Com medo da cláusula de barreira, PSOL quer que Boulos seja deputado
Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo
Aumenta a pressão entre parlamentares do Psol para que o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos, retire a sua candidatura ao governo de São Paulo e se lance como candidato a deputado federal. O dirigente resiste. Ao Valor, Boulos disse que será candidato ao governo “até o fim”. “Essas especulações [de desistência] tem sido fomentadas para minar nossa candidatura”.
Os integrantes da bancada acreditam que a retirada da candidatura pode acontecer este mês. Reservadamente, correligionários avaliam que Boulos não pode confirmar ainda a desistência em um momento em que está em evidência, em função de seu bom desempenho nas pesquisas, e com negociações avançadas com o PT para o apoio à sua provável candidatura à Prefeitura de São Paulo em 2024.
A mudança na candidatura serviria para Boulos ter um papel de destaque no Congresso num eventual governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e também para ajudar o partido a superar a cláusula de barreira em 2022, o que está fazendo inclusive o Psol estar quase fechado numa federação com o Rede.
O ex-presidente é próximo do líder do MTST e afirmou na semana passada que o movimento terá um papel importante em sua gestão, sendo “sujeito da história”. Para integrantes do Psol, é provável que ele seja chamado para um cargo de ministro.
A candidatura para o Legislativo ajudaria o Psol a diminuir os riscos de cair na cláusula de desempenho, o que deixaria o partido sem acesso ao fundo partidário e sem tempo de propaganda na TV.
Para evitar que isso ocorra, a sigla precisa obter mais de 2% dos votos válidos no país para a Câmara ou eleger mais de 11 deputados federais.
Um dos principais puxadores de voto do partido, o deputado Marcelo Freixo trocou o Psol pelo PSB e concorrerá ao governo do Rio de Janeiro. A deputada e ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina também avisou que, aos 87 anos, não concorrerá à reeleição.
Boulos poderia ajudar a legenda a aumentar seus votos em São Paulo. Ele conseguiu 1,08 milhão de votos no primeiro turno da eleição para a prefeitura da capital em 2018, mas acabou derrotado no segundo turno. Nas pesquisas para o governo paulista, aparece com 12% das intenções de voto.
Outro movimento do partido para escapar da cláusula de desempenho é a federação com o Rede Sustentabilidade, que aprovou a união no sábado, por unanimidade. O agrupamento tem apoio da maioria do partido, embora encontre entraves ainda em Estados como Minas Gerais e Espírito Santo.
O líder do MTST planeja concorrer ao governo paulista, mas a disputa tende a se dar entre o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB) ou o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, ainda sem partido, mas escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para ser o seu candidato em São Paulo.
A eventual desistência pode culminar em uma possível aliança do Psol com Haddad, mas o assunto ainda não está pacificado internamente. Caso a sigla opte por ter candidatura própria, dois outros nomes já demonstraram disposição em participar da disputa: Silvia Ferraro, que integra um mandato coletivo na Câmara dos Vereadores de São Paulo, e a vereadora Mariana Conti, de Campinas.