
EUA têm reservas de petróleo para aguentar 3 anos
Foto: Spencer Platt/Getty Images/AFP
O governo americano anunciou o boicote de importação do petróleo russo, ao mesmo tempo em que vai usar pela quarta vez desde 1975 as suas Reservas Estratégicas de Petróleo. Segundo dados da Agência Internacional de Energia e do Departamento de Energia do governo americano, os EUA têm hoje 622 milhões de barris de petróleo estocados no Golfo do México para uma importação da Rússia de 626 mil barris por dia. Isso quer dizer que suas reservas poderiam, a grosso modo, suprir 993 dias de importação, quase três anos.
Se os EUA forem usar suas reservas para socorrer os países europeus, a conta fica mais apertada. Os europeus consomem 4,5 milhões de barris de petróleo da Rússia por dia. Somando à importação americana, o cálculo sobe para 5,1 milhões de barris, o que poderia ser coberto pelas reservas dos EUA por 121 dias, ou quatro meses.
A intenção do governo americano e dos países europeus de banir o petróleo russo é clara: cortar a entrada de dólares na Rússia e asfixiar de vez economia do país, a ponto de provocar uma crise cambial e balançar o regime de Vladimir Putin. Além disso, tornaria mais difícil para a Rússia manter o seu esforço de guerra, ao mesmo tempo em que os ucranianos receberiam mais armas e munições para continuar lutando nas maiores cidades do país.
Como já explicou ao blog a economista Monica de Bolle, os países do Ocidente têm feito uma conta de dias e semanas, e não de meses, para que a economia da Rússia entre em colapso após essa medida de cortar as compras de óleo e gás. Com a fuga de empresas e o congelamento das reservas do BC russo, a saldo comercial da energia passou a ser a único fonte de dólares para o país.
Na visão do consultor Adriano Pires, do CBIE, Biden faz uma jogada dupla ao usar as reservas. Primeiro, tenta conter uma disparada ainda maior da cotação do barril, e, segundo, joga para o público interno, já que o preço do galão de gasolina nos EUA passou de US$ 4 e pode tirar popularidade do presidente e dos democratas nas eleições para o Congresso no final deste ano.
– Se ele sufocar a economia da Rússia, a guerra pode acabar mais rapidamente, trazendo mais normalidade aos mercados de petróleo. A pressão do consumidor americano também vai subir com o aumento dos preços da gasolina – afirmou Pires.
O problema dessa tática, conta o consultor, é que os russos podem vender petróleo e gás no mercado paralelo, oferecendo grandes descontos em comparação ao preço atual e ainda assim arrecadar bilhões de dólares em vendas. A China, por exemplo, pode ser o destino dessas exportações dos russos. Ele lembra que a Venezuela e até mesmo o Irã se mantêm no mercado, mesmo com todas as sanções impostas pelos Estados Unidos.
– A China declarou hoje que quer comprar as ações da Gazprom, a estatal de petróleo russa, depois que a Shell anunciou o fim da sua parceria com a empresa. Os chineses podem ocupar esse espaço e dar fôlego a Vladimir Putin – explicou.
A retaliação de Putin ao Ocidente, banindo as exportações de commodities pode apenas a confirmação do que já ocorre na prática. Com as sanções, as exportações da Rússia estão mais difíceis, por questões de logística, financeiras e até de seguros para o trânsito de navios. Do contrário, será um grande tiro no pé, com o próprio presidente russo fechando as portas para a entrada de dólares no país.
Aqui no Brasil, bancos e consultorias estão revisando para cima as projeções de inflação e de juros. Diante de todas as incertezas da guerra, o que parece certo é que o país e o mundo irão sofrer com esse grande choque no setor de petróleo.