Desastre em obra do metrô termina de desmoralizar o já desmoralizado João Doria
Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress
A cratera aberta no asfalto da marginal Tietê, na zona norte de São Paulo, ao lado de obra da linha 6-laranja do Metrô, virou arma contra as campanhas do governador João Doria (PSDB) ao Palácio do Planalto e de Rodrigo Garcia (PSDB) ao Palácio dos Bandeirantes. O tamanho do estrago, no entanto, ainda é incerto.
A linha para ligar a Brasilândia (zona norte) à Liberdade (centro) foi retomada por Doria após quatro anos de paralisação. Trata-se de uma das principais apostas de vitrines eleitorais do tucano, que foi estilhaçada na manhã desta terça-feira (1º).
A obra é de responsabilidade da Linha Uni e da Acciona, que afirmaram que estão apurando os fatos. Há interdições no sentido Ayrton Senna da marginal — não se sabe até quando o bloqueio vai durar e o impacto que haverá no cronograma das obras da linha, até então prevista para 2025.
Para opositores de Doria, o evento pode tanto ser apenas um abalo temporário como um terremoto na campanha do tucano. Tudo depende dos desdobramentos do acidente, como, por exemplo, o tempo de interdição da marginal Tietê e o tamanho do estrago na obra do metrô.
Em suas redes sociais, Doria afirmou ter determinado a “apuração imediata das causas e elaboração de plano da concessionária responsável pela obra, junto à prefeitura da capital, para normalização do tráfego da marginal rapidamente”. “E que as obras possam ser reiniciadas, com segurança, o mais breve possível”, escreveu.
O secretário dos Transportes Metropolitanos Paulo Galli apontou o rompimento de uma galeria de esgoto como o motivo do alagamento. “A obra vinha normalmente. Estamos na embocadura da toneladora para esse poço. Seria rompido amanhã, quando teríamos o tatuzão passando pelo túnel. Daí, houve o rompimento da galeria de esgoto que passa no sentido transversal”, afirmou nesta terça.
O assunto já alvo de investigação. A Promotoria de Habitação e Urbanismo da Capital abriu um inquérito para apurar as causas e “a extensão dos danos urbanísticos e ambientais decorrentes do incidente que causou danos no canteiro de obras e na pista de rolamento da marginal”. O Ministério Público informou que já requisitou informações sobre o caso.
Entre integrantes do núcleo duro da campanha de Doria, o desabamento foi minimizado, embora secretários consultados pela Folha ainda avaliassem, na tarde desta terça, os danos práticos e políticos para a gestão.
A essa altura, porém, o assunto já havia virado munição política de inimigos políticos de Doria, da esquerda à direita.
A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e o deputado estadual bolsonarista Douglas Garcia (PTB-SP) coincidiram até no termo usado para criticar o governador, mirando o partido.
“Fundamental apuração imediata. Por sorte, não há registro de vítimas. Selo PSDB de gestão!”, escreveu Sâmia em suas redes. “Selo PSDB de qualidade: obras desabando na marginal Tietê! Ano passado a Alesp autorizou João Doria a contratar um empréstimo bilionário para melhorias no metrô. Meu voto foi não, por saber que este dinheiro seria mal gasto”, postou o deputado.
Selo PSDB de qualidade: obras desabando na Marginal Tietê! Ano passado a ALESP autorizou João Dória a contratar um empréstimo BILIONÁRIO para melhorias no Metrô. Meu voto foi NÃO, por saber que este dinheiro seria mal gasto. O tempo confirmou que eu acertei o voto: pic.twitter.com/RBt6N0uNvM
— Douglas Garcia (@DouglasGarcia) February 1, 2022
O vereador Rubinho Nunes (Podemos), membro do MBL (Movimento Brasil Livre), relacionou a pretensão eleitoral do governador com o acidente.
