachacinha.
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