Bolsonaro prioriza Sudeste e Nordeste
Foto: Evaristo Sá/AFP
Fortalecidas com o encerramento da janela partidária, as legendas de centro-direita começam a se debruçar no passo seguinte: consolidar os palanques estaduais para a reeleição de Jair Bolsonaro (PL).
Na comparação com a eleição de 2018, há uma diferença clara: os palanques ligados ao presidente ficaram mais robustos e mais ligados à política tradicional. Bem diferente das eleições passadas, quando o então candidato ao Planalto se projetou com um discurso antipolítica.
Em 2022, é possível vislumbrar cenários mais consolidados de apoio ao presidente. A popularidade de Jair Bolsonaro cresce nas regiões Sul, Centro-Oeste e Norte, mas enfrenta dificuldades no Nordeste, majoritariamente favorável ao pré-candidato do PT, o ex-presidente Lula.
Em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, Bolsonaro está preparando candidaturas que podem atrapalhar a vida dos favoritos nas pesquisas. Ministros bem avaliados foram instados a entrar na disputa eleitoral.
Além de azeitar as candidaturas estaduais, a estratégia bolsonarista inclui outras armas. A máquina de propaganda governamental opera em ritmo intenso, e um pacote de bondades para o eleitor vem sendo desembrulhado na medida em que o staff político do presidente identifica alguma oportunidade de conquistar votos.
Para o ex-ministro da Cidadania João Roma (Republicanos), que vai concorrer ao governo da Bahia, as eleições gerais sempre começam a ser definidas pela disputa à Presidência da República. “Na outra eleição (2018), Bolsonaro era avulso, poucos acreditavam que ele ganharia. Mas, agora, é o presidente em reeleição. Ocupou esse espaço e os palanques regionais robustecidos mostram isso”, avaliou o ex-ministro ao Correio.
Para João Roma, o maior crescimento da bancada do PL e o fortalecimento do PP e do Republicanos “mostram uma tendência, percebida pelo próprio Parlamento, de um vetor de força para a reeleição do presidente Bolsonaro”.
Na Bahia, com a bandeira do bolsonarismo, Roma vai enfrentar duas forças dominantes no estado: o PT e o União Brasil. “Vemos a Bahia desconectada, o PT de um lado, ACM Neto sem vinculação nacional (de outro), e eu vinculado ao presidente Bolsonaro, querendo mostrar esse novo caminho para a Bahia”, descreve Roma.
Ajuda do Centrão
Nomes como o de Roma ou de Anderson Ferreira (PL), ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes (PE) e pré-candidato do PL ao governo do Pernambuco, são construções políticas montadas com a ajuda dos caciques do Centrão para alterar a correlação de forças nos estados nordestinos, onde as pesquisas de opinião registram as maiores taxas de rejeição ao governo Bolsonaro e amplo favoritismo para Lula.
No caso pernambucano, Ferreira entra na disputa fazendo chapa com o ex-ministro do Turismo Gilson Machado como candidato ao Senado. Em Pernambuco, a principal força política é o PSB, que dará um dos dois palanques que o candidato petista terá no estado — o outro será o da candidata do Solidariedade, Marília Arraes, que rompeu com o PT.
“A maior parte dos diretórios inaugurados estão no Sul e no Sudeste. Sobre o Nordeste, aguardamos ainda a consolidação dos dados. Porém, vale explicar: há 226 diretórios, 100 prontos para operar com equipes e 126 com dificuldade de se manter por falta de pessoal, principalmente no interior. Hoje, com a vinda do Bolsonaro, isso mudou, podemos escolher”, disse o líder do PL na Câmara, deputado Capitão Augusto.
Se no Nordeste a situação do bolsonarismo está longe de ser confortável, no Sul do país o presidente leva boa vantagem em relação ao seu principal oponente. No Rio Grande do Sul, dois palanques estarão à disposição de Bolsonaro: o do ex-ministro do Trabalho e Previdência Onyx Lorenzoni, pelo PL, e o do senador Luís Carlos Heinze (PP).
Lula terá o palanque do deputado estadual Edegar Pretto (PT), que espera ter o reforço da ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB). Em Santa Catarina e no Paraná, os candidatos ligados ao bolsonarismo seguem como favoritos diante dos nomes ligados à esquerda.
No Norte e no Centro-Oeste, Bolsonaro também vislumbra palanques amistosos, principalmente de atuais governadores que tentam reeleição, como Ronaldo Caiado (União), em Goiás, Ibaneis Rocha (MDB), no DF, e Wilson Lima (União), no Amazonas. No caso do DF, Ibaneis espera o reforço da ex-secretária de Governo de Bolsonaro Fávia Arruda (PL) como candidata ao Senado. Lula terá os palanques da esquerda, cujos pré-candidatos não despontam entre os favoritos, de acordo com as pesquisas.
“Creio que o problema do PT é que o partido está ‘jogando parado’. Lula assumiu uma postura mais reativa do que pró-ativa neste contexto pré-eleitoral, e isso pode ter impactado a situação do partido nesse fechamento da janela partidária e, também, a recuperação da imagem de Bolsonaro junto à opinião pública”, avaliou o cientista político Rodrigo Gallo, da Universidade São Judas Tadeu.
A região decisiva continua sendo o Sudeste, que reúne a maioria do eleitorado brasileiro. No Rio de Janeiro, Bolsonaro terá o apoio automático do atual governador, Cláudio Castro (PL). Lula, por sua vez, contará com Marcelo Freixo (PSB). Para o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), coordenador da campanha do presidente, o resultado da janela partidária “assustou a oposição”. Mesmo com Lula liderando as pesquisas de opinião, o troca-troca partidário reforçou a base eleitoral do pai. “A meu ver, nem a oposição acredita nas pesquisas. A verdade é que há mais eleitores para Bolsonaro do que se espera, e a eleição vai provar”, comentou o senador ao Correio.
Em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, a disputa está, por enquanto, entre o atual governador, Romeu Zema (Novo) e o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD). O primeiro apoiou Bolsonaro na eleição passada, mas, agora, anda distante do presidente, que escalou o senador Carlos Viana (PL) como candidato do partido ao governo do estado. Kalil, por sua vez, deve apoiar Lula.
Finalmente, São Paulo, a fortaleza dos tucanos que, divididos, correm o risco de perder uma eleição no estado pela primeira vez em 28 anos. Bolsonaro escalou para o embate paulista o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos). No campo da esquerda, o candidato ligado a Lula será o petista Fernando Haddad ou o socialista Márcio França. O PSDB tentará manter sua joia da coroa com o atual governador, Rodrigo Garcia.