Mercado prevê inflação e juros subindo
Foto: Reinaldo Canato/VEJA.com
Sem horizonte de trégua e com acirramento das sanções de nações ocidentais à Rússia, a economia global vai sentindo o efeito da incursão de Vladimir Putin na Ucrânia. Por aqui, a disparada do petróleo e o temor que a ausência de fertilizantes encareça o preço da safra fez com que os economistas consultados pelo Banco Central piorassem sensivelmente a perspectiva para a inflação.
Segundo o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 14, o IPCA deve terminar 2022 em 6,45%, bem acima dos 5,65% projetados na semana passada. A estimativa é quase um ponto percentual acima dos 5,50% estimados há um mês. Se a perspectiva brasileira já não era boa com o conflito, com a tensão crescente, o cenário piorou.
A meta de inflação para este ano é de 3,5%, com margem de tolerância em 5%. Desde o início do ano, o mercado projeta um novo estouro da meta, porém, a aceleração da projeção entre a semana passada e essa traduz bem o impacto esperado pelos economistas brasileiros com o cenário global cada vez mais complexo.
Tanto que, os economistas passaram a projetar um cenário de alta maior para a taxa básica de juros, a Selic. Se nas últimas semanas o mercado previa que os juros encerrariam o ano em 12,25%, nesta segunda-feira, a projeção subiu para 12,75%, dois pontos percentuais acima da taxa vigente atualmente. Até mesmo a projeção para 2022, quando os analistas preveem uma normalização maior dos juros, subiu. Economistas projetam a taxa básica de juros em 8,75%, acima dos 8,25% anteriormente estimados.
Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve divulgar sua decisão sobre os juros, e o mercado estima que o ciclo de altas continue. Atualmente, a Selic está em 10,75%. O ciclo de altas começou em março do ano passado, fazendo que a taxa que estava em 2%, a mínima histórica, disparasse. A boa notícia entre as projeções dos economistas brasileiros nesta semana está no PIB.
Os analistas estimam que a economia brasileira crescerá 0,49%, acima dos 0,42% da semana passada e dos 0,30% da semana anterior. Em um cenário tão nebuloso quanto um mundo pós pandêmico e na sombra de uma guerra, o crescimento, mesmo que muito lento, é um alento em meio a previsões difíceis. Cenário A pressão inflacionária no Brasil não vem da guerra de Putin à Ucrânia.
O país vem de um 2021 com a taxa de inflação acima dos dois dígitos, algo que não acontecia em cinco anos. Incerteza fiscal e o ciclo de alta das commodities, duas das razões que pressionaram os índices de preços no ano passado, vieram também para 2022 e se juntaram com o fator eleitoral, que historicamente deixa o cenário econômico mais difícil. Porém, com a ofensiva militar de Putin à Ucrânia, o que não era bom, ficou pior.
Anteriormente, o Banco Central via que a partir de janeiro haveria uma curva de normalização na inflação, fazendo com que o índice desacelerasse durante o ano, e encerrasse em quase metade do que foi o ano passado, mas ainda sim acima da meta. Esse ponto de desaceleração passou para março ou abril, segundo o presidente do BC, Roberto Campos Neto. Agora, com o conflito bélico, a projeção ficou ainda mais difícil e o cenário brasileiro, cada vez mais desafiador.