Cofres do governo fazem partido de Bolsonaro virar o maior da Câmara
Foto: Cristiano Mariz/O Globo
A janela de filiações e trocas de partido, finalizada no sábado à noite, reorganizou as forças de direita e centro-direita nos maiores partidos da Câmara dos Deputados. Enquanto nanicos como o PTB caíram de 10 para 3 deputados e o Pros, de 10 para 4, o PL do presidente Jair Bolsonaro chegou a 78 deputados federais, segundo levantamento do Valor ontem. É o maior partido da Casa desde o primeiro governo Dilma, quando o PT tinha 87 deputados.
O troca-troca foi intenso e alcançou 159 deputados titulares, quase um terço da Câmara. Há quatro anos, a janela que permite aos deputados trocarem de partido sem perder o mandato foi bem menos movimentada e mobilizou 95 parlamentares. Desta vez, três fatores influenciaram a infidelidade maior: o fim das coligações, que impediu alianças entre os partidos nas eleições para deputado; a filiação de Bolsonaro ao PL; e a fusão entre DEM e PSL, que resultou no União Brasil.
Presidido por Valdemar Costa Neto, o PL elegeu 33 deputados, mas antes mesmo da janela já tinha 43 parlamentares devido a trocas no meio do mandato. Ao fim da janela, tinha perdido 13 deputados que discordavam do projeto presidencial da sigla, mas recebido outros 48 que pretendem apoiar o presidente.
Na visão de líderes partidários, o crescimento se deveu à aposta na capacidade do atual chefe do Executivo de puxar votos na eleição para deputado e pela reaglutinação de seus aliados. Do antigo PSL, partido pelo qual ele foi eleito, saíram 25 deputados. Os outros estavam espalhados por diversas siglas, inclusive as de esquerda, como PDT (2) e PSB (3).
Já o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas de intenção de voto para à Presidência, ficou praticamente estável. Os petistas tinham 54 deputados e ficarão com 55. Na janela, a sigla recebeu a filiação de dois titulares e perdeu um, a deputada Marília Arraes, que disputará o governo de Pernambuco pelo Solidariedade. Pesou nisso a federação com o PCdoB, que permitiu uma aliança em todos os Estados e evitou uma debandada do aliado.
Os partidos de esquerda, de modo geral, encolheram com a transferência de deputados que já votavam com o governo para os partidos de fato governistas e com a busca de chapas mais competitivas. O PV perdeu seus quatro deputados, mas ganhou outros quatro. O PSB caiu de 32 para 23 parlamentares e o PDT, de 25 para 18. A esquerda passou de 133 deputados para 118.
O resto foram reorganizações dentro dos partidos de direita e centro-direita, muitas delas em função do fim das coligações ou por arranjos regionais entre governadores e oposição. Os números exatos ainda vão variar ao longo das próximas semanas porque há suplentes no exercício do mandato, parte de acordos para aumentar a visibilidade deles para as eleições, e porque nem todos os que estavam licenciados como secretários estaduais reassumiram ainda na Câmara.
O cenário geral, contudo, é do PL liderando como maior bancada. O posto de segundo maior da Casa está entre PT (55), União (54) e o PP do presidente da Câmara, Arthur Lira, com 54. Num terceiro pelotão estão PSD (46), Republicanos (41) e MDB (39). O PSDB, que se digladia internamente para decidir quem será seu candidato à Presidência, perdeu 11 deputados e filiou apenas três. PL, PP e Republicanos são as siglas que esperam dar sustentação à reeleição de Bolsonaro. Nanicos, PTB, PSC e Pros também reúnem diversos aliados dele.
O Podemos foi abandonado pelo ex-juiz Sergio Moro às vésperas do prazo final de filiações, que trocou a candidatura presidencial pelo partido por uma tentativa incerta de se viabilizar pelo União. A sigla tinha dez deputados e fechou a janela com oito sob risco de não superar a cláusula de desempenho e ficar sem recursos do fundo partidário e sem propaganda na TV.
O crescimento de alguns partidos e redução de outros deve causar uma nova disputa dentro da Câmara este mês: a divisão das comissões. União e PL querem o comando da principal, a Comissão de Constituição e Justiça.