EBC reduzirá cobertura da pandemia porque diretor diz que tema é “chato”
Foto: Alan Santos/Presidência da República
O diretor-presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), Glen Lopes Valente, tem pressionado os veículos da estatal, como a TV Brasil, a reduzirem a cobertura jornalística sobre a pandemia da Covid-19.
Durante uma conversa com a chefia da empresa na semana passada, à qual a coluna teve acesso, Valente afirmou que “é chato” falar da crise sanitária diariamente e que a campanha de imunização contra o vírus “não é um negócio emocionante” para ser veiculado constantemente.
“Eu acho que tem que dar, mas não todo dia, entendeu? Todo dia é chato. Entendeu? Porque… ‘De novo?'”, disse Valente na ocasião. “Acho [que tem] que, uma vez por semana, fazer um destaque do que está acontecendo. Todo dia ficar falando de vacinação… Sabe, não é um negócio emocionante”, continuou.
Durante a conversa, o diretor-presidente da EBC —que tem sob sua gestão a TV Brasil, a Agência Brasil e rádios públicas— ainda comparou a pandemia da Covid-19 ao surto de H1N1.
“Que nem teve o Tamiflu para a influenza, vai ter alguma coisa [medicamento para tratamento]”, disse, minimizando a duração da crise.
Segundo funcionários, os comentários de Valente não se restringem à chefia dos veículos —ele também tem pressionado as equipes por um “jornal leve”, classificando as edições que falam da crise como “jornal pesado”. Procurada, a EBC diz que não irá comentar.
O diretor-presidente compartilha em seu perfil no Twitter postagens de ministros do governo sobre feitos de suas respectivas pastas e conteúdos que exaltam a gestão federal e o presidente Jair Bolsonaro (PL).
No ano passado, uma comissão de funcionários da EBC redigiu um documento repudiando o que definiram como censura do governo Bolsonaro nas redações da empresa.
A iniciativa listou uma série de casos que comprovariam a ingerência nas atividades jornalísticas e a interferência na estrutura da empresa.
Segundo os funcionários, a empresa negligencia a cobertura da epidemia da Covid-19, “dando dados descontextualizados e não acompanhando a evolução da doença no Brasil”.
No documento, eles ainda afirmaram que TV Brasil ignorou a falta de oxigênio em Manaus e que suas “redes sociais não puderam noticiar a primeira pessoa vacinada contra a Covid-19”.
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