Bolsonaro ataca STF para povo esquecer da inflação

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Foto: REUTERS/ADRIANO MACHADO

A “tática do doido”, que consiste em negar o óbvio, é utilizada pelo presidente da República diante de denúncias de corrupção. Isso se torna mais difícil quando a realidade dá, diariamente, uma surra de gato morto na cara dos brasileiros, como é o caso do aumento do custo da alimentação. Daí, a estratégia não é mentir e ignorar, mas omitir e disfarçar.

Mostrando que, no fundo do poço, há sempre um alçapão, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15), que registra a variação dos preços de meados de março a meados de abril, marcou 1,73% – a maior alteração para uma prévia da inflação deste mês nos últimos 27 anos. Em 12 meses, o acumulado é de 12,03%.

Sim, da última vez que a taxa foi tão alta Take a Bow, de Madonna, Pelados em Santos, dos Mamonas Assassinas, e Eu me Amarrei, de João Paulo e Daniel, estavam entre as músicas mais tocadas. Aliás, os saudosos Mamonas e João Paulo ainda estavam entre nós.

O governo pisou no tomate, que aumentou 26,17%? A inflação tem componentes externos, mas também internos – o que incluem um país sem projeto econômico e um presidente mais preocupado em fazer guerra com outras instituições e gastar bilhões do orçamento para buscar sua reeleição do que com a qualidade de vida da população.

Tudo isso era esperado desde que Jair Bolsonaro assumiu, ou seja, não dá para chorar o leite derramado – até porque seria, hoje, um crime, uma vez que o leite longa vida subiu 12,21%.

Também ficou mais difícil refogar uma cenoura (aumento de 15,02%), fritar umas batatinhas (óleo de soja subiu 11,47% e a batata-inglesa, 9,86%) e fazer um pão francês na chapa (4,36%) não apenas pelo preço dos alimentos, mas também do gás de cozinha. O botijão disparou 16,06%, fazendo com que parte dos brasileiros o substituísse por álcool ou lenha, queimando-se e incendiando suas casas.

Nos últimos 12 meses, segundo o IPCA-15, o grupo de tubérculos, raízes e legumes saltou 68%, o de hortaliças e verduras, 35,76%, o de óleos e gorduras, 26,26%, o de bebidas e infusões, 19,3%, o de aves e ovos, 18,79% e o açúcares e derivados, 18,76%.

Há países que, quando estão enrascados com problemas internos, criam uma guerra fora de suas fronteiras. Por aqui, as polêmicas que desviam o olhar da crise econômica vêm de batalhas contra as próprias instituições, ou seja, o governo entra em guerra contra seu próprio povo.

Entre os efeitos colaterais das ações de Bolsonaro para erodir a credibilidade do STF nas eleições e excitar seus seguidores está uma cortina de fumaça sobre a inflação. O que não funciona muito, pois as pesquisas de intenção de voto vêm mostrando que a questão segue como um dos principais entraves ao crescimento do presidente.

A última pesquisa Ipespe, divulgada no dia 22, apontou que 70% da população consideravam que os preços dos produtos aumentaram muito nos últimos 12 meses e 25% avaliam que eles aumentaram. Enquanto isso, 43% acreditam que eles vão aumentar, 20% que vão aumentar muito e 20% que ficarão como estão, ou seja, manter-se altos nos próximos meses.

A inflação deve ceder na época das eleições, não por méritos do governo, mas por conta da conjuntura. Bolsonaro vai dizer que conseguiu controlá-la e, agora, quer mais quatro anos para fazer o Brasil crescer. Mas, se por um lado, os aumentos estarão mais contidos, os preços em si permanecerão em um patamar tão alto que o presidente terá que usar todos os bots de Twitter que tiver à disposição para incutir essa ideia na cabeça dos brasileiros.

No IPCA de março, a inflação da cenoura nos últimos 12 meses foi de 166,17%, seguida pela do tomate (94,55%) do pimentão (80,44%), do melão (68,95%), da melancia (66,42%), do repolho (64,79%), do mamão (54,95%), da abobrinha (44,99%) e do alface (38,92%).

Com isso, Jair Bolsonaro vai mostrando empenho em garantir o cumprimento de uma de suas promessas de campanha.

Em 11 de outubro de 2018, em entrevista à Rádio Jornal, de Barretos (SP), ele disse que o objetivo de seu governo seria fazer “o Brasil semelhante àquele que tínhamos há 40, 50 anos atrás”. Quem viveu a hiperinflação do final da década de 80, deve estar achando tudo isso uma piada de mau gosto.

Uol