“O oportunismo do Doria não tem limites. A obra estava há quase 10 anos atrasada, mas chegou o ano eleitoral, e o governador quis retomá-la às pressas. O resultado? Desabamento e cratera na marginal Tietê”, afirmou nas redes.
Se depender da oposição, os desdobramentos do caso não devem acabar tão cedo. O PT pediu responsabilização do governo Doria.
Acidente em obras do metrô em São Paulo com Tatuzão atinge via local da Marginal Tietê, que se encontra interditada. Felizmente não há registro de vítimas até o momento. É imprescindível investigação e responsabilização do governo Doria (PSDB) sobre o ocorrido.
— PT São Paulo (@ptsaopaulosp) February 1, 2022
O deputado estadual Paulo Fiorilo (PT) afirmou à Folha que fez uma representação ao Ministério Público para investigar o caso. “São recorrentes problemas desse tipo nas obras do Metrô. É preciso que o MP instaure o inquérito para apurar”, disse.
De acordo com ele, o assunto também poderia ser tratado em uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito). A ideia é que, caso a Justiça dê seguimento à comissão da Dersa, que foi travada na Alesp por aliados de Doria, o assunto pode virar alvo de investigação dos deputados.
Um dos principais opositores de Doria, Márcio França (PSB), possível concorrente de Rodrigo Garcia na disputa ao governo, também foi as redes e classificou o caso como “incompetência inacreditável”.
Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV, embora vários estados estejam sofrendo por tragédias causadas pelas chuvas, no caso do acidente do metrô pode haver questionamentos mais duradouros em relação à eficácia da gestão.
Teixeira afirma que o assunto remonta ao buraco do metrô, em Pinheiros, no qual sete pessoas morreram soterradas e mais de 70 casas foram interditadas. “Você vai ter a coisa do trânsito, lembrando não apenas do problema todo dia, mas questionando a eficiência da gestão da obra”, diz.
O assunto também pode esvaziar um trunfo de Doria para a campanha de Garcia, sobretudo contra o hoje inimigo político Geraldo Alckmin (sem partido), cuja gestão como governador de São Paulo foi marcada por atrasos em obras do metrô.
Auxiliares de Doria ligados à comunicação da campanha avaliam que não haverá prejuízo eleitoral e destacam haver mais de 8.000 obras em andamento pelo estado —ainda que o metrô seja uma área politicamente sensível para os tucanos.
Os aliados do governador atribuem a cratera a uma falha técnica de engenharia e apostam que o problema será resolvido rapidamente, o que só serviria para comprovar a capacidade de Doria como gestor. Também lembram que o PSDB não deixou de eleger governadores em São Paulo após o acidente da linha 4-amarela, em 2007.
Ainda de acordo com tucanos, a crise não atinge a candidatura de Garcia ao Palácio dos Bandeirantes. O vice-governador, que tem viajado pelo estado para inaugurações, foi poupado nesta terça, enquanto Doria visitou o local do desastre.
A obra é de responsabilidade da Linha Uni e da Acciona, que afirmam que estão no local dos fatos para apurar o que aconteceu. “Todas as medidas de contingência já foram tomadas. Parte do asfalto da marginal Tietê cedeu e, por questão de segurança, a pista está parcialmente interditada”, disse, em nota.
As críticas a Doria são atribuídas por sua equipe a bolsonaristas. A hashtag “Doria chama o Tarcísio”, em referência ao ministro da Infraestrutura, Tarcisio de Freitas, que deve concorrer ao Governo de São Paulo, ficou entre as mais comentadas no Twitter, além das palavras “Tietê”, “metrô” e “PSDB”.
A presença de Doria na estação atingida pouco tempo depois do desabamento também é uma forma de se contrapor a Bolsonaro, que foi criticado pela omissão em outras tragédias, como as chuvas na Bahia no fim do ano passado. Nesta terça, o presidente esteve em São Paulo, sobrevoando áreas afetadas pelas chuvas no estado de São Paulo.
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