Queiroz faz relato frio de assassinato que cometeu
Foto: Alex Ferro/VEJA
Apontado como chefe do grupo de matadores de aluguel Escritório do Crime, o ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, morto pela polícia na Bahia em 2020, era íntimo de Fabrício Queiroz. A estreita ligação entre o homem de confiança de Flávio Bolsonaro e o miliciano foi confirmada pelo próprio Queiroz durante entrevista a VEJA. “Melhor policial que eu conheci na minha vida. Não tem um processo que condene ele. Nada, nada, nada”, defende o PM da reserva, denunciado como o operador do esquema de “rachadinha” no gabinete de Flávio quando ele atuava como deputado estadual no Rio de Janeiro. “O Adriano era criador de gado, era de vaquejada, um cara da roça”, dá sua versão sobre o amigão, que era conhecido com um policial frio e exímio atirador, que chegou a ser preso quatro vezes, antes de ser expulso da Polícia Militar.
Foi o ex-capitão quem, segundo Queiroz, o avisou do fato de estar correndo risco de morte, logo depois que estourou o caso da “rachadinha” no gabinete do Zero Um de Jair Bolsonaro. O suposto alerta, acrescentou ainda o PM reformado na entrevista, foi um dos motivos para sua fuga para a casa em Atibaia, interior de São Paulo. Ali, onde o operador dos desvios de salários no feudo de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio foi preso em junho de 2020, Queiroz contou com a ajuda de Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, que chegou a defender o hoje senador no processo da “rachadinha”.
A amizade de Queiroz e o finado Adriano da Nóbrega vem de longa data. Os dois foram lotados no 18º Batalhão da Polícia Militar, em Jacarepaguá, pelo qual atuaram juntos em várias operações em favelas cariocas. Recentemente, o Ministério Público fluminense determinou novas diligências no caso da morte do técnico de refrigeração Anderson Rosa de Souza, na Cidade de Deus, que foi praticada por Queiroz e Adriano, em 2003. Quando questionado sobre o que realmente ocorreu durante incursão à comunidade na Zona Oeste fluminense – registrado como auto de resistência, mas com suspeitas de execução –, o assessor dos Bolsonaro demonstra extrema frieza. “O cara está lá no inferno, porque era um vagabundo, e eu aqui, graças a Deus. Chorou a mãe dele”, dispara. Em seguida continua com sua versão: “Era bandido, gerente do tráfico lá. Vagabundo, estava de fuzil. Trocou tiro com a gente e quem morreu foi ele. Reagi a uma injusta agressão.”
Queiroz também dá sua justificativa para o fato de Danielle Mendonça, ex-mulher de Adriano, e Raimunda Veras Magalhães, mãe do miliciano, terem sido nomeadas no gabinete de Flávio – elas estão entre as 17 pessoas denunciadas em novembro de 2020 pelo MP. Segundo o ex-assessor, Danielle distribuía doces de Cosme e Damião acompanhados de santinhos eleitorais do filho primogênito de Jair Bolsonaro na porta do presídio em que o futuro chefe do Escritório do Crime esteve preso pela primeira vez, após sua guarnição matar um guardador de carros. Em julho de 2007, com Adriano já livre da primeira detenção e como forma de lealdade aos Nóbrega, Flávio nomeou a mulher no gabinete. Só sairia de lá em novembro de 2018, quando o escândalo da “rachadinha” estava prestes a explodir. “Ela levava ônibus e mais ônibus lá para a Alerj, onde havia muitos policiais indo fazer reclamações. Ela trazia, agregava, começou a comprar a briga dos policiais”, alega o suposto operador dos desvios.
Já Raimunda, ou “Dona Vera”, teria sido responsável por comandar no mandato de Flávio o “Disk Multas”, que ajudava eleitores a recorrerem de punições de trânsito. Com a experiência de ter trabalhado no Detran, era “expert nisso”, segundo Queiroz. A promotoria fluminense, no entanto, considera a ex-mulher e a mãe do miliciano mais duas peças do esquema operado pelo antigo companheiro de batalhão de Adriano. Na denúncia, os promotores elencam provas de que o dinheiro recebido pelas assessoras não permanecia em suas contas. Numa das conversas obtidas ao longo da investigação, o ex-capitão do Bope afirma para Danielle, após a ex-companheira reclamar que Queiroz lhe avisara que precisaria ser exonerada porque a “rachadinha” viria à tona, que “contava com o que vinha do seu também”.