Bolsonaristas podem puxar o tapete de Claudio Castro

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Foto: Alan Santos – 4.abr.22/Presidência da República

Irritado com o que considera falta de fidelidade do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem sido estimulado a autorizar a formação de um palanque alternativo no estado.

Não há uma opção definida, mas pré-candidatos interessados no apoio do presidente se movimentam para desempenhar o papel de um palanque fiel a Bolsonaro e, principalmente, crítico ao ex-presidente Lula (PT), maior adversário na corrida presidencial.

Os motivos da irritação do presidente são os acenos de Castro a aliados de Lula no estado, em especial ao presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT), pré-candidato ao Senado.

Castro também liberou ex-secretários a fazerem campanha para o presidenciável que preferirem. Um dos principais responsáveis pelo pacote de obras bilionário tocado pelo governo, o deputado e ex-secretário de Infraestrutura Max Lemos (Pros), pretende apoiar Lula.

No diálogo com prefeitos, o governador também não tem defendido com ênfase o nome de Bolsonaro. Afirma estar interessado no apoio dos líderes municipais, independentemente do nome que eles apoiem para o governo federal.

Inclui-se no pacote de insatisfações a origem petista do chefe de gabinete do governador, Rodrigo Abel, um dos principais articuladores políticos da pré-campanha.

Ele deixou o PT em 2016 e já trabalhou nas gestões dos prefeitos do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), e de Niterói, Rodrigo Neves (PDT), e se aproximou de Castro por meio do deputado Márcio Pacheco (PSC), líder do governo na Assembleia.

O governador tem sido orientado por seus aliados mais próximos a não atrelar tanto a imagem ao presidente.

O conselho foi reforçado após pesquisa Datafolha mostrar que 63% dos eleitores do Rio de Janeiro não votariam de jeito nenhum em um candidato apoiado por Bolsonaro.

O somatório de sinais de Castro considerados complacentes com a oposição e sem fidelidade suficiente ao projeto bolsonarista tem sido usado por aliados de Bolsonaro para estimular o presidente a aceitar um palanque duplo no estado.

De olho na movimentação, o ex-governador Anthony Garotinho (União Brasil) e o ex-prefeito da capital Marcelo Crivella (Republicanos) se articulam para receber esse apoio. Os dois discutem, inclusive, uma aliança, repetindo a estratégia da disputa pelo governo fluminense em 2014.

“Se o presidente não tiver mais de um palanque, ele vai ter meio palanque no Rio de Janeiro. Está claro para quem vive no estado que o palanque do Cláudio está dividido”, afirmou a deputada Clarissa Garotinho (União Brasil).

Garotinho lançou sua pré-candidatura sem apoio claro do partido. O movimento foi visto como uma forma de pressionar Castro por mais espaço num eventual segundo governo. Contudo, a perspectiva de apoio do presidente pode ampliar as chances do nome vingar.

No cenário em que teve o nome testado pelo Datafolha, o ex-governador teve 7% das intenções de voto, contra 14% de Cláudio Castro. O governador está tecnicamente empatado na liderança com o deputado federal Marcelo Freixo (PSB) nos dois levantamentos feitos pelo instituto.

Bolsonaristas também cogitam uma surpresa: o lançamento do nome de um militar atualmente na ativa, única categoria que pode se filiar até 5 de agosto, data das convenções partidárias.

O nome do ex-ministro Braga Netto também foi cogitado nas conversas. No entanto, o general da reserva é o preferido de Bolsonaro para ocupar a vice na chapa presidencial. Além disso, esta escolha exigiria um movimento abrupto de retirada da candidatura de Cláudio Castro, já que ambos estão filiados ao PL-RJ.

O presidente ainda não deu qualquer sinalização sobre essas opções. Contudo, o estilo mercurial com que Bolsonaro toma suas decisões faz com que aliados adeptos do palanque duplo o mantenha constantemente informado sobre os sinais contraditórios de Cláudio Castro até que a paciência dele acabe.

O principal fiador da aliança com o governador é o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente. Ele indicará três nomes para a posição de vice na chapa do governador.

“Cláudio Castro está 100% alinhado com o presidente Bolsonaro. Existem apoiadores do Cláudio que não estão caminhando com Bolsonaro, mas o nosso partido não trabalha com nenhuma hipótese do Cláudio não estar 200% com Bolsonaro”, disse o deputado Altineu Côrtes, presidente do PL-RJ.

Castro filiou-se ao PL em maio do ano passado. A sigla foi escolhida como uma opção “neutra” para que ele pudesse ampliar seu palanque no Rio de Janeiro. O plano deu errado quando o presidente decidiu se transferir para a mesma sigla, em novembro.

O governador chegou a negociar uma mudança para a União Brasil, a fim de manter o plano inicial. Contudo, a ruptura poderia distanciá-lo demais de Bolsonaro, cujo eleitorado ele reconhece precisar.

Castro mantém o apoio público a Bolsonaro, posicionamento que não deve se alterar até a eleição.

No estafe do governador, porém, o principal objetivo é manter-se como líder das pesquisas junto com Freixo.

A aposta é que, neste cenário, ele se tornará uma opção natural dos eleitores do presidente, que rejeitam o pré-candidato do PSB em razão das pautas de costumes associada à sua imagem.

O foco neste momento é consolidar uma imagem de Castro, que assumiu o governo após o impeachment de Wilson Witzel. A taxa de desconhecimento sobre o governador é de 34%, segundo pesquisa Datafolha.

A distância segura de Bolsonaro, sem um apoio inflamado como desejam os aliados do presidente, se deve também ao objetivo de atrair eleitores de centro. Reforçou esta leitura a recente deterioração da terceira via articulada pelo prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD).

Dois meses após anunciada, a aliança entre PDT e PSD entrou em um impasse sobre a definição da cabeça de chapa para o governo. Os pedetistas defendem o nome do ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT), enquanto Paes quer o ex-presidente da OAB Felipe Santa Cruz.

O acordo era que o nome fosse definido até 15 de março. Contudo, a decisão se arrastou até o Datafolha mostra Neves com 7% e Santa Cruz com 3% no cenário mais provável de ser reproduzido em outubro, um empate técnico em razão da margem de erro de três pontos percentuais.

Paes pediu mais tempo ao PDT para aguardar as inserções do PSD e avaliar o resultado sobre o eleitorado. Os pedetistas, contudo, rejeitaram o pedido por considerarem Neves o melhor nome.

Folha