Família morre ao fugir da Ucrânia
Foto: Andriy Dubchak/dia images/Getty Images
A imagem dos cadáveres de uma mãe, seus dois filhos – um rapaz e uma menina – e um jovem que os ajudava a fugir de Irpin, na Ucrânia, rodou o mundo no dia 6 de fevereiro, um domingo – a foto é reproduzida abaixo e retrata uma cena perturbadora. Vários fotógrafos e cinegrafistas registraram o momento em que Tetiana Perebyinis, 43 anos, e seus dois filhos, Mykyta, 18 anos, e Alisa, 9 anos, junto com um voluntário da igreja que os ajudava, Anatoly Berezhnyi, 26 anos, foram mortos pelos estilhaços de um morteiro russo ao tentar atravessar as ruínas de uma ponte danificada para seguir até Kiev.
Pouco antes da explosão, o fotógrafo e cinegrafista ucraniano Andriy Dubchak e outros jornalistas estrangeiros estavam entrevistando um voluntário armado com um fuzil na cidade, próximos do local onde a família morreu. Eles haviam perguntado sobre como havia sido o dia anterior, uma segunda. Enquanto o miliciano explicava que havia sido um dia ruim, com mortes e civis sendo presos, o morteiro explodiu no meio da rua. Percebe-se pelas imagens do vídeo de Dubchak que os jornalistas caem para trás e, quando se recuperam, o entrevistado está sendo arrastado.
Ao mesmo tempo, outros soldados ucranianos são vistos correndo em direção ao outro lado da rua, onde jaziam Tetiana, seus dois filhos e Berezhnyi. Logo em seguida, vê-se que tentam ressuscitar o jovem voluntário da igreja local.
Eles estavam tentando atravessar a ponte que levaria para fora de Irpin e em direção a Kiev, de onde tentariam fugir para Donetsk, onde estava o pai da família morta, Serhiy Perebyinis, cuidando da mãe doente. Em entrevista ao jornal americano New York Times, ele disse que ficou sabendo do trágico destino de sua família pelo Twitter.
Segundo Perebyinis, ele conheceu Tetiana no colégio, mas só a reencontraria anos depois, quando frequentavam uma casa noturna. Casaram-se em 2001, e viviam na periferia de Kiev, com os filhos e dois cachorros. Ele trabalhava com programação de computador e ela como contadora.
Viviam confortavelmente, tinham um carro pequeno e podiam se dar ao luxo de viajar para esquiar. Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, as bombas e o perigo começaram a se aproximar ameaçadoramente do local onde moravam. Com Serhiy em viagem para cuidar da mãe, Tetiana decidiu que era hora de sair de Irpin. Segundo os relatos dele ao NYT, ela ficou por dois dias no abrigo improvisado do prédio onde moravam antes de tentar sair da cidade pela primeira vez, no sábado, 5.
Na manhã do dia seguinte, um domingo, acordaram cedo e foram de carro até onde era possível passar. Perto da ponte destruída, eles pararam e começaram a jornada a pé, acompanhados por Berezhnyi. Foi quando o morteiro russo atingiu a rua, a apenas 10 metros de onde estavam passando. Os pais dela vinham logo atrás, mas sequer foram feridos.
Em 2014, eles viviam em Donetsk, quando os separatistas russos se insurgiram e uma guerra começou por lá. Eles se mudaram, então, para Kiev e recomeçaram suas vidas. Quando, em 24 de fevereiro, Vladimir Putin anunciou as “operações especiais militares” na Ucrânia, foi como se o pesadelo tivesse começado novamente.
Após a morte da família, Serhiy teve que sair de Donetsk, entrar na Rússia, ir para Kaliningrado, na fronteira com a Polônia, para poder coltar para Kiev. Decidiu falar para que a imagem de sua família corra ainda mais no mundo e não seja esquecida.