Profissionais de saúde pró e contra vacinas se candidatam

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Foto: Tiago Queiroz/Estadão, Marcos Correa/PR, ASCOM Governo Maranhão, Daniel Teixeira/Estadão

Após quase dois anos de pandemia do coronavírus, personagens que tiveram destaque na crise sanitária vão tentar usar o tema como vitrine para conquistar votos. A polarização política que domina a doença também se reflete nas candidaturas. Tanto nomes que se notabilizaram pela defesa do distanciamento social e da vacinação quanto aliados do presidente Jair Bolsonaro, que criticam as mesmas medidas, já se lançaram na corrida eleitoral deste ano.

Um dos exemplos é a enfermeira Mônica Calazans, a primeira pessoa vacinada no Brasil, que nesta semana se filiou ao MDB para disputar uma cadeira de deputada federal. “É uma excelente profissional e um exemplo de quem esteve na linha de frente da pandemia. Uma aposta do MDB para termos mais equidade e renovação na Câmara”, afirmou o presidente nacional do partido, Baleia Rossi (SP).

Sem nunca ter disputado uma eleição, o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, Carlos Lula, é outro que pretende estrear nas urnas após se tornar o porta-voz dos Estados nas discussões com o governo Bolsonaro. O advogado, que é secretário do governo do Maranhão, se notabilizou por muitas vezes contrariar o ministério da Saúde, como na exigência de prescrição médica para a vacinação de crianças. A Pasta acabou recuando depois.

“Recebi o convite do governador (do Maranhão, Flávio Dino) e me filiei ao PSB. Devo ser candidato a deputado estadual”, afirmou Lula ao Estadão. Em julho, ao se filiar, o secretário declarou nas redes sociais que “estreia na vida político-partidária para defender os avanços conquistados na saúde”.

Do outro lado, apoiadores de Bolsonaro que tem se posicionado na contramão das autoridades mundiais da saúde também querem usar a notoriedade adquirida na crise sanitária para se elegerem. A médica Nise Yamaguchi, que no ano passado precisou depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado por pregar tratamento da covid com substâncias ineficazes, anunciou em dezembro a intenção de ser candidata ao Senado.

“Não tenho partido. Não sou política. Não sei ainda qual partido vou acolher, mas sei que serei uma pessoa independente. Estou dizendo que vou ter uma candidatura independente. Qual vai ser o partido? O mais ético que encontrar, o mais correto que encontrar”, afirmou em vídeo divulgado nas redes sociais.

Também convocada para depor na CPI, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”, sinalizou que também deve concorrer. Em julho do ano passado, Mayra publicou uma enquete nas redes sociais para testar o apoio de seus seguidores em uma eventual candidatura ao Senado. Hoje sem partido, Mayra foi filiada ao PSDB e disputou o cargo de deputada federal em 2014 e senadora em 2018, mas não foi eleita em nenhum dos casos.

Para o cientista político Bruno Carazza, professor do Ibmec e da Fundação Dom Cabral, o movimento é algo natural, a exemplo da enxurrada de policiais, juízes e procuradores que disputaram a eleição em 2018 na esteira da Operação Lava Jato. “Como todo tema que domina as atenções da sociedade por um tempo, sempre surgem personagens que buscam surfar na onda de popularidade e se lançam candidatos. Com a pandemia não vai ser diferente”, disse ele.

No entanto, Carazza aponta diferenças em relação ao observado quatro anos atrás. “O envolvimento de policiais na política faz parte de um fenômeno muito mais complexo, que já vem de longa data e está associado tanto a demandas corporativas dos militares, quanto de uma demanda da sociedade por mais ordem e segurança”, explicou o cientista político. “Mas se não tiverem dinheiro para bancar a campanha, mesmo candidatos que ganharam visibilidade na pandemia terão dificuldades para serem eleitos”, completou.

Dos quatro ministros da Saúde que o Brasil teve durante a pandemia, três deles podem enfrentar as urnas em outubro. Apenas o médico Nelson Teich, que ficou menos de um mês no cargo, não teve o nome especulado como candidato.

Seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, tem usado a experiência na pasta como uma forma de ter relevância nacional. Mandetta saiu do Ministério da Saúde em meados de 2020, logo no início da pandemia, por divergências com Bolsonaro.

O ex-deputado pelo DEM do Mato Grosso do Sul ainda não definiu seu destino eleitoral, mas sua atuação em 2022 tem contrastado com o papel que exerceu em 2018. Há quatro anos, o então deputado federal adotou um tom de descrença na política e anunciou que não disputaria a eleição. “Poder pelo poder jamais me encantou”, declarou durante discurso feito à época no plenário da Câmara.

De atuação discreta no comando do Ministério da Saúde em 2019, primeiro ano da gestão de Bolsonaro e antes da pandemia do coronavírus, Mandetta ganhou protagonismo nacional ao falar sobre a crise sanitária. Mesmo após ter saído do cargo, o ex-ministro ainda fala como uma espécie de porta-voz dentro do mundo político quando o assunto é coronavírus.

Ele chegou a ser apontado como pré-candidato do DEM à Presidência, mas, após a legenda se fundir com o PSL para formar o União Brasil, também abriu a possibilidade de apoiar a pré-candidatura de Sérgio Moro (Podemos). Se a aliança de Moro com o União Brasil for concretizada, Mandetta é, junto com o presidente do futuro partido, Luciano Bivar, uma das opções de vice do ex-juiz.

O atual ocupante da pasta, Marcelo Queiroga, também deve enfrentar as urnas. Médico cardiologista e sem vida pregressa na urnas, sua candidatura é defendida por Bolsonaro. A ideia é que o ministro se filie ao PL para disputar o governo da Paraíba ou uma vaga ao Senado.

Já o general Eduardo Pazuello, mais longevo ministro da Saúde da pandemia, chegou a ter o nome cotado para disputar o governo do Rio de Janeiro, mas a candidatura perdeu força após ele ser alvo de acusações na CPI da Covid e de denúncia na Justiça por sua atuação na pasta. Atualmente o militar exerce um cargo na Secretaria de Assuntos Especiais da Presidência, com sala no Palácio do Planalto.

O combate à covid-19 também influencia os discursos de nomes já consolidados na política. Um dos principais exemplos de uso da vacina como plataforma eleitoral, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tem batido nessa tecla como forma de ganhar atenção para a disputa presidencial. O chefe do Poder Executivo paulista foi o responsável por trazer a primeira vacina para o País, em janeiro de 2020.

O coordenador da pré-campanha do tucano e secretário particular do governador, Wilson Pedroso, ressaltou a importância do tema para o político do PSDB. “Para o Doria a vacina será o que foi plano real para o FHC. A vacina está na casa de todos. Não tem como esquecer um tema desse na campanha”, afirmou.

Estadão  

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