Janela para mudar de partido deve prejudicar a “terceira via”
Foto: Zanone Fraissat e Pedro Ladeira/Folhapress; Pedro Gontijo/Senado Federal
A janela do troca-troca partidário na Câmara dos Deputados, que se abrirá no dia 3 de março e irá até 1º de abril, representará um teste de força dos presidenciáveis da chamada terceira via, que tentam se desvencilhar do balaio de candidatos com baixa pontuação nas pesquisas e chegar perto dos dois mais bem posicionados, o ex-presidente Lula (PT) e o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL).
Um fator primordial moverá os deputados: a avaliação sobre qual partido lhes dará as melhores condições regionais para conseguir a reeleição em outubro.
Para isso, é preciso haver uma definição mais clara sobre quais siglas vão de fato se unir em federações. A nova regra que permite a união de legendas aumenta a chance de eleição dos candidatos do bloco, mas exige atuação conjunta nos quatro anos da legislatura.
O PT, de Lula, que tem uma identidade ideológica mais consolidada, deverá ficar praticamente intacto, saindo dos atuais 53 deputados para 54, com a volta do deputado Josias Gomes (hoje secretário de desenvolvimento Rural da Bahia). A sigla é a segunda maior da Casa.
O PL de Valdemar Costa Neto, que conseguiu vencer a disputa e filiar Jair Bolsonaro, deverá ser a sigla que terá o maior crescimento, saindo dos atuais 43 para cerca de 60. Com isso, poderá ser a maior da Casa a partir de abril.
No pelotão da chamada terceira via, a disputa maior é para não murchar.
Nas pesquisas, Sergio Moro (Podemos) e Ciro Gomes (PDT) apresentam leve vantagem em relação a nomes como João Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB) e Rodrigo Pacheco (PSD). Até o momento, porém, nenhum dos partidos desponta como um grande ímã para atrair novos filiados.
Em alguns casos, ocorre, inclusive, um movimento contrário.
O PSDB de João Doria, por exemplo, rachou entre o grupo que apoia o presidenciável e governador de São Paulo e aquele que tenta minar sua candidatura. Partido que dominou a cena política nacional na gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e liderou a oposição nos anos PT, o PSDB vive uma crise sem precedentes.
A bancada corre o risco de perder até 10 dos seus 31 deputados federais. Já indicaram que vão deixar o partido Rose Modesto (MS), Mara Rocha (AC) e Rodrigo de Castro (MG). Outros nomes também negociam trocar de legenda.
Parlamentares afirmam que a perspectiva de “debandada” pode ser amenizada, pois alguns deputados que pretendiam sair agora esperam resultados de eventuais federações. A bancada tucana também passou a usar como estratégia para segurar nomes a antecipação das discussões sobre partilha do fundo eleitoral entre os candidatos à reeleição em outubro.
Muitos tucanos se agarram à expectativa de uma federação com o MDB, que é considerada desafiadora —os emedebistas também conversam com o União Brasil (fusão de DEM e PSL).
Mais factível se apresenta a federação PSDB com o Cidadania. Neste sábado (19), o partido comandado por Roberto Freire decidiu por margem apertada fazer uma federação com os tucanos, 56 a 47 votos.
Atualmente com 25 deputados, o PDT de Ciro Gomes deve perder cerca de cinco parlamentares, entre eles Túlio Gadêlha (PE), que já anunciou que deve ir para a Rede, e Alex Santana (BA). O partido busca a adesão de outros nomes. Até o momento, conseguiu tirar David Miranda (RJ) do PSOL.
O Podemos de Sergio Moro é praticamente nanico na Câmara, com apenas 11 das 513 cadeiras. Seja qual for a movimentação partidária, ela não deve ser robusta o suficiente para tirá-lo dessa condição.
A tentativa do partido é não encolher, o que seria um desgaste que se acrescentaria à frustrada expectativa de que o lançamento da candidatura de Moro e sua filiação levariam o partido a absorver um contingente expressivo de parlamentares.
Só foi anunciada uma migração para o partido: a de Kim Kataguiri (SP), que fez a movimentação para acompanhar o pré-candidato a governador de São Paulo Arthur do Val.
O MDB de Simone Tebet também passou por encolhimento nas últimas eleições e atualmente tem uma bancada mediana, de 34 parlamentares. Não há expectativa de que isso mude substancialmente. A federação com União Brasil ou com PSDB é vista como saída para aumentar o poder na Câmara e para articular palanques para a senadora.
O PSD do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), igualmente não acalenta expectativas de mudanças relevantes em sua fatia, 35 cadeiras. Uma das baixas do partido deve ser o deputado Éder Mauro (PA), alinhado ao presidente Jair Bolsonaro.
No entanto, o PSD atraiu para suas fileiras o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM), e também deve receber o tucano Rodrigo de Castro (MG) e Luisa Canziani (PR), cuja desfiliação do PTB deve ser julgada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nesta semana.
A própria candidatura de Pacheco não vem empolgando e o presidente da legenda, Gilberto Kassab, já trabalha com um plano B, que seria o governador gaúcho Eduardo Leite, atualmente no PSDB.
Já o União Brasil, hoje a maior bancada da Câmara, com 81 parlamentares, vai encolher após a saída em bloco de bolsonaristas do PSL rumo ao PL e outras siglas do centrão, devendo ficar com algo entre 50 e 60 parlamentares.
O partido não tem mais um presidenciável, após a pré-candidatura do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta perder tração, e negocia federação com o MDB e, com bem menos perspectivas, com o PSDB. Também é objeto de desejo de Moro, mas há grandes resistências internas à adesão à candidatura do ex-juiz.
A situação das bancadas se mostra semelhante no Senado, com o partido do presidente Jair Bolsonaro devendo ser o grande vencedor do troca-troca de partidos.
O PL começou a atual legislatura com apenas dois senadores, número que acabou triplicando. O grande fator de mudança, no entanto, foi a filiação do chefe do Executivo, que resultou na migração de seu filho, Flávio Bolsonaro (RJ), do vice-líder do governo Marcos Rogério (RO) e de Zequinha Marinho (MA).
Devem seguir o mesmo caminho o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), Chico Rodrigues (União Brasil- RR) e Roberto Rocha (PSDB-MA). Com isso, o PL se tornaria a terceira maior bancada do Senado.
Os senadores não precisam seguir a janela partidária, podendo trocar de legendas a qualquer momento, sem o risco de perda de mandato. As demais migrações que se deram no Senado nos últimos meses serviram mais para acomodar interesses eleitorais dos próprios parlamentares, principalmente os que vão tentar se eleger governadores.
O PT ganhou apenas um senador, Fabiano Contarato (ES), ex-Rede, que afirmou neste sábado (19) que disputará o governo do Espírito Santo. O partido então passou a contar com 7 senadores, sendo a quinta maior bancada.
O MDB de Tebet também teve apenas uma aquisição nos últimos meses, com Carlos Viana (MG) que deixou o PSD também com a intenção de disputar o governo de seu estado.
Assim como também aconteceu na Câmara dos Deputados, a filiação do ex-juiz Sergio Moro não provocou grande impacto na bancada do Podemos, que permaneceu do mesmo tamanho, com nove senadores.