Moro patina nas redes e preocupa aliados

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Foto: Arte Metrópoles

Quase três meses após filiação ao Podemos, o ex-juiz Sergio Moro ainda não conseguiu alavancar suas redes sociais e segue com um desempenho virtual aquém do desejável. Uma das principais apostas para a dita “terceira via”, Moro enfrenta desafios para além das negociações partidárias.

Apesar de ser o segundo presidenciável com o maior número de seguidores no Twitter — atrás apenas do presidente Jair Bolsonaro (PL) —, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública ainda apresenta crescimento tímido na principal plataforma digital do universo político e patina na comunicação digital de modo geral. Mesmo entre aliados de seu partido, Moro tem empolgado pouco.

Militantes tentam bombar Moro no WhatsApp e Telegram, mas faltam memes

Após deixar o governo, em abril de 2020, Moro passou alguns meses nos Estados Unidos e submergiu. De volta ao Brasil de forma definitiva em novembro, sua candidatura à Presidência da República começou a tomar corpo, e ele passou a contar com o trabalho do marqueteiro do Podemos, Fernando Vieira.

Nos últimos meses, Moro tem sido submetido a um media training, com preparação para entrevistas e discursos, e também passou a fazer acompanhamento com um fonoaudiólogo para melhorar a dicção.

Entre 10 de novembro, data da ida ao Podemos, até 28 de janeiro, Moro conquistou pouco mais de 25 mil seguidores no Twitter. O número fica muito abaixo do conquistado em abril de 2020, quando saiu do governo e ganhou, em um único mês, 563,5 mil seguidores. Também é menos do que o adquirido no mesmo período pelos três principais adversários (Bolsonaro, Lula e Ciro).

Desde que assumiu a pretensão política, a mudança na estratégia digital de Moro tem sido observada em números e em tipos de postagens. Usando o caso do Twitter, onde possui maior visibilidade, Moro passou a postar com mais frequência: 25,5% a mais do que nos 30 dias anteriores.

Com exceção do mês em que entrou na plataforma (abril de 2019), janeiro de 2022 foi o mês em que o ex-juiz mais escreveu.

A biografia (autodescrição) na rede do passarinho também mudou de uma frase em latim para “Casado com Rosângela, pai orgulhoso de dois filhos e professor. Confiança crescente no Brasil”.

Além disso, Moro passou a responder mais adversários e a gravar vídeos para testar sua oralidade. Em 2019, ele defendia não responder a “criminosos, presos ou soltos”. Agora, porém, ele responde diretamente Lula e Bolsonaro, os dois nomes à frente nas pesquisas de intenção de voto para 2022.

 

Nenhum dos tuítes com mais retuítes e favoritados é recente; são todos dos anos de 2019 e 2020.

Para o advogado e cientista político Nauê de Azevedo, o comportamento de Moro nas redes sociais até o momento é condizente com o de um pré-candidato, mas não parece estar gerando o burburinho que poderia, levando em conta a trajetória do ex-juiz e ex-ministro.

“Há uma dificuldade de se comunicar com o povão e ultrapassar a aliança que teve com Bolsonaro, que lhe rendeu uma espécie de teto de vidro”, avalia Azevedo.

Ele analisa que a estratégia de comunicação digital tem sido boa, mas o candidato não tem conseguido gerar empatia. “O problema é do próprio candidato, que não conseguiu até o momento gerar carisma, empatia com o eleitor, que não consegue ganhar o coração das pessoas. Ele não está se saindo muito bem em vender as próprias ideias. E ele precisa lidar com o pós-bolsonarismo”, explica.

Nos nove meses restantes até as eleições, a avaliação é que Moro ainda pode vir a conquistar uma fatia maior do eleitorado e se colocar como um candidato viável dentro da prospecção da turma do “nem-nem” (eleitores que não querem votar nem em Bolsonaro nem em Lula), mas, para tanto, Moro precisará melhorar o discurso, inclusive sendo mais propositivo. “O discurso dele ainda é muito incipiente fora daquela região Sul-Sudeste”, avalia o especialista.

Para ampliar seu escopo, Moro terá que aproveitar melhor as ferramentas digitais, tendo em vista a tendência de relevância das redes em 2022, assim como em 2018, quando tiveram papel decisivo na eleição de Bolsonaro.

Entre novembro de 2021 e janeiro de 2022, Moro só ultrapassou Doria em número de novos seguidores, mas viu seus adversários crescerem muito mais no mesmo intervalo.

Nas outras redes sociais, o ex-juiz segue atrás ou pouco à frente de seus principais adversários. No Instagram, Moro tem 2,5 milhões de seguidores, ante 19,1 milhões de Bolsonaro e 4 milhões de Lula. Ele ultrapassa apenas Ciro e Doria, que têm 1,2 milhão cada. No Facebook, são 47 mil, número muito menor que os de Bolsonaro (10,9 milhões), Lula (4,1 milhões), Doria (2,4 milhões) e Ciro (834 mil).

No canal no YouTube, lançado em novembro do ano passado, o ex-juiz federal tem 12,5 mil inscritos e menos de 15 vídeos enviados. Em comparação, Bolsonaro tem 3,6 milhões de inscritos; Lula acumula 387 mil; Ciro tem 350 mil; e Doria, 19,4 mil.

Em busca de maior tempo de rádio e TV e fundo eleitoral, Moro sinaliza migração para outro partido, o União Brasil, decorrente da fusão entre o DEM e o PSL. Lideranças do União Brasil alegam que o pré-candidato teria maior viabilidade em uma legenda maior. Em 2022, a sigla terá um fundo eleitoral de cerca de R$ 1 bilhão, ante R$ 250 milhões do Podemos.

Moro desconversa oficialmente sobre o assunto, mas sabe que o fundo eleitoral robusto do União Brasil pode ajudar a turbinar sua pré-campanha.

Pelo acordo costurado, Moro seria candidato à Presidência da República pelo União Brasil, e o Podemos indicaria o candidato a vice. O nome da legenda para a chapa poderia ser o da própria presidente nacional do Podemos, deputada Renata Abreu (SP).

Entre as dificuldades para formalizar a mudança, está o palanque de São Paulo. Moro prometeu estar ao lado do deputado Arthur do Val, que se filiou ao Podemos para disputar o Palácio dos Bandeirantes. Já o União Brasil tem acerto para apoiar o atual vice-governador do estado, Rodrigo Garcia (PSDB), ao Palácio dos Bandeirantes.

Metrópoles  

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