PT lançará somente dez candidatos a governador para facilitar alianças
Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress
Disposto a solidificar pontes para um eventual segundo turno presidencial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem conduzido pessoalmente acordos que privilegiam potenciais aliados nas disputas regionais, em detrimento de nomes do próprio PT.
Mesmo diante das dificuldades para a costura de uma federação com o PSB e outras siglas de esquerda, o PT trabalha com a perspectiva de lançar somente cerca de dez candidatos a governador nas próximas eleições, um dos menores números de seus 42 anos de história.
Nos demais estados, a prioridade será a consolidação de palanques consistentes de olho na eleição de Lula e na governabilidade de uma eventual gestão petista.
Além disso, há um entendimento de que a eleição de uma forte bancada para a Câmara dos Deputados e o Senado se sobrepõe à disputa de governos estaduais.
As negociações —que têm a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), como avalista — não se restringem aos partidos do bloco de esquerda, estendendo-se ao centrão, que hoje apoia o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). A agenda do ex-presidente inclui conversas com MDB, PSD e PSDB.
Lula foi fiador, por exemplo, de um acordo pela reeleição do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), a quem chamou de companheiro durante entrevista à Rádio Liberal.
Dois dias depois de anunciar publicamente esse apoio à reeleição de Helder, com quem conversou, Lula recebeu a visita em São Paulo do senador Renan Calheiros (MDB-AL) e seu filho, o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB).
No encontro, cujo registro fotográfico foi divulgado por Lula nas redes sociais, o petista reafirmou o apoio a uma candidatura de Renan Filho ao Senado, além do compromisso de aliança em torno do candidato dos Calheiros ao governo estadual.
“O presidente Lula reafirmou a importância de estarmos juntos”, relatou Renan.
No Maranhão, apesar da resistência de parte do PT local, o compromisso é de apoio ao indicado pelo governador Flávio Dino (PSB) —seu vice, Carlos Brandão, que concorrerá pelo PSB, provavelmente em consonância com a família Sarney.
Em Pernambuco, o PT anunciou apoio ao PSB antes mesmo de conhecer o nome do candidato, o deputado federal Danilo Cabral.
A aliança foi selada durante reunião virtual, de quase três horas, entre Gleisi e os presidentes do PSB, Carlos Siqueira, e do PC do B, Luciana Santos, com a presença do senador Humberto Costa (PT-PE).
Líder das pesquisas locais, Costa concordou em retirar a candidatura ao governo do estado em prol da aliança. “Claro que não fiquei satisfeito. Mas era a orientação nacional do PT. A aliança com o PSB é estratégica”, afirmou.
À espera de um acordo com o PDT no segundo turno, o comando nacional do PT não impôs resistência à aliança com a família Gomes no Ceará.
No reduto eleitoral de Ciro Gomes, o PT apoiará a candidatura do PDT ao governo do estado, uma vez que o governador Camilo Santana (PT) vai se desincompatibilizar para concorrer ao Senado, deixando a cadeira para a vice-governadora Izolda Cela.
A estratégia nos estados guarda total relação com os movimentos patrocinados por Lula em âmbito nacional. O ex-presidente, por exemplo, tende a fechar uma chapa com o ex-tucano e ex-rival de campanha Geraldo Alckmin, além de ter conversado com outros nomes do PSDB e com o PSD de Gilberto Kassab.
Com aval do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), discute uma aliança com o PT na disputa pelo Palácio dos Tiradentes.
Líder do PT na Câmara, o deputado Reginaldo Lopes (MG) afirma que, em Minas, a polarização entre Kalil e o governador Romeu Zema (Novo) não permite espaço a uma terceira via. Está programado para os próximos dias um encontro entre Lula e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD).
Lula mantém canais de diálogo com governadores até onde ainda não se cogita uma aliança formal com o PT nesse primeiro turno. É o caso de Sergipe e da Paraíba.
O ex-presidente já se reuniu com o governador de Sergipe, Belivaldo Chagas (PSD), que deverá lançar o deputado Flávio Mitidieri, seu correligionário, à sucessão. Apesar da boa relação com o PT, Lula aposta na candidatura do senador Rogério Carvalho ao cargo.
O ex-presidente também já conversou com o governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania). Mas o petista não pretende contrariar o ex-governador Ricardo Coutinho (PT) por uma dívida de gratidão.
Recém-filiado ao PT, Coutinho foi ferrenho defensor de Dilma Rousseff, quando ainda era filiado ao PSB, e hoje vê em Azevêdo um rival.
Disputado no Nordeste, Lula enfrenta dificuldades para montagem de palanques no Centro-Oeste, incluindo o Distrito Federal, região de forte presença bolsonarista.
Ele chegou a propor ao tucano Marconi Perillo a formação de uma aliança ampla para barrar a reeleição do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).
Após 14 anos sem falar com Lula, Perillo alegou, porém, dificuldades de explicar ao seu eleitor uma coligação com o PT. Ex-governador de Goiás, Perillo deverá disputar o Senado pelo PSDB.
“Tenho uma história no PSDB e pagaria alto preço se desviasse minha biografia por conta de um projeto de curto prazo”, disse.
Já no Paraná, o PT apoiará a candidatura do ex-emedebista Roberto Requião. Ex-governador e ex-senador, Requião está à espera dos desdobramentos do debate sobre federação no campo da esquerda para decidir a qual partido se filiar.
Além do desejo de “colocar em ordem o estado que está acabando”, Requião aponta a candidatura de Lula como uma das razões para disputar o governo estadual. Ele afirma que o PT está ajudando-o muito nessa largada e não descarta se filiar ao partido caso não prospere o projeto de federação à esquerda.
“Se não houver federação, por que não? Fui muito mais petista durante o processo de cassação da Dilma do que o próprio PT”, afirma.
Entre os principais nomes do PT para governos estaduais estão o ex-prefeito Fernando Haddad em São Paulo, o senador Jaques Wagner, na Bahia, a governadora Fátima Bezerra, no Rio Grande do Norte, o secretário de estado Rafael Fonteles, no Piauí, e o senador Rogério Carvalho, em Sergipe.
Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, da Folha, caso a federação não dê certo, o PT pode ampliar o número de candidatos a governador nos estados, em especial Espírito Santo (Fabiano Contarato) e Rio Grande do Sul (Edegar Pretto), onde o PSB reivindica apoio aos seus candidatos.
Na noite de sexta-feira (11), os presidentes de PSB, PV, PT e PC do B se reuniram em busca de um acordo para o Rio Grande do Sul, onde o presidente estadual do PSB, Beto Albuquerque, e o deputado estadual Edegar Pretto (PT) reivindicam o direito de concorrer. Outro nome citado para a disputa é o da ex-deputada Manuela d’Ávila (PC do B).
Albuquerque diz que caberá a Lula definir quem será seu candidato no estado. “Com todo respeito aos outros, sou o candidato que mais amplia em um segundo turno”, afirma Albuquerque.
Pretto contesta. Afirmando que Lula lidera as pesquisas no Rio Grande do Sul, argumenta que terá mais chances aquele com maior identidade com o ex-presidente. “Nossa pré-candidatura é um projeto alternativo ao do governador Eduardo Leite. PSB faz parte desse governo”, alega.
Outra fonte de tensão entre o PT e o PSB é o encontro ocorrido neste sábado (12) entre o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), e o ex-juiz Sergio Moro, pré-candidato à Presidência pelo Podemos.
Questionado pela cúpula do partido, Casagrande lembrou que o Podemos integra a base de seu governo e afirmou que não poderia deixar de recebê-lo. Aliados de Lula não engoliram a justificativa. Ainda assim, não está enterrada a intenção de apoiar a reeleição de Casagrande.
“O PT vai ter no máximo dez candidatos a governador porque a prioridade é Lula. Depois, deputados federais. Depois, senadores. Em quarto lugar vêm os governadores”, afirma o deputado federal José Guimarães (CE), um dos vice-presidentes do PT e coordenador do Grupo de Trabalho de Acompanhamento dos Estados no partido.
Em toda a sua história, o ano em que o PT disputou menos governos estaduais foi em 2010, ocasião em que também priorizou abrir mão de candidatos próprios nos estados em nome da formação de alianças regionais de sustentação à candidatura de Dilma Rousseff —foram 10.
Em 2002, ano da vitória que levaria o PT ao governo federal, por exemplo, o partido disputou o governo de 24 das 27 unidades da federação, tendo vencido três (Acre, Mato Grosso do Sul e Piauí).
Nas últimas eleições, em 2018, o partido lançou 16 candidatos a governador e elegeu 4, todos no Nordeste —Ceará, Bahia, Piauí e Rio Grande do Norte.
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