Com menos votos que Moro e Doria, Leite não desiste
Foto: Gabriel Haesbaert/iShoot/Agência O Globo
Mesmo com a decisão do ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB), de renunciar ao governo e manter a pré-candidatura à Presidência da República, o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite continua as articulações para se viabilizar como o nome do PSDB e do bloco de aliados, formado por MDB, União Brasil e Cidadania, para a sucessão presidencial.
Ontem Leite transmitiu o cargo ao vice-governador Ranolfo Vieira Júnior (PSDB), que buscará a reeleição. A partir de então, ele se dividirá entre Porto Alegre e São Paulo, onde montará um “QG” a fim de tentar esvaziar o apoio interno da ala paulista a Doria, e estreitar pontes com o PIB nacional.
Leite também fará incursões à capital federal – já na próxima semana ele desembarca em Brasília – para articulações políticas. Em paralelo, começará a rodar o país para se tornar mais conhecido.
Nos bastidores, já está em curso o embate entre Doria e Leite por quem terá mais espaço nas inserções nacionais do PSDB, principal vitrine do partido, no rádio e na televisão. Os comerciais de 30 segundos serão veiculados entre os dias 26 de abril e 10 de maio.
Como até o presidente do PSDB, Bruno Araújo, assinou a carta fazendo um apelo para que Leite não migrasse para o PSD, a expectativa é que o gaúcho também seja valorizado na propaganda partidária, embora Doria seja tratado como o postulante oficial da sigla, vencedor das prévias internas.
Uma fonte da direção nacional explica que Doria terá cerca de dois meses para mostrar desempenho nas pesquisas, mas o fará com Leite em seu encalço.
Após esse prazo, no começo de junho, as quatro siglas que pretendem caminhar juntas no pleito de outubro vão tentar se unir em torno de um único nome, o que se mostrar mais viável para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A senadora Simone Tebet disputa a vaga de presidenciável do bloco pelo MDB.
Uma dúvida é quem herdará a maioria dos cerca de 7% de intenção de votos atribuídos ao ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) nas últimas sondagens. Ontem a direção de sua nova sigla anunciou que Moro vai postular a uma vaga de deputado federal.
O critério para a escolha do presidenciável do bloco PSDB-MDB-União-Cidadania não será exclusivamente o melhor desempenho nas pesquisas. Será considerada, igualmente, a menor rejeição, e a maior capacidade de agregar aliados.
Segundo o entorno do gaúcho, lideranças dos demais partidos do bloco já deram demonstrações de simpatia pelo seu nome. Um argumento para sustentar essa tese é de que o grupo entrou em campo para evitar a saída do ex-governador do Rio Grande do Sul do PSDB, e até mesmo aliados de Doria, que integram a direção nacional, endossaram a carta.
No fim do dia, depois de deixar o governo gaúcho, Leite respondeu a críticas feitas por Doria em São Paulo. “Eu não tenho nenhum movimento de deslegitimação das prévias. Sempre disse, as prévias têm legitimidade. Isso não muda absolutamente nada. Os episódios que aconteceram hoje [ontem], as especulações feitas não mudam absolutamente nada”, disse, em referência à sinalização de Doria de que poderia desistir.
Segundo Leite, Doria “falou um mês atrás que está pronto para lá adiante abrir mão em direção a um candidato com capacidade de convergência”.
“Se a sua candidatura for aquela que reunir as forças políticas para fazer frente a polarização que o Brasil tem, eu serei um aliado para ajudar nisso, estarei ao lado dele”, disse o gaúcho.
Sobre fala de Doria alertando para um possível golpe interno Leite foi enfático. “Acho que não tem nenhum cabimento o que ele está falando. Talvez passe por uma situação especial de debate sobre alternativas, tenha suas outras motivações”, disse.