Celso Amorim e diplomatas bolsonaristas têm mesma posição sobre Rússia

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Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Diplomatas brasileiros do alto escalão do Itamaraty têm celebrado, nos bastidores, as semelhanças entre as posições da atual gestão do Ministério das Relações Exteriores e de diplomatas ligados a partidos de oposição ao governo Jair Bolsonaro em relação à invasão russa na Ucrânia.

Integrantes da gestão Bolsonaro no Itamaraty ressaltam, principalmente, a posição do ex-ministro Celso Amorim, diplomata que foi chanceler brasileiro durante o governo Lula. Em entrevista à colunista Bela Megale, de O Globo, Amorim se colocou contra a adoção de sanções econômicas aos russos.

“Sou contra as sanções. Não vão resolver nada e criarão mais problemas para o mundo. O que tem que haver é a abertura do diálogo. Alguém que o presidente Vladimir Putin ouça precisa entrar nisso, talvez a China. Todos vamos ser afetados com o aumento de preços de fertilizantes, alimentos, entre outros itens”, disse o ex-chanceler.

A declaração de Amorim foi vista por atuais integrantes da cúpula do Itamaraty como um “apoio” à posição adotada pela atual gestão sobre o conflito. Em entrevistas recentes, o chanceler Carlos França defendeu que a posição do Brasil tem sido de “equilíbrio”, e não de “neutralidade”, como disse o próprio Bolsonaro.

Diplomatas que atuam na gestão Carlos França também destacam, nos bastidores, declarações dadas pelo ex-embaixador Rubens Barbosa, que comandou a embaixada do Brasil nos Estados Unidos durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Na semana passada, Barbosa elogiou a atual postura do Itamaraty.

Segundo o ex-embaixador, “o Itamaraty está fazendo prevalecer a linha tradicional da chancelaria” perante o conflito no Leste Europeu. “O Itamaraty está atuando dentro de suas linhas, com uma posição muito clara sobre questões essenciais, como soberania e integridade territorial”, afirmou Barbosa ao jornal O Globo.

“Caminho certo”
Na avaliação da atual cúpula do Itamaraty, diante da “polarização política” existente no Brasil, as semelhanças de posicionamento e os elogios feitos por diplomatas ligados a opositores de Bolsonaro seriam demonstrações de que o Ministério das Relações Exteriores adotou “o caminho certo” perante o conflito na Ucrânia.

Essa comparação, no entanto, não agrada a todo mundo no atual governo. Como mostrou a coluna, auxiliares presidenciais que dão expediente no Palácio do Planalto admitem, nos bastidores, que a possível semelhança de posições apontada por adversários políticos tem repercutido mal na base bolsonarista.

Críticas a Bolsonaro
Tanto Rubens Barbosa quanto Celso Amorin, no entanto, fizeram críticas à postura e às falas de Bolsonaro em relação à Rússia. Logo antes da invasão da Ucrânia, o presidente brasileiro foi a Moscou e declarou, ao lado de Putin, que os brasileiros eram “solidários à Rússia”.

Bolsonaro também tem evitado condenar diretamente a Rússia pela invasão. Até agora, o Brasil condenou a ação russa em território ucraniano apenas por meio de posições no Conselho de Segurança, no Conselho de Direitos Humanos e na Assembleia-Geral da ONU.

Diplomatas da atual gestão do Itamaraty minimizam as críticas. Dizem que o que importa é a posição oficial do Brasil nos organismos internacionais, sobretudo no Conselho de Segurança, instância adequada para se discutir questões de conflitos entre nações. “O resto é procurar pelo em ovo”, diz um diplomata.

Metrópoles