Prefeitos dizem que reajuste dado por Bolsonaro a professores é “impraticável”
Foto: Clauber Cleber Caetano/PR
A Frente Nacional dos Prefeitos afirma que o reajuste de 33,24% definido pelo governo federal para professores da educação básica é “impraticável na maioria das cidades” brasileiras. A portaria do novo piso salarial foi assinada na sexta-feira (4) pelo presidente da República Jair Bolsonaro (PL) e pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro.
O grupo de administradores municipais diz estudar a portaria, desde o seu anúncio, para entender se existe “legalidade” na decisão. Ontem (9), a equipe executiva se reuniu para definir os próximos passos. Um deles é discutir com a assessoria jurídica uma ação.
“O reajuste para esse índice [de 33,24%] tem um impacto gigantesco e algumas prefeituras, além do impacto na folha de pagamento, podem sofrer dificuldades na Previdência. Para cada 10% de aumento na folha dessas cidades, por exemplo, existe um aumento de 30% na previdência”, diz o prefeito de Aracaju (SE), Edvaldo Nogueira (PDT), presidente da Frente Nacional dos Prefeitos.
Procurados pelo UOL, a Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) do governo federal e o MEC (Ministério da Educação) não comentaram as declarações do representante dos prefeitos até a publicação desta reportagem. O espaço fica aberto para atualizações.
A Lei do Magistério prevê que o reajuste de professores seja atrelado ao valor por aluno anual do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), principal instrumento de financiamento da área.
As regras do fundo foram alteradas em 2020. Entre as mudanças, estão o aumento da participação da União nos recursos, o que aumenta o valor por aluno.
Pela variação da inflação nos últimos dois anos, o reajuste do valor por aluno deve ser de 33% em 2022. Com isso, o piso salarial dos professores da educação básica de todo o país, nas redes públicas estaduais e municipais, passa de R$ 2.886,24 para R$ 3.845,63.
“Vamos fazer um estudo, falar com outras instituições de prefeitos do Brasil para tomar uma decisão jurídica”, afirma Nogueira. Ele ressalta ainda que os municípios querem entender como o governo federal chegou ao índice de 33,24% e se houve algum estudo de impacto nos cofres das cidades.
Durante a cerimônia de assinatura da portaria, Bolsonaro chegou a dizer que recebeu pedidos de municípios e estados para que o reajuste fosse 7%, o mínimo. O MEC publicou nota em 14 de janeiro dizendo que a Lei do Magistério não é mais condizente com a mudança do Fundeb.
Dias depois, o governo federal mudou o tom e anunciou o reajuste.
“O piso sempre foi uma decisão do governo federal e quem pagou foram os prefeitos. Não queremos acabar com o piso, mas queremos um reajuste justo e que as prefeituras possam pagar”, afirma o presidente da frente.
Segundo Nogueira, a maioria das prefeituras já aplica a maior parte do Fundeb na folha de pagamento. “No caso de Aracaju, aplicamos mais de 80%. Há cidades que aplicam 80%, 90% e até 100%.”
A CNM (Confederação Nacional de Municípios) também tem criticado o índice de reajuste adotado pelo governo federal e calcula que a medida pode impactar em cerca de R$ 30,4 bilhões nos cofres dos estados e municípios, responsáveis pela maioria dos salários da categoria.
A última atualização do piso havia ocorrido em 2019. O reajuste foi de 12,84%.
Se de um lado os prefeitos reclamam, do outro o presidente da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), Heleno Araújo, disse que já entrou com uma medida para que a Justiça Federal declare a eficácia da Lei do Magistério —e garanta o reajuste dos funcionários.
“Agora, os prefeitos precisam explicar uma contradição: por que, no ano passado, falaram que a arrecadação aumentou e pediram anistia para quem não cumpriu o mínimo de 25% na área da Educação? Agora dizem que os cofres podem quebrar. Tem dinheiro sobrando ou não?”, questionou Araújo.
Em relação a essa crítica, a frente dos prefeitos afirmou ao UOL que os assuntos são temas e têm tempos diferentes.
O sindicalista disse ainda que a confederação se colocou à disposição para o diálogo, mas não foi procurada pela frente dos prefeitos nem pela CNM.
À reportagem a Frente Nacional negou a declaração do sindicalista e disse que está aberta para atender a confederação. A CNM também afirmou estar “sempre aberta ao diálogo” e que nunca foi procurada pela CNTE.
Em nota, a CNM disse que “lamenta a forma como a CNTE se pronunciou acerca do piso do magistério, sem fundamento legal e com ofensas a nível pessoal”. A confederação dos municípios pediu ainda que os representes dos professores façam uma retratação pública, “a fim de que se possa abrir o diálogo e, de fato, priorizar o que é necessário para o desenvolvimento da educação no país”.
Assinatura
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