Relação de Moro com Podemos fica cada vez mais difícil
Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Integrantes do Podemos convidaram o ex-ministro Sergio Moro, pré-candidato ao Palácio do Planalto pelo partido, para um jantar em Brasília na última terça-feira. No cardápio, apelos para que ele passe a compartilhar decisões relacionadas a estratégias de campanha, como as relacionadas à comunicação e a articulações políticas. O argumento posto à mesa foi o de que o perfil centralizador do ex-juiz da Lava Jato tem causado desgastes internos, sob o risco de ficar isolado na corrida eleitoral.
No encontro, realizado na casa do senador Eduardo Girão (Podemos-CE), alguns aliados tentaram convencer Moro de que a deputada Renata Abreu (SP), presidente da legenda, seria a pessoa mais adequada para ajudá-lo no diálogo com possíveis aliados. O argumento levado ao ex-ministro foi que Renata possui experiência e traquejo político. Irredutível, Moro deixou claro que quer ficar com essa tarefa para si, enquanto a dirigente partidária deve contribuir apenas com as estratégias nos estados. A postura não tem sido bem digerida no partido.
— Uma campanha para presidente não é a decisão de um juiz. O juiz decide sozinho, mas o candidato a presidente da República, governador ou prefeito precisa de um grupo de cabeças pensantes e aliados fazendo articulação política — afirmou ao GLOBO o deputado José Nelto (Podemos-GO).
De acordo com Nelto, é preciso “o candidato ouvir o partido, e o partido ouvir o candidato” na campanha.
Anfitrião do jantar, Girão minimizou as críticas e disse que a articulação é feita “em diálogo constante com Renata (Abreu)”. O senador justificou a distância de Renata Abreu para a campanha ao Planalto alegando que ela está focada na formação da chapa dos estados, o que, segundo ele, leva tempo.
— Logo após o início de abril, creio que ela vá mergulhar ainda mais na campanha do (ex-)ministro — declarou Girão.
Time próprio
Na visão de integrantes da legenda , contudo, Moro fez uma opção de tocar seu projeto eleitoral de maneira independente, em torno de um grupo que não é nem o da direção da sigla, nem o das bancadas no Congresso.
De acordo com pessoas próximas, o ex-ministro quer restringir a condução da campanha por temer equívocos que possam prejudicar a sua reputação. Por ter tido a atuação como juiz focada no combate à corrupção, Moro considera que qualquer deslize pode ser usado por seus adversários contra ele, o que inclui desde a aplicação de recursos do fundo eleitoral à aproximação com políticos envolvidos em irregularidades.
O ex-ministro também optou por afastar o marqueteiro do Podemos, Fernando Vieira, que é visto com desconfiança. Em seu lugar, contratou o argentino Pablo Nobel, uma escolha pessoal. A intenção do presidenciável é montar uma equipe de comunicação própria, que também ficaria apartada do restante da estrutura partidária.
Em mais uma sinalização de que quer se manter independente do partido, Moro tem mantido o diálogo com integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) mesmo após os integrantes do grupo deixarem o Podemos. O rompimento ocorreu após o partido acenar com a expulsão do deputado estadual Arthur do Val (SP) por conta de áudios sexistas gravados pelo parlamentar. Na sequência, ele pediu a desfiliação.
Até aqui, porém, o estilo Moro de fazer política tem surtido pouco efeito. O ex-ministro ainda não conseguiu construir pontes com outras siglas, enquanto as principais legendas do país ensaiam a formação de alianças e, em alguns casos, já especulam até a indicação de vices. O Podemos ficou apartado das reuniões iniciais entre MDB, União e PSDB em busca de um nome de consenso na chamada terceira via. Na terça, Moro declarou que, apesar da ausência nos encontros, tem acompanhado as conversas.
Em caráter reservado, Moro tem dito que, se não for possível fechar alianças, está confiante em seguir sozinho na disputa mesmo com a falta de recursos públicos, tempo de TV e de parcerias nos estados.
Também havia a expectativa de que a chegada de Moro ao partido ajudaria a atrair novos integrantes para o Podemos, o que não se confirmou até o momento. A bancada federal da sigla caiu de 11 para oito integrantes na janela partidária, e outros dois deputados têm indicado que ainda vão sair.