PF faz operação contra partido de Bolsonaro
Foto: Reprodução
A Polícia Federal deflagrou na manhã desta sexta-feira (11) uma operação contra deputados federais do PL, atual partido do presidente Jair Bolsonaro. Entre os alvos está Josimar Maranhãozinho (MA), esse pela terceira vez.
A PF apura suspeitas envolvendo desvios de emendas de parlamentares. A investigação de agora teve origem em uma outra iniciada no Maranhão em 2020.
A operação cumpre mandados de busca a apreensão em endereços residenciais e em empresas, autorizados pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo, relator do caso.
Os outros parlamentares investigados são Pastor Gil (PL-MA) e Bosco Costa (PL-SE). A PF chegou a pedir buscas nos gabinetes dos deputados na Câmara, mas o STF indeferiu. Nenhum deles ainda se manifestou sobre a operação desta sexta-feira.
Em uma outra investigação, chamada de Descalabro, a Polícia Federal concluiu em dezembro do ano passado que Josimar de Maranhãozinho (PL-MA) está por trás de um suposto esquema para desviar dinheiro de emendas parlamentares destinado a municípios do Maranhão.
Nesse caso, o deputado foi flagrado manuseando uma grande quantidade de maços de dinheiro em seu escritório político, em São Luís.
Ele foi filmado com autorização de Lewandowski, em uma ação controlada. Foi instalada uma câmera escondida no local e, na gravação, o parlamentar aparece guardando valores em caixas.
No relatório que foi entregue ao STF em dezembro, os investigadores atribuíram a Josimar os crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Em 2018, quando foi eleito para uma cadeira na Câmara, Maranhãozinho declarou ser dono de patrimônio de R$ 14,5 milhões. Dez anos antes, ele havia declarado à Justiça Eleitoral R$ 464 mil em bens.
O parlamentar é presidente estadual do PL, partido que filiou Bolsonaro e seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro, e é comandado por Valdemar Costa Neto, condenado no escândalo do mensalão do PT.
De acordo com a apuração, prefeituras sob a influência política de Maranhãozinho beneficiadas com as verbas contratavam empresas ligadas ao deputado. Estima-se que a fraude pode ter gerado prejuízo de R$ 15 milhões aos cofres públicos. Parte dos valores eram destinados à área da saúde.
Deputados e senadores têm direito a uma cota anual no Orçamento da União. Em 2021, por exemplo, eles puderam indicar R$ 16,3 milhões para serem destinados a suas bases eleitorais.
Reportagem da Folha também mostrou uma outra situação suspeita envolvendo o dirigente do PL maranhense.
A PF apreendeu R$ 400 mil em poder do sócio de uma empresa, e investigadores suspeitam de conexão do caso com o parlamentar.
O portador dos valores, retidos em maio deste ano em São Luís, aparece ao lado de Maranhãozinho entre os alvos do inquérito que tramita no Supremo.
O combate à corrupção, enaltecido por Bolsonaro, é tratado de maneira pouco enfática no governo. Sempre que confrontado com suspeitas envolvendo aliados, amigos e familiares, o presidente critica imprensa, Ministério Público e Judiciário, enquanto alvos são mantidos nos cargos.
Em novembro de 2018, após eleito, Bolsonaro afirmou que ministros alvo de acusações contundentes deveriam deixar o governo, o que não se concretizou na prática.
O ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo), por exemplo, seguiu no governo após ter sido indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público de Minas sob acusação de envolvimento no caso das candidaturas laranjas do PSL.
Desde que assumiu a Presidência, Bolsonaro contesta ações de órgãos de controle para investigar seu núcleo familiar, por exemplo.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é investigado em um esquema de “rachadinhas” na Assembleia do Rio. E o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) é suspeito de abrigar funcionários fantasma na Câmara Municipal do Rio.
Foi ainda no primeiro ano de mandato que tomou a decisão que mais impactou a agenda anticorrupção no país, na avaliação da maioria dos especialistas ouvidos pela Folha.
Para eles, apesar de legal, a indicação de Augusto Aras para o comando da Procuradoria-Geral da República, ignorando a lista tríplice dos procuradores, feriu a independência que o cargo demanda.
Crítico à atuação da Lava Jato, Aras travou diversas quedas de braço com os procuradores de Curitiba, até que, após um ciclo de desgaste perante à opinião pública e os indícios de parcialidade, a força-tarefa da capital paranaense foi dissolvida sem gerar comoção, como não ocorreria em outros tempos.
No campo político, para evitar a abertura de um processo de impeachment, Bolsonaro intensificou a ampliação de sua base aliada por meio da antes contestada política do tomá-lá-dá-cá, com a entrega de cargos e recursos para parlamentares aliados do governo, em especial do chamado bloco do centrão.
Já na crise da Covid, as suspeitas de corrupção no contrato bilionário entre Ministério da Saúde e Precisa Medicamentos foram destaque e inauguraram uma nova fase da CPI da Covid, que pediu a punição de Bolsonaro por crimes contra a humanidade, prevaricação e charlatanismo.
A revelação de irregularidades num contrato de R$ 1,61 bilhão, destinado à compra da Covaxin, imunizante mais caro dentre os adquiridos pelo Ministério da Saúde, colocou o governo Bolsonaro na berlinda. Trouxe à tona ainda a existência de um verdadeiro balcão paralelo de vacinas no militarizado ministério.
A soma destes casos levou à demissão de Roberto Ferreira Dias do cargo de diretor de Logística da Saúde. Ele caiu horas após a Folha revelar que Dias, indicado do centrão, teria pedido propina para negociar as doses, segundo o cabo da PM Luiz Dominghetti.