Doria e Leite estão pulverizando o PSDB
Foto: Arte / Agência O Globo
Enquanto aliados dos governadores João Doria (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) aumentam a temperatura da troca de farpas, o PSDB se vê às voltas com outra crise interna, derivada do racha entre as alas que divergem da postura da sigla na eleição presidencial: a possibilidade de uma debandada que pode levar a bancada do partido para o pelotão intermediário da Câmara, com cerca de vinte deputados.
Leite vem dando sinais diários de que seguirá para o PSD, cortejado pela promessa de ser candidato à Presidência — ele perdeu as prévias no PSDB para Doria. O movimento fez com que adversários internos do governador de São Paulo se mobilizassem para tentar referendar, na convenção nacional do partido, o nome de Leite, e não o de Doria, como candidato ao Palácio do Planalto, contrariando a decisão tomada pelos filiados. Para concorrerem, ambos precisam deixar os cargos até 2 de abril.
Em meio à turbulência, a lista de parlamentares de saída vem se avolumando e deve chegar a dez nomes. Um deles é Rodrigo de Castro (PSDB-MG), ex-líder da legenda na Câmara. Procurado, ele não quis se pronunciar, mas três deputados tucanos confirmaram ao GLOBO o roteiro. O motivo seria de ordem regional: seu pai, o ex-deputado Danilo de Castro, estaria negociando apoio ao prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), na disputa mineira, enquanto o PSDB pretende fechar aliança com o governador de Minas, Romeu Zema (Novo).
— Fica meio complicado se nem o líder do partido está ficando. Eu estou indo para o União Brasil. Fiquei sem espaço no Ceará — disse o deputado Danilo Forte (PSDB-CE), referindo-se à disputa no estado com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Forte foi um dos maiores apoiadores de Doria nas prévias, assim como o deputado Célio Silveira (PSDB-GO), que também avisou que está indo para o MDB ou o União Brasil. Os dois negam estar saindo devido ao desempenho fraco do governador paulista nas pesquisas, mas têm sido citados por aliados de Leite como exemplo de que nem apoiadores de Doria acreditam na sua viabilidade eleitoral. Na pesquisa Ipec mais recente, de dezembro, o governador de São Paulo marcou 2% ou 3%, a depender do cenário.
Na visão deste grupo, a insistência na candidatura do vencedor das prévias tem prejudicado a formação de alianças nos estados e deve estimular a debandada na sigla, que elegeu 29 deputados em 2018 e hoje tem 31. Caso as dez saídas se concretizem, a marca de 21 deputados representará 20% dos 99 eleitos em 1998, quando Fernando Henrique Cardoso conquistou a reeleição.
— Todos estão preocupados porque a manutenção da candidatura dele vai acabar derrubando o partido. Doria ganhou as prévias, mas não levou. O que ele trouxe para o partido de alianças e gente depois da vitória? Só está prejudicando nas composições nos estados — diz o senador José Aníbal (PSDB-SP), que pretende continuar na sigla caso Leite permaneça.
Doria tem evitado reagir publicamente às críticas, deixando essa função para seus aliados. No momento, dizem pessoas próximas, seu foco está em reduzir sua rejeição em São Paulo, com agendas positivas e inaugurações.
— O PSDB precisa continuar honrando o seu D, de democracia, que foi o que ocorreu nas prévias. Doria está legitimado pelo partido a concorrer. Qualquer fato diferente disso é golpe. E não será aceito — afirma o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando.
Outros apoiadores de Doria batem na tecla de que a vitória nas prévias deve prevalecer sobre qualquer arranjo com outros partidos. Aliados de Leite veem uma oportunidade no acordo que vem sendo costurado por PSDB, MDB e União Brasil por uma candidatura única.
Apoio a Simone Tebet
Diante da dificuldade de Doria, o próprio presidente do PSDB e coordenador da sua campanha, Bruno Araújo, tem dito que o paulista o autorizou a negociar uma composição com MDB e União Brasil, sem garantia de um tucano na cabeça de chapa. Lideranças que participam dessas negociações dizem que o nome da senadora Simone Tebet (MDB-MS) é o mais cotado para uma candidatura única das três forças de centro. Pessoas próximas a Araújo têm defendido que ela seria mais competitiva por ter menos rejeição.
Outros parlamentares em vias de saída do PSDB são os deputados Tereza Nelma (AL) e Ruy Carneiro (PB), e o senador Roberto Rocha (MA). Já as deputadas Rose Modesto (MS) e Mara Rocha (AC) anunciaram a desfiliação.
A criação de uma federação com o Cidadania também pode levar a uma debandada de tucanos no Rio. Um dos principais caciques do PSDB no estado, o secretário estadual de Infraestrutura e Obras, Max Lemos, diz que deixará o partido caso o Cidadania não apoie a reeleição de Cláudio Castro (PL), o que obrigaria a saída do PSDB da base do governador. Os possíveis destinos do tucano, que coordena um dos maiores orçamentos estaduais, seriam o PL e o União Brasil.