Tabata Amaral diz ao PSB que não vai apoiar Lula

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Foto: Gabriela Biló/Estadão

Uma das principais vozes no PSB contrária à formação de uma federação partidária com o PT, a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) diz não ver no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a capacidade de “unir o País da direita à esquerda”. Segundo ela, mesmo que uma aliança seja selada e seu partido decida apoiar a candidatura do petista ao Planalto, o acordo que tem com a sigla é de não ser obrigada a fazer campanha por qualquer nome. “Nunca fui forçada a dizer que apoiaria um candidato específico”, disse ela em entrevista ao Estadão. “Meu partido nunca pediu isso para mim.”

Por outro lado, Tabata vê com “muito bons olhos” a filiação do ex-governador de São Paulo e postulante a vice da chapa petista, Geraldo Alckmin, ao PSB. “Acredito que ele contribui para que essa conversa seja a mais ampla possível”, diz. Cotada para disputar a Prefeitura de São Paulo em 2024, ela diz não pensar em outro objetivo além da reeleição à Câmara, em outubro, mas não descarta a possibilidade de concorrer ao cargo daqui a dois anos.

Diante da falta de acordo para fechar alianças nos Estados, as cúpulas do PT e do PSB decidiram pedir mais prazo ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para formalizar uma possível federação partidária, novidade destas eleições. Impasses regionais ainda emperram um acordo.

As federações partidárias serão uma das novidades das disputas de 2022. Foram criadas pelo Congresso em setembro do ano passado, e regulamentadas por uma resolução do TSE publicada em 14 de dezembro, sob a relatoria do ministro Luís Roberto Barroso, presidente da Corte eleitoral.

Como a oposição declarada da senhora à formação de uma federação do PSB com o PT tem sido encarada dentro do partido?
Em todos os momentos até aqui eu tive a oportunidade de expor meu ponto de vista e participar do debate. E é só isso que eu peço. Eu vou respeitar qualquer decisão que meu partido tome, porque eu estou participando desse processo e podendo ser ouvida, podendo levar o meu lado, que é contra a federação com o PT. Essa democracia interna fez eu escolher o PSB. Essa foi a razão principal, porque dos partidos progressistas grandes, era o que não tinha um dono. É o que tem vários líderes que discordam, que vão para o debate.

Se o PSB fizer uma composição com o PT em uma federação, a senhora fará campanha para Lula?
Meu partido nunca pediu isso para mim. Obviamente, meu primeiro compromisso é contra o Bolsonaro desde sempre e para sempre, mas com uma solução que olhe para frente, que una o Brasil. Não sei se será possível. Não sabemos quem serão os candidatos. Minha inclinação não é votar no PT no primeiro turno, mas não terei dúvidas em fazê-lo no segundo turno, como fiz em 2018. A única coisa que está colocada é: se houver uma federação, está todo mundo junto. É o que eu gostaria? Não. É o que eu acho bom para o PSB, partido grande, com história? Não, acho que é muito ruim para o PSB, mas vou seguir. Nunca fui forçada a dizer que apoiaria um candidato específico. É claro que seria diferente se houvesse um candidato do partido. Seria o meu candidato. Não é o caso hoje, então estou bem tranquila.

A sra. saiu do PDT por ter votado a favor da reforma da Previdência. O PSB também foi contra a proposta e puniu parlamentares que votaram a favor. A sra. não teme que possa ser punida por uma futura divergência com o partido?
Não sei. Ninguém tem essa resposta. O que eu sei é que o que me fez escolher o PSB é que aqui as coisas são debatidas, o estatuto é seguido. O estatuto do PSB foi seguido na reforma da previdência, o PDT não. Nós temos o compromisso de que eu serei ouvida, de que o debate vai acontecer. Talvez o exemplo mais concreto e maior seja a federação com o PT. Sou absolutamente contra. Muito contra. Já tive a oportunidade de expressar isso, de participar de várias reuniões. Tenho uma visão que é minoritária quando a gente fala da bancada em termos de números, mas que é completamente consensual quando a gente fala das lideranças aqui de São Paulo. Se o PSB decidir pela federação, eu vou continuar no PSB, mas tendo a consciência de que eu pude me posicionar várias vezes. Inclusive, talvez tenha contribuído para mudar o rumo da conversa, para trazer pontos que não estavam sendo considerados. Sou cientista política. Acredito em partidos. Minha maior crítica ao PDT é porque não tem regra, é porque tem dono, porque minha voz não pôde ser ouvida.

