Putin acena a líderes de Brasil, Argentina e Venezuela

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Foto: Presidência da Rússia/Divulgação

Moscou flerta com governos da América do Sul em meio à crise com os Estados Unidos e a Europa na disputa pela Ucrânia.

Vladimir Putin exercita a ambiguidade num balé diplomático com governantes do Brasil, da Argentina e da Venezuela.

Quinta-feira passada (20), manteve uma longa conversa telefônica com Nicolás Maduro, ditador da Venezuela.

Caracas é o maior cliente sul-americano do arsenal russo. As compras militares aumentaram cerca de 10% no ano passado, estimulando a retomada da linha aérea entre os dois países.

Maduro apresentou a sua “solidariedade” a Putin no embate com a Europa e os Estados Unidos. Acabou convidado para uma nova visita à Rússia. Dmitri Peskov, portavoz russo, negou que o item “bases militares na Venezuela” tenha constado “especificamente” da conversa.

Na próxima quinta-feira (3), Moscou recebe Alberto Fernández, presidente da Argentina. Sua agenda com Putin deverá ser “pragmática”, definem diplomatas argentinos.

Ressalvam a necessidade de cautela nas relações com Washington, porque o governo Joe Biden acaba de dar aval a um novo socorro financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI). E esse acordo é fundamental à estabilidade do governo Fernández até às eleições presidenciais de 2023.

Na sequência, quem embarca é Jair Bolsonaro. A viagem está prevista para a segunda quinzena de fevereiro.

Bolsonaro e Putin têm algumas afinidades, entre elas o apreço pela autocracia — no caso do brasileiro, limitado à recorrente nostalgia de um regime falido e ultrapassado em 1985.

“Ele é um conservador, sim”, disse Bolsonaro na última quinta-feira. “Eu vou estar mês que vem lá, atrás de melhores entendimentos, relações comerciais. O mundo todo é simpático com a gente.”

Nem tanto. No dia seguinte, em Washington, repórteres da BBC News ouviram de funcionários do Departamento de Estado o seguinte recado a Bolsonaro: “O Brasil tem a responsabilidade de defender os princípios democráticos e proteger a ordem baseada em regras, e reforçar esta mensagem para a Rússia em todas as oportunidades.”

É possível entrever alguma ironia numa cobrança a Bolsonaro para que defenda “princípios democráticos” e proteja “a ordem baseada em regras”, seja numa vista a Moscou ou na rotina de governo em Brasília. Sobretudo quando parte do governo Biden, que ele considera produto de fraude nas urnas — como insinuou ao conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, e ao assessor especial de Biden, Juan González, durante audiência no Palácio do Planalto, em agosto.

O balé de Bolsonaro e Putin tem avançado à margem da crise da Ucrânia. Em novembro, o chanceler Carlos França passou pelo Kremlin. Mês passado, o almirante Flávio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos, esteve no Ministério da Defesa russo. Recebeu ofertas atraentes.

Para Putin, esse balé diplomático é oportuno. Rússia e Brasil integram o grupo conhecido como Brics, junto com a Índia, a China e a África do Sul.

Numa rara conjunção astral diplomática, neste ano todos os países do Brics têm assento e voto no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Não devem constituir uma sólida frente de apoio à Rússia na ONU. Mas, para Putin, pouco importa. Basta que não contrariem os seus interesses estratégicos no Conselho de Segurança em meio à crise com os EUA e a Europa. Já seria motivo para brinde de vodka em noite gélida no Kremlin.

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