Partido que aceita se aliar a Moro esteve na Lava Jato

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Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo / 09/11/2021

Considerada uma das poucas opções remanescentes para se coligar à chapa do ex-juiz Sergio Moro (Podemos), o PSC, sigla dirigida pelo pastor Everaldo Pereira, já dá sinais de que as conversas vão naufragar. A negociação mantida pela presidente do Podemos, deputada Renata Abreu (SP), encontra entraves em ambos os lados: enquanto Moro manifestou insatisfação publicamente com a possibilidade de se aliar a Everaldo, que já foi alvo da Lava-Jato, dirigentes e lideranças do PSC têm avisado que vão fazer campanha para o presidente Jair Bolsonaro (PL). Nas disputas estaduais, o cenário também não é positivo para Moro, já que ele não tem nenhum palanque garantido na região Norte ou Nordeste.

A costura entre os dois partidos também encontra barreiras em estados como Paraná e Goiás, onde Podemos e PSC podem se enfrentar com candidaturas majoritárias. Antes do PSC, a sigla de Moro já havia procurado partidos com maior capilaridade nacional, como União Brasil, MDB e PSDB, mas as conversas por alianças não avançaram. O Podemos sondou ainda o Cidadania, que decidiu encaminhar uma federação com os tucanos.

Everaldo, pastor ligado à Assembleia de Deus de Madureira, está afastado do comando do PSC desde agosto de 2020, quando foi preso preventivamente pela Polícia Federal numa investigação sobre desvios na área da saúde no governo Wilson Witzel (PSC) no Rio. Ele foi solto um ano depois, mediante uso de tornozeleira eletrônica, e mantém atuação discreta desde então. O presidente em exercício da sigla, o ex-deputado Marcondes Gadelha, é seu antigo aliado.

Na última quinta-feira, ao ser perguntado pelo jornal “Folha de Londrina” se teria incômodo em fazer campanha com políticos que já foram citados na Lava-Jato, entre eles Everaldo, Moro respondeu não ter “nenhuma aliança concretizada com esses personagens”. O ex-juiz também disse que o partido “tem que tomar cuidado com quem faz aliança”. As declarações azedaram de vez o clima para uma aliança no PSC, que tinha chegado a avaliar uma federação, mas viu a maioria de suas lideranças tratarem Moro como empecilho.

— O Podemos procurou todo mundo, inclusive a mim. Mas temos candidatos nos estados que não comungam com a candidatura presidencial deles. Isso (resistência a Everaldo) não tem nada a ver, porque no plano nacional jamais avançamos em conversas — afirmou o deputado federal Gilberto Nascimento (PSC-SP), 1º secretário do partido, e ligado à Assembleia de Deus no Brasil.

No Paraná, terra natal de Moro, o PSC pretende apoiar o governador Ratinho Jr. e indicar o deputado Paulo Eduardo Martins como candidato ao Senado. O Podemos, por sua vez, já tem o senador Álvaro Dias como postulante à recondução. Martins, que é jornalista e trabalhou na Rede Massa — emissora de TV do apresentador Carlos Massa, pai de Ratinho Jr. —, diz considerar “impossível” um alinhamento entre PSC e Podemos.

— O PSC do Paraná apoia Jair Bolsonaro e tem a minha pré-candidatura ao Senado. Portanto, os projetos são inconciliáveis.

Há também um possível embate em Goiás. O PSC local defende apoios a Bolsonaro e ao governador Ronaldo Caiado (União), e pode filiar o senador Luiz do Carmo para encaixá-lo na chapa governista.

Moro tentou formar um palanque com Caiado, mas o Podemos se aproxima de um apoio ao prefeito de Aparecida de Goiânia, e pré-candidato de oposição ao governo, Gustavo Mendanha. O deputado José Nelto (Podemos) aliado de Moro e de Caiado, perdeu o comando local da sigla para o vice de Mendanha, Vilmar Mariano.

— Moro não é o projeto que nós apoiamos — afirmou o deputado Glaustin da Fokus (PSC-GO).

Conversa com o Patriota
Uma das exceções na resistência a Moro dentro do PSC é o cientista político Márcio Coimbra, presidente da Fundação da Liberdade Econômica, ligada ao partido. Coimbra tem manifestado nas redes seu apoio ao ex-juiz. Segundo o PSC, porém, trata-se de uma posição “pessoal”.

Com oito deputados federais e um senador, o PSC deverá ter cerca de R$ 80 milhões do fundo eleitoral.Em 2018, as siglas formaram uma aliança para a candidatura de Álvaro Dias à Presidência, que teve o economista Paulo Rabello Castro como vice pelo PSC.

Em paralelo à sondagem do Podemos, o PSC chegou a avançar por uma federação com o Patriota, frustrada por impasses em Maranhão e Goiás. Na Paraíba, estado do presidente em exercício do PSC, o partido mantém boa relação com o líder do Patriota, Walber Virgolino, que defende uma chapa bolsonarista, e com o pré-candidato ao governo Pedro Cunha Lima (PSDB), que pode abrir palanque para Moro.

O Globo