A sra. acredita que tenha espaço dentro do partido para uma disputa a um cargo no Executivo, como a prefeitura de São Paulo?
Essa possibilidade é ventilada desde que eu me elegi deputada federal, e eu fico muito honrada, mas não espere de mim falar de qualquer eleição que não seja a que eu tenho que disputar esse ano. Seria errado, não faz sentido para mim. Depois dessa eleição que eu vou disputar e que é muito importante para o meu sonho de Brasil, para a contribuição que eu acredito que posso dar, a gente pode, sim, de futuras eleições. Escolhi o PSB para ser meu partido para a vida toda. E estou bem feliz com o espaço aqui em São Paulo, com o espaço nacional, com as pessoas ao lado de quem eu estou caminhando. E essas conversas vão seguir naturalmente.

A senhora tem uma posição muito clara contra a adesão à candidatura de Lula logo no primeiro turno. Como vê a possível filiação do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin ao PSB para ser vice na chapa do PT?

Vejo com muito bons olhos. Do meu lado, o Geraldo Alckmin será bem-vindo ao PSB, e eu já tive a oportunidade de dizer isso a ele. Acredito que ele contribui para que essa conversa seja a mais ampla possível. O que defendo há mais de um ano é que a gente tenha a frente mais ampla possível para enfrentar o bolsonarismo. Se essa frente for com o PT, ótimo. É um dos principais partidos do país. Eu só não acredito que um partido único, com nome único, tenha capacidade de unir o Brasil da esquerda à direita, tenha a capacidade de enfrentar não só o Bolsonaro, mas o bolsonarismo, e reconstruir o nosso País. Governar vai ser muito mais difícil do que ser eleito. Nesse sentido, como eu me oporia à construção de algo que é mais amplo, que é maior do que um partido, que dialoga com quem pensa diferente? Se isso vai determinar meu voto, eu não sei. O que eu quero é que quem ganhe não seja o Bolsonaro e tenha capacidade de dialogar, de governar. Nós andamos 20 anos para trás na educação. Isso não vai se resolver com uma única pauta, que não une o país.

O quão alinhada ideologicamente ao PSB a senhora se considera? Em uma eventual reforma administrativa, por exemplo, haveria divergência entre a sra. e o partido?
Eu sou 100% contra a reforma administrativa que tramita hoje. Sou a favor, sim, de uma reforma administrativa, mas não tem nada a ver com a do governo Bolsonaro. Sou contra os supersalários. Imagino que (os deputados federais Alessandro) Molon (PSB-RJ) e (Marcelo) Freixo (PSB-RJ) também sejam. Sou contra várias irregularidades que acontecem. Eu era contra a aposentadoria dos políticos. Minha visão de mundo não é a defesa de um Estado mínimo. O Estado mínimo já existe na periferia. É a defesa de um Estado eficiente.

A sra. defende a responsabilidade fiscal, o que a torna uma exceção dentro do campo da esquerda. Como isso é tratado dentro do PSB?
Quando se fala em responsabilidade fiscal, é importante entender que o PSB é um partido grande, com muitas lideranças. Sim, talvez a responsabilidade fiscal não seja um pilar principal para alguns dos nossos líderes, mas eu sei que é para o Márcio França. Eu sei que é para o (governador do Espírito Santo) Renato Casagrande. Eu sei que é para várias outras lideranças do PSB. Responsabilidade fiscal não é uma bandeira solitária minha no partido.

Estadão  

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