Leite é nanico como Doria, mas tratado como grande liderança

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Foto: Maicon Hinrichsen / Palácio Piratini / 10/03/2022

A eventual aliança entre União Brasil, MDB, Cidadania e PSDB nas eleições de 2022 é um dos trunfos dos tucanos para fazer o governador gaúcho Eduardo Leite ficar no partido. Em conversas reservadas, lideranças dessas siglas têm alertado Leite para o risco de isolamento caso escolha o PSD, presidido por Gilberto Kassab.

Dirigentes de partidos de centro que negociam com o PSDB ouvidos pelo GLOBO dizem que a conversa com o PSD sobre construção da terceira via teria que começar do zero, já que Gilberto Kassab não vem participando das negociações. Como o governador sempre diz que só aceita ser candidato se for dentro de um projeto de um grupo maior, a tese é que no PSDB esse arranjo já está mais encaminhado.

Leite ouviu de lideranças de União Brasil, MDB e Cidadania que seria mais fácil se aliar a essas siglas se permanecesse no PSDB. O governador sempre diz que só aceita ser candidato a presidente se for dentro de um projeto de um grupo maior.

Não por acaso, o governador tem considerado a possibilidade de ficar na sigla e renunciar ao governo estadual. Aliados que tentam convencer o governador a ficar dizem que a convenção da sigla vai homologar o nome do candidato a presidente, independente do resultado das prévias. Avaliam ainda que os demais partidos que negociam com os tucanos são simpáticos a Leite e que a aliança estaria acima da disputa das primárias do PSDB.

Presidente do Cidadania, Roberto Freire, fez um apelo a Leite para que siga no PSDB:

— Vejo ele (Leite) como uma liderança que tem uma visão social democrata que representa o nosso campo e que será importante para o futuro. Pedi pessoalmente que fique junto com a gente — afirmou Freire.

No União Brasil, Leite mantém boas relações com o secretário-geral da sigla, ACM Neto, que já fez elogios públicos ao gaúcho e sinalizou para ele que deveria continuar no PSDB. Já o presidente do partido, Luciano Bivar, tem dito a pessoas próximas que entende que o gaúcho deveria respeitar o resultado das prévias.

Nesta segunda-feira, o presidente nacional do partido, Bruno Araújo, fez mais um gesto pró-Leite, durante filiação à sigla do senador Alessandro Vieira.

— Houve um manifesto, talvez o mais poderoso entregue a um filiado do PSDB, para sua manutenção no partido. Confiamos firmemente que possamos continuar tendo o governador em nossos quadros — disse Araújo.

Assinada por ex-presidentes tucanos e até aliados do governador paulista, João Doria, a carta foi vista no partido como um aceno de que o gaúcho pode ter protagonismo tanto para ajudar a costurar uma aliança por uma candidatura única para a Presidência, tanto para concorrer à reeleição ou ao Senado. O cenário visto como mais provável, hoje, por correligionários é de uma renúncia de Leite, mas a ida para o PSD já não é mais vista como certa.

Araújo disse que PSDB, MDB e União Brasil devem apresentar um candidato único da chamada “terceira via” até 1º de junho.

Lideranças tucanas também não descartam a possibilidade de desistência de Doria, caso não melhore seu desempenho nas pesquisas. Essa hipótese abriria caminho para uma composição entre a senadora Simone Tebet e Leite. Aliados de Doria, no entanto, rechaçam isso e dizem que confiam na melhora de sua imagem.

Outra ponderação que Leite tem ouvido nos partidos de centro é que Kassab já fez sinalizações em direção ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que não é bem visto aos olhos do eleitorado conservador identificado com o governador gaúcho. No mês passado, o presidente do PSD disse não ser “impossível” apoiar o líder petista no primeiro turno. Em outras ocasiões, Kassab afirmou que apoiaria Lula num eventual segundo turno polarizado com o presidente Jair Bolsonaro.

Declarações como essas de Kassab colidem com a estratégia de Leite que tem tentado se apresentar com um possível candidato “despolarizante”, sem manifestar preferência por qualquer um dos lados. Sempre que trata do quadro nacional, o governador costuma pregar união e fazer acenos para eleitores à esquerda e à direita. Nesse sentido, o discurso do gaúcho é elástico e mistura o combate às desigualdades sociais com uma agenda de reformas e medidas de austeridade fiscal.

Além disso, Leite tem sido pressionado para que decida logo sua situação eleitoral, já que sua sucessão ao Palácio do Piratini está emperrada.

O Globo