Beneficiários do Auxílio Brasil criticam aumento pequeno após três anos
Foto: Karime Xavier /Folhapress
Principal programa do governo federal para transferência de renda aos mais pobres, o Auxílio Brasil alcança quase um quarto da população, mas a maioria dos beneficiários considera insuficientes os valores recebidos, de acordo com pesquisa realizada pelo Datafolha.
O levantamento indica que 23% dos brasileiros vivem em domicílios atendidos pelo programa, lançado em novembro do ano passado como substituto do Bolsa Família e do auxílio emergencial criado para socorrer famílias vulneráveis durante a pandemia, que deixou de ser pago em outubro.
A concentração de beneficiários é maior entre os entrevistados com renda familiar mensal de até dois salários mínimos (R$ 2.424), universo que inclui a população definida como alvo do programa, mas a pesquisa encontrou pessoas que recebem o Auxílio Brasil também em outros segmentos.
No estrato com menor renda familiar, 35% disseram receber o auxílio. Entre os que declaram renda de 2 a 5 salários mínimos, 10% dizem receber benefícios, assim como 3% dos que têm ganhos de 5 a 10 salários mínimos, o que pode ser um indício de falhas na execução do programa.
O Auxílio Brasil paga R$ 400 por mês a cerca de 18 milhões de famílias. Benefícios complementares oferecidos para incentivar inclusão produtiva, iniciação científica de estudantes e prática de esportes permitem ganhos maiores. Em março, o valor médio dos benefícios pagos foi R$ 409,80.
Conforme os critérios estabelecidos pela lei que criou o programa, podem se cadastrar para receber os benefícios famílias em situação classificada como de extrema pobreza, com renda familiar mensal per capita de até R$ 105, ou de pobreza, com ganhos de até R$ 210 por membro da família.
O Datafolha realizou 2.556 entrevistas em 181 municípios na semana passada, na terça (22) e na quarta-feira (23). A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos porcentuais, para mais ou para menos.
O levantamento mostra concentração maior de beneficiários do programa em segmentos da força de trabalho que sofreram mais com a pandemia e a crise econômica. Afirmam receber o auxílio 41% dos desempregados, 33% dos assalariados sem carteira assinada e 29% dos autônomos.
A pesquisa aponta também maior número de beneficiários do Auxílio Brasil no Nordeste, onde 37% dos entrevistados afirmam pertencer a famílias que estão no programa. Segundo o Ministério da Cidadania, 48% das famílias que receberam pagamentos em março vivem na região.
Entre os beneficiários do auxílio, 68% dizem que os valores recebidos são insuficientes e apenas 29% os consideram suficientes. O descontentamento é maior nos estratos de renda mais baixa. Em famílias que ganham até dois salários mínimos, 71% dizem que os benefícios são insuficientes.
A insatisfação com o valor é mais acentuada entre desempregados (72%), trabalhadores autônomos (71%) e donas de casa (74%), que estão afastadas do mercado de trabalho. Entre desocupados que não estão à procura de emprego, 84% acham o auxílio insuficiente, de acordo como Datafolha.
Embora o auxílio emergencial pago na pandemia tenha contribuído para sustentar a popularidade do presidente Jair Bolsonaro entre os mais pobres na crise sanitária, o mesmo ainda não parece ocorrer com o Auxílio Brasil, já que a avaliação do governo é mais negativa entre beneficiários do programa.
Segundo o Datafolha, 25% dos brasileiros consideram o governo Bolsonaro ótimo ou bom. Entre os que recebem o Auxílio Brasil, somente 19% pensam assim. A taxa de reprovação do governo entre os beneficiários do programa, 47%, é equivalente à encontrada na população total, 46%.
O Auxílio Brasil faz parte de um conjunto de iniciativas com as quais Bolsonaro conta para recuperar sua popularidade e se reeleger em outubro. O valor mínimo de R$ 400 pago pelo programa só está garantido até o fim deste ano. A legislação prevê redução dos valores a partir de 2023.