PSD está cada dia mais próximo de Lula
Foto: Reprodução
Os movimentos de aproximação entre PT e PSD para uma possível aliança nas eleições presidenciais contrastam com arranjos regionais em que o partido liderado por Gilberto Kassab estará integrando palanques de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de outubro.
Em ao menos sete estados, o PSD terá candidatos próprios a governos estaduais ou apoiará candidaturas de outros partidos ligados a Bolsonaro.
Com 2 governadores, 11 senadores, 35 deputados federais e uma razoável fatia do tempo de propaganda eleitoral na TV, o partido tem sido cortejado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que busca dar um verniz centrista à sua pré-candidatura ao Planalto.
PT e PSD fizeram movimentos de aproximação nos últimos dias, após uma reunião entre Lula e Kassab na semana passada. Na quarta-feira (9), o presidente do PSD afirmou que “não é impossível” uma aliança com os petistas no primeiro turno. Dois dias depois, gravou um vídeo para o ato de comemoração dos 42 anos do PT.
O avanço da troca de gentilezas para uma aliança formal, contudo, esbarra no projeto que o PSD definiu para 2022: crescer nos estados e eleger a maior bancada federal do país no pleito de outubro. Para ancorar essa estratégia, o partido lançou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, como candidato à Presidência.
Estados das regiões Sul, Centro-Oeste e Norte fazem com que uma aliança com Lula ainda no primeiro turno seja uma realidade distante, pois geraria constrangimentos a candidatos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro.
Nos três estados da região Sul, os pré-candidatos do partido não têm qualquer proximidade com Lula ou com dirigentes locais do PT.
Aliado de Bolsonaro, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), conta com um grande arco de partidos na base do governo e tem tentado conciliar o apoio ao presidente e ao ex-juiz Sergio Moro.
Enfraquecidos no estado desde o início da Operação Lava Jato, os petistas tendem a apoiar o ex-governador Roberto Requião, que ainda está sem partido desde que deixou o MDB no ano passado. Há chances, inclusive, de ele se filiar ao PT.
O cenário é semelhante em Santa Catarina, um dos estados onde Bolsonaro possui melhor avaliação. O PSD tem como pré-candidatos o ex-governador Raimundo Colombo e também negocia a filiação do prefeito de Florianópolis Gean Loureiro (União Brasil).
Independentemente de quem seja o escolhido, a expectativa é a de que o partido tenha uma espécie de palanque neutro com apoio a Bolsonaro e outros nomes da centro-direita, mas sem nenhum tipo de diálogo com a candidatura de Lula.
No Rio Grande do Sul, o PSD negocia a filiação da ex-senadora Ana Amélia Lemos, que foi candidata a vice de Geraldo Alckmin em 2018, para concorrer ao Senado no grupo liderado pelo governador Eduardo Leite (PSDB). Nesta semana, Leite admitiu pela primeira vez que pode ser candidato à reeleição.
Nos estados do Centro-Oeste, também há distanciamento do PT. Em Goiás, o partido apoiará a reeleição do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e trabalha para indicar o ex-ministro Henrique Meirelles (PSD) para concorrer ao Senado.
No Distrito Federal, o partido vai apoiar dois aliados de Bolsonaro: o governador Ibaneis Rocha (MDB), que concorre à reeleição, e a ministra Flávia Arruda (PL), que vai ser candidata a senadora na mesma chapa.
Em Rondônia e Roraima, a legenda deve se alinhar a candidaturas ostensivamente bolsonaristas a governos estaduais –Marcos Rogério (PL-RO) e o governador Antonio Denarium (PP-RR).
Outro estado onde não há aproximação com PT é a Paraíba. O PSD anunciou apoio à candidatura do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB). O principal nome do partido no estado é o ex-prefeito de Campina Grande Romero Rodrigues, que é próximo a Bolsonaro e deve concorrer a deputado federal.
O mesmo deve acontecer no Rio Grande do Norte, onde o PSD é controlado pelo ex-governador Robinson Faria, pai do ministro das Comunicações, Fábio Faria, e convertido ao bolsonarismo desde 2018.
Robinson foi eleito governador em 2014 com o apoio de Lula e da hoje governadora Fátima Bezerra (PT). Mas pai e filho romperam com os petistas na época do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), e Robinson acabou sendo derrotado na tentativa de reeleição.
As feridas abertas tornam uma aproximação no estado praticamente impossível no Rio Grande do Norte. Prestigiado pelo comando nacional do PSD por ter sido um dos fundadores do partido, Robinson deve ser candidato a deputado federal. Para isso, contudo, precisará reverter a sua inelegibilidade no Tribunal Superior Eleitoral.
Apesar dos entendimentos com o PT, o presidente do PSD afirma que o partido terá candidatura própria ao Palácio do Planalto.
“A gente vê com muita tranquilidade e naturalidade, até porque dificilmente algum partido escapará dessa situação. O que importante para nós é: teremos candidato próprio a presidente e o nosso candidato em cada estado sempre terá um palanque articulado pelo partido”, afirma Gilberto Kassab.
Ele exemplifica: “Se em algum estado nosso partido apoiar um candidato a governador do PL, o PL vai estar com o Bolsonaro, mas o PSD vai estar com o nosso candidato”.
O dirigente diz ser favorável ao fim das coligações também para as eleições majoritárias, para que contradições entre cenários locais e o nacional sejam reduzidas.
“Felizmente a gente acabou com a coligação nas eleições proporcionais, isso é, para vereador, deputado estadual e federal. O PSD defende, e essa é uma das principais bandeiras nossas para a próxima legislatura, também o fim das coligações para cargos majoritários.”
Há estados onde há aproximação entre PT e PSD com possibilidade de apoio local a Lula.
Na Bahia, Otto Alencar (PSD) tem afirmado que apoiará Lula em qualquer circunstância, mesmo que o seu partido tenha candidato próprio ao Planalto.
Em uma articulação para trazer o PSD para o palanque de Lula ainda no primeiro turno, o PT baiano avalia abrir mão da candidatura própria no estado. No novo arranjo, o senador Jaques Wagner (PT) desistiria sua pré-candidatura para apoiar Otto Alencar para o governo do estado, tendo o governador Rui Costa (PT) como candidato ao Senado.
O assunto esteve na mesa de uma reunião em São Paulo na terça-feira (15) na qual participaram Lula, Jaques Wagner, Rui Costa, Otto Alencar e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
No Amazonas, o senador Omar Aziz, que presidiu a CPI da Covid no Senado, deve apoiar a candidatura de Lula. Também houve um movimento de aproximação em Sergipe: há duas semanas, o petista se reuniu com o governador Belivaldo Chagas (PSD), que pavimenta a candidatura do deputado federal Fábio Mitidieri (PSD) à sua sucessão.
Um possível acordo local entre PT e PSD, contudo, enfrenta resistências do diretório local do PT, que lançou o senador Rogério Carvalho ao governo do estado.
“Eu não me lancei como pré-candidato sem o aval de Lula. Com certeza, Lula não abriu espaços para caminhos alternativos para o PT em relação à nossa candidatura ao Governo de Sergipe”, disse.
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