Pesquisa diz que Lula tomou popularidade digital de Bolsonaro
Foto: Pedro Ladeira/Folhapress/ Miguel Schincariol/AFP
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terminou o ano de 2021 à frente de seu rival Jair Bolsonaro (PL) em termos de popularidade digital.
O presidente variou nos primeiros dias de 2022, perdendo pontos nas redes com as folgas em Santa Catarina, mas recuperando posições a partir da internação hospitalar em São Paulo.
Na maior parte do ano, contudo, Bolsonaro foi quem liderou o IPD (Índice de Popularidade Digital), medido pela consultoria Quaest, o que confirma a capacidade e expertise do bolsonarismo de engajar na internet.
Lula, que está em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais de intenção de voto para a Presidência da República, chegou a ultrapassar a popularidade digital de Bolsonaro em curtos períodos e, desde seu giro pela Europa em novembro, assumiu a dianteira.
Em dezembro, o jantar que reuniu Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido), seu possível vice, também foi bem recebido pelos internautas, o que contribuiu para que o petista ganhasse pontos no IPD.
Já a internação de Bolsonaro no último dia 3 serviu para aumentar sua popularidade nas redes, que vinha em baixa em meio ao desgaste dos dias que passou em Santa Catarina —o presidente manteve a folga apesar das fortes chuvas na Bahia.
Bolsonaro deu entrada no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, após uma obstrução intestinal causada por um camarão não mastigado no dia anterior. O quadro está relacionado à facada sofrida pelo presidente durante a campanha eleitoral de 2018.
Como mostrou a Folha, a partir da internação, os filhos e aliados de Bolsonaro passaram a relembrar o atentado nas redes sociais, além de pedir por orações. O presidente negou fazer uso eleitoral de sua questão de saúde, mas bolsonaristas creem que a facada será explorada na eleição deste ano.
É a segunda vez que uma internação por obstrução intestinal alavanca o IPD de Bolsonaro. Em julho, o presidente subiu cerca de 25 pontos devido ao problema de saúde, num contexto de desgaste por acusações de corrupção na CPI da Covid e protestos de rua da oposição.
Desta vez, o IPD de Bolsonaro, que estava na casa dos 40 pontos, chegou a 54 nos dias de internação.
“A recuperação de Bolsonaro no IPD foi menor do que em julho. Ou seja, essa estratégia de tentar alavancar popularidade a partir de um fato real e lamentável, que foi a facada, vai perdendo força”, afirma o cientista político Felipe Nunes, que é diretor da Quaest e responsável pelo IPD.
Nesta segunda-feira (10), Bolsonaro tinha 52 pontos no IPD, contra 60,3 de Lula. Ciro Gomes (PDT) está em terceiro, com 24,6 pontos, seguido de Sergio Moro (Podemos), com 18,8. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), marcou 17 pontos, enquanto Felipe d’Ávila (Novo) chegou a 14,4, e Rodrigo Pacheco (PSD) teve 11 pontos.
O IPD mostra ainda que as redes sociais reagem mal em relação às folgas do presidente. Bolsonaro viajou a São Francisco do Sul (SC) no último dia (27) para passar o Réveillon com a primeira-dama Michelle e a filha mais nova, Laura. Antes do Natal, ficou no Forte dos Andradas, em Guarujá (SP), entre os dias 17 e 23.
As cenas de descanso na praia e os passeios de moto aquática chegaram a constranger aliados e membros do governo federal. A hashtag #BolsonaroVagabundo entrou na lista de “assunto do momento” do Twitter.
“Fizemos coisas fantásticas ao longo desses dias que dificilmente outro governo estaria fazendo. O presidente não tem férias. É maldoso quem fala que estou de férias. Eu dou minhas fugidas de jet ski. Dou lá uns cavalos de pau no Beto Carrero”, disse Bolsonaro a respeito da folga.
A métrica do IPD avalia, desde 2019, o desempenho de personalidades da política nacional nas plataformas Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, Wikipedia e Google. A performance é medida em uma escala de 0 a 100, na qual o maior valor representa o máximo de popularidade.
São monitoradas seis dimensões nas redes: fama (número de seguidores), engajamento (comentários e curtidas por postagem), mobilização (compartilhamento das postagens), valência (reações positivas e negativas às postagens), presença (número de redes sociais em que a pessoa está ativa) e interesse (volume de buscas no Google, YouTube e Wikipedia).
Na opinião do diretor da Quaest, a mudança na configuração do gráfico do IPD ao longo do ano mostra que “a internet aos poucos vai se aproximando da opinião pública não digital”, considerando que Lula lidera as pesquisas eleitorais e que Bolsonaro tem um governo mal avaliado –53% de reprovação segundo pesquisa Datafolha de dezembro.
Em relação a Lula, Nunes aponta que a aliança com Alckmin foi bem recebida em sua base.
“A internet parece entender ser um gesto que amplia a capacidade de diálogo do lulismo com outros setores, o que gera uma reputação positiva. Alckmin é a ‘carta ao povo brasileiro’, a personificação de que Lula pretende fazer um governo de conciliação e não de revanchismo”, avalia Nunes.
O cientista político chama atenção para o fato de que Lula iniciou o ano muito distante de Bolsonaro no ranking e conseguiu avançar –ao contrário do que aconteceu em 2019 e 2020, quando o presidente liderou isolado.
“Lula adaptou bem sua estratégia digital e passou a competir em vários momentos em pé de igualdade com o bolsonarismo. É uma vantagem importante para Lula”, resume.
Nunes afirma que o petista apostou em construir uma imagem positiva, buscando satisfazer a opinião pública ao falar de pandemia, vacinação, inflação, fome e miséria. Além disso, buscou, por meio de viagens, retomar a boa imagem do Brasil no exterior.
Ainda assim, Bolsonaro segue sendo o político com maior capacidade de capitalizar nas redes.
“Ele é capaz de gerar comentários positivos a partir de eventos, como as motociatas ou o 7 de Setembro. É um ator político de mobilização, é isso que caracteriza o bolsonarismo e por isso ele tem essa dianteira importante no IPD. Mas 2021 mostrou que o presidente pode estar perdendo esse ativo”, pontua Nunes.
Isso porque Bolsonaro “continua apostando em pautas que foram ruins para ele, como falar contra a vacinação de crianças”, resume o cientista político.
Outro fator que explica a queda de Bolsonaro no IPD é a mudança de postura depois do 7 de Setembro. Após inflamar a base com ameaças autoritárias, o presidente voltou atrás nos ataques aos demais Poderes a partir de uma carta mediada pelo ex-presidente Michel Temer (MDB).
Como o engajamento e a mobilização dos bolsonaristas depende de polêmicas, a popularidade digital de Bolsonaro caiu de patamar. “Ao diminuir sua presença no debate político cotidiano, Bolsonaro perde força na reputação digital. Sem as polêmicas, a imagem do presidente tende a ser fraca porque sua gestão é fraca”, diz Nunes.
Os demais candidatos à Presidência da República aparecem bem abaixo de Bolsonaro e Lula no IPD, o que reflete a esperada polarização nas eleições deste ano e as próprias pesquisas eleitorais, em que a terceira via também ocupa um segundo pelotão de intenção de votos.
Na pesquisa Datafolha de dezembro, Lula tem 48% das intenções de votos, seguido por Bolsonaro, com 22%. Moro tem 9%, Ciro alcança 7%, e Doria, 4%. Felipe d’Ávila não pontuou.
O ex-juiz da Lava Jato cresceu no IPD a partir da oficialização de sua entrada na corrida para a Presidência por meio da filiação ao Podemos, em novembro.
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