Ciro Gomes diz que o Brasil passa pela maior crise da história

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Foto: Ana Paula Paiva/Valor

O pré-candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, disse que o país atravessa a maior crise da sua história e que a continuidade do atual modelo político econômico poderá levar o país à disruptura. “Se é que essa disruptura não já aconteceu porque temos um presidente indizível [Jair Bolsonaro], que eu considero um grande bandido”, afirmou Gomes. O político foi sabatinado ontem pela manhã no Brazil Conference, evento organizado por estudantes brasileiros em Boston (EUA).

O ex-governador do Ceará, que concorre pela quarta vez à Presidência, defende revogar o teto de gastos para fazer investimentos no país. Ciro Gomes também defende um novo fundo nacional para rever o modelo educacional e ampliar o acesso da população ao ensino público.

Questionado se terá chance de ser um nome competitivo para quebrar a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro disse que as pesquisas mostram Bolsonaro com 25% das intenções de voto e, Lula, com 45%. “Sobram 30%. Estou aqui.”

Para ele, o atual modelo econômico tem de ser revisto. Ciro é crítico das gestões anteriores, que defenderam o regime de câmbio flutuante, e é a favor do estímulo ao desenvolvimento da indústria. “Não existe economia do crescimento se não tiver uma base industrial.”

De acordo com o pré-candidato, a primeira tarefa é administrar a taxa de juros. “Como se faz isso? Tem de fazer equação fiscal sustentável e não pode ser uma inflação fiscal que só olha despesa.” Ele também defende a cobrança de tributos sobre lucros e dividendos dos empresários.

Ciro disse que pretende construir “uma sanidade fiscal, trazendo a taxa de juros para patamar competitivo no mercado global porque câmbio é uma variável, mas juro é pior.” Segundo ele, o governo de Fernando Henrique Cardoso, do qual ele também fez parte, priorizou a taxa de juros alta para valorizar o real. “Mas era uma ferramenta para durar seis meses. Só que deu popularidade ao governo e esse modelo foi copiado pelos outros [presidentes].”

De acordo com ele, a política de câmbio no seu governo vai achar um equilíbrio, não para ser desvalorizado. “A taxa de câmbio virou ferramenta de demagogia.”

Questionado sobre qual será o seu programa de governo em relação às mudanças climáticas e sustentabilidade, Ciro disse que o agronegócio brasileiro está despejando bilhões de reais na campanha de Bolsonaro e é preciso entender os motivos desse movimento. “Precisamos nos reconciliar com a população local [da região amazônica] com o zoneamento econômico e ecológico.” É preciso recuperar solos e diversificar o perfil econômico, por meio de um programa validado entre técnicos e população local.

Questionado no painel se terá um discurso “paz e amor” e se quer ser visto como “bélico, cáustico e ressentido”, Ciro Gomes disse que não vai mudar seu temperamento. “Sou mais experiente e mais vivido [entre muitos políticos atuais]. Esse é meu currículo. Fui deputado, prefeito, governador e ministro. [Quando estava] com poder na mão, não cometi nenhuma arbitrariedade.”

O pré-candidato do PDT também se diz em constante transformação em relação ao discurso machista – em 2002, Ciro foi muito criticado por ter falado que a importância de sua então companheira [a atriz Patrícia Pilar] em sua campanha resumia-se ao fato de que eles dormiam junto. “Eu sou uma pessoa que foi criada num patriarcado brasileiro. E estou em processo permanente e humilde de aprendizagem. Não reproduzo mais falas machistas.”

Durante a sabatina, Ciro Gomes também não poupou críticas ao ex-juiz Sergio Moro, que participou no sábado de um dos debates do Brazil Conference, e ao ex-presidente Lula. Ciro acredita que a fala de Lula em defesa ao aborto na semana foi “estapafúrdia”, uma vez que a discussão do tema é mais complexa. Para ele, as discussões de pautas de costumes é munição aos discursos conservadores de Bolsonaro. “Eu não caio nessa.”

Já em relação a Moro, Ciro definiu-o como “inimigo da República”. Disse que se estivesse participando do mesmo painel no sábado, teria rebatido o ex-ministro da Justiça. Para o pré-candidato, Moro usou sua magistratura como ferramenta de perseguição, ajudou a eleger Bolsonaro e depois foi trabalhar em uma empresa [ Alvarez & Marsal ] que administrava a massa falida de boa parte das empreiteiras condenadas pela Lava-Jato.

Valor Econômico