Já faltam testes de covid em SP
Foto: Lucas Borges Teixeira/UOL
“Só por agendamento, mas, agora, só semana que vem, a partir de quarta”, informa a atendente de uma farmácia nos Campos Elíseos, região central de São Paulo, a um grupo de jovens que pretendia descobrir se seus sintomas eram de covid-19 ou gripe.
A cena virou rotina entre quem procura fazer o teste para covid nas redes de farmácia e nos laboratórios da capital paulista nesta semana. Com a explosão de procura por testagem — e de resultados positivos —, as unidades têm apresentado lotação na agenda e até desabastecimento.
Ao UOL, as associações e empresas confirmaram o aumento da procura, mas evitam falar em escassez.
“Essa é a terceira farmácia que eu venho e só tem para a semana que vem, não sei como vou fazer”, conta a analista Fátima Guedes, ao sair de uma farmácia em Higienópolis, região central da capital, ontem (6). Ela pretendia fazer o teste rápido de antígeno – “resultado em 20 minutos”, informa a placa — para visitar a mãe, no interior.
Na unidade, o próximo horário disponível só estava previsto para a tarde da próxima sexta (14). “O telefone não para de tocar. Eu nunca vi isso. Achei que não ia piorar em relação ao final do ano, mas piorou — e muito”, conta Luciano, atendente da unidade.
Segundo a Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias), a procura por testes de covid aumentou em 50% na semana entre 27 de dezembro e 2 de janeiro em relação à semana anterior (20 a 26 de dezembro): de 188.545 para 283.763 exames no país em sete dias. Para esta semana, espera-se um crescimento ainda maior.
Além de filas, a procura pós-festas de final de ano tem causado desabastecimento das unidades. Entre quarta (5) e ontem, a reportagem visitou sete unidades e ligou para mais 11 de diferentes regiões. Das 18 unidades procuradas, 11 apresentavam data pelo menos a partir de quarta (12) e sete já diziam não poder estimar por falta de teste.
Em uma unidade na Avenida Paulista, a gerente conta que passou grande parte do dia ligando para cancelar a testagem dos mais de trinta agendados porque o estoque, sem reposição desde a semana do Natal, acabou. O tempo que lhe sobrou, ela brinca, usou para explicar isso aos que tentavam agendamento.
A unidade dos Campos Elísios e uma outra em Pinheiros, na zona oeste, de empresas diferentes, decidiram acabar com os chamados encaixes —quando os clientes ficam na loja à espera de um possível agendamento faltoso— porque o número de agendamentos já não dá conta e a possibilidade de encaixe estava gerando longas filas internas, entre as prateleiras.
A dentista Luana Alves, 43, saiu irritada de um laboratório de diagnósticos na rua Augusta, nos Jardins, na manhã de ontem. Com horário marcado para um exame de RT-PCR em seu filho adolescente, que apresentava sintomas de gripe, ela descobriu no local que haviam acabado os testes.
“Chegando aqui, eles disseram que o agendamento que fiz pela internet era para agilizar o check-in e não garantia o exame. Falaram que eu devia me registrar e depois poderia fazer o exame a hora que quisesse. Mas eu quero agora! Deviam ter me avisado antes, para procurar outro lugar”, reclama a dentista.
Procurada para falar sobre o desabastecimento e o motivo de não avisar os clientes previamente, a Dasa, conglomerado de medicina diagnóstica responsável pelo laboratório, não comentou.
Internamente, os funcionários explicavam aos clientes irritados que os testes acabaram e que o registro on-line era “apenas um facilitador”. Por isso, infelizmente, eles não poderiam marcar ou estabelecer um prazo, pois dependeriam de novas remessas.
A reportagem procurou outras unidades e outras empresas, que, sem mencionar desabastecimento, indicavam janelas de agendamento apenas para a semana que vem.
Segundo a Abramed (Associação Brasileira de Medicina Dignóstica), o volume de exames para Covid cresceu 30% na última semana de 2021, em relação à semana anterior. Novos dados deverão ser divulgados na próxima segunda (10).
Não só a procura aumentou, mas o índice de casos positivados também saltou neste início do ano. “Em dezembro, as pessoas vinham para poder viajar e negativavam. Agora as pessoas vêm porque viajaram e positivam”, brinca Luciano, que atende em Higienópolis.
De acordo com a Abrafarma, o número de casos positivos entre 27 de dezembro e 2 de janeiro aumentou em 324% em relação à semana anterior. A penúltima semana de 2021 registrou 22.283 casos positivos em farmácias no Brasil, enquanto a que abriu 2022 teve 94.540 confirmações.
A Abramed também viu os números subirem de 6%, antes do Natal, para 15%, na semana do Réveillon. “Já se fala de 50% de positividade para essa semana – a confirmar”, informou a associação.
Na rede Dasa, a positividade em testes rápidos de antígeno alcançou 24,27% em 2 de janeiro, maior patamar da série histórica. Os maiores aumentos ocorreram em São Paulo (31%) e no Rio de Janeiro (30%). Entre os testes de RT-PCR nas mais de 900 unidades da rede no país, a taxa de positividade saltou de 1,38% em 4 de dezembro para 27,22% em 2 de janeiro.
O mesmo movimento foi observado nos exames do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, que viu sua taxa de positivos pular de 1,5% no início de dezembro para 37% no início de janeiro.
As redes de farmácia e de medicina diagnóstica confirmaram ao UOL que a procura por testes de covid-19 tem crescido progressivamente nas últimas semanas, mas evitaram mencionar desabastecimento.
Em nota, a rede RaiaDrogasil afirmou que a demanda aumentou 54% em dezembro de 2021, quando comparado com o mês de novembro do mesmo ano. “Porém, quando comparado com dezembro de 2020, observa-se uma queda de 21%”, informou.
Já a Extrafarma declarou ter registrado um “aumento expressivo na procura por testes de covid-19, em decorrência das festas de final de ano e período de férias escolares”. Segundo a empresa, as unidades estão realizando testes “normalmente”.
A Pague Menos disse ter registrado um crescimento “relevante” nas últimas semanas, quando comparadas com o mesmo período de 2020.
Procurados, os grupos Fleury, de medicina diagnóstica, e DPSP, que reúne as drogarias Pacheco e São Paulo, não responderam à reportagem.
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