Advogado negro chora ao absolver jovem pobre na Justiça
Foto: Reprodução
A rotina do advogado Ewerton Carvalho envolve atuar em processos da área cível, especialmente de contratos. Mas quando se depara com pessoas acusadas injustamente, não pensa duas vezes e assume os casos, gratuitamente.
“O direito criminal é minha militância suprema dentro do Direito”, afirma. Ele ficou conhecido recentemente após publicar um vídeo no qual chora de emoção depois de um cliente, Kaique Mendes, ser absolvido. A publicação, de 11 de fevereiro, já tem mais de 85 mil curtidas. Assista:
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Na noite de 7 de julho de 2019, Kaique estava com seu irmão e seu primo comendo uma pizza dentro de um veículo em frente ao prédio em que morava, no Jaraguá, zona norte de São Paulo, até que ouviu um forte barulho de batida e saiu do carro. Acabou, então, surpreendido por policiais que o mandaram se deitar e lhe deram voz de prisão.
Segundo os agentes, Kaique estava a bordo do carro que bateu no poste em frente ao edifício, um veículo que havia sido roubado no dia anterior. O jovem negro, então com 20 anos, foi preso em flagrante. Os homens que estavam no veículo roubado fugiram.
A jogadora de futebol da seleção brasileira Ludmila, que morava no prédio e é amiga de Ewerton, ficou sabendo do caso e logo ligou para o advogado, pedindo que ele assumisse o caso. Na audiência de custódia, Kaique acabou solto por conta de seus bons antecedentes e por não possuir ficha criminal, e pôde aguardar o processo em liberdade.
O jovem foi denunciado pelo crime de receptação, e só acabou absolvido três anos depois, no mês passado, um momento de grande emoção para Ewerton. “Eu acabei de inocentar o moleque, eu estou há três anos nesse processo”, disse chorando, após sair da audiência, no vídeo publicado no Instagram.
Depois da audiência, contou ao Metrópoles, foi recebido com churrasco e fogos de artifício pela família de Kaique. “Isso é surreal, não tem dinheiro que pague”, disse, emocionado. Ewerton é uma das lideranças do Movimento Negro e representa a organização no Conselho Nacional de Segurança Pública (CNSP), além de atuar contra o racismo no sistema judicial.
Para o defensor, a prisão de seu cliente foi mais um caso de preconceito. “Quando o policial parou ele, tinha outro menino branco, de pé, perto do portão, e o policial nem olhou para o cara. É surreal. O que mais me espanta é que, dentro da equipe de policiais que prendeu ele, um dos agentes era preto”, desabafa.
Uma das provas que o advogado utilizou foi uma câmera de segurança do prédio, prova de que Kaique estava no estacionamento horas antes do carro roubado bater no local.