Igreja de Curitiba tem protesto pelo caso Moïse
Foto: Reprodução
Um protesto organizado em Curitiba contra os assassinatos do congolês Moïse Kabagambe, espancado até a morte por cobrar pagamentos atrasados, e do estoquista de supermercado Durval Teófilo Filho, alvejado pelo vizinho militar que o confundiu com um ladrão, terminou em confusão no último sábado, 5, quando o grupo de manifestantes entrou na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito, no centro histórico, após celebração de uma missa.
O vereador Renato Freitas (PT), uma das lideranças políticas presentes no protesto, usou as redes sociais para se manifestar sobre o episódio após um vídeo que mostra a presença dos manifestantes na igreja viralizar nas redes sociais (assista abaixo). De acordo com o petista, quando o grupo decidiu entrar, os fieis já tinham ido embora.
“É uma igreja que foi construída em 1737, justamente porque os negros, nossos ancestrais, não podiam frequentar outras igrejas que eram frequentadas por brancos e tiveram que fazer uma igreja apenas para si. Então essa igreja tem um valor simbólico enorme pra gente. Por isso a gente entrou e reivindicou a valorização da vida”, afirmou o vereador em seu perfil do Instagram.
O episódio gerou debates na sessão da Câmara Municipal de Curitiba na manhã desta segunda. Os vereadores Osias Moraes (Republicanos) e Ezequias Barros (PMB) criticaram o protesto. Moraes prometeu ‘tomar providências’. “Nós não iremos aceitar esse tipo de ato, principalmente vindo de um vereador desta casa”, afirmou.
Aos colegas, o vereador Renato Freitas disse que o ato foi ‘pacífico’. “Não atrapalhamos nenhuma missa. As imagens e as filmagens mostram que a igreja estava absolutamente vazia. Já se passava das seis da tarde. Entramos e dissemos que nenhum preceito religioso supera o amor e a valorização da vida. Lá dentro, afirmamos isso e saímos ordeira e pacificamente, sem que ninguém tivesse se incomodado e eu desafio qualquer um a provar o contrário”, disse durante a sessão.
Em nota, a Arquidiocese de Curitiba se manifestou sobre o caso e repudiou o que chamou de ‘comportamentos invasivos, desrespeitosos e grotescos’, ‘profanação injuriosa’ e ‘agressividades e ofensas’.
“É verdade que a questão racial no Brasil ainda requer muita reflexão e análises honestas, que promovam políticas públicas com vistas a contemplar a igualdade dos direitos de todos. Mas não é menos verdadeiro que a justiça e a paz nunca serão alcançados com destemperos ou impulsividades desequilibradas”, diz a nota.
COM A PALAVRA, A ARQUIDIOCESE DE CURITIBA
No dia 05 de fevereiro, em torno das 17.00hs, um grupo apresentou-se junto à porta da Igreja do Rosário, para protestar contra a violência havida no estado do Rio de Janeiro, cujo desdobramento final foi a morte de um cidadão congolês e, em outro caso, a morte de um brasileiro afrodescendente. Era no mesmo horário da celebração da Missa. Solicitados a não tumultuar o momento litúrgico, lideranças do grupo instaram a comportamentos invasivos, desrespeitosos e grotescos.
É verdade que a questão racial no Brasil ainda requer muita reflexão e análises honestas, que promovam políticas públicas com vistas a contemplar a igualdade dos direitos de todos. Mas não é menos verdadeiro que a justiça e a paz nunca serão alcançados com destemperos ou impulsividades desequilibradas.
Desde a sua primeira inauguração, em 1737, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos sempre foi um lugar de veneração e de celebração da fé. Foram os escravos a edificá-la. Hoje, muitos afrodescendentes, a visitam. E o fazem em grupos ou individualmente. Sempre primaram pelo profundo respeito, até mesmo quando não católicos.
Infelizmente, o que houve no último sábado foram agressividades e ofensas. É fácil ver quem as estimulou.
A posição da Arquidiocese de Curitiba é de repúdio ante a profanação injuriosa. Também a Lei e a livre cidadania foram agredidas. Por outro lado, não se quer “politizar”, “partidarizar” ou exacerbar as reações. Os confrontos não são pacificadores. O que se quer agora é salvaguardar a dignidade da maravilhosa, e também dolorosa, história daquele Templo.
Dom José Antonio Peruzzo
Arcebispo
Assinatura